Hoje
e amanhã, segundo uma tradição antiquíssima, a Igreja não celebra a Eucaristia.
O altar deve estar totalmente despido: sem cruz, sem candelabros, sem toalhas. Na
tarde deste dia, por volta das três horas (a não ser que razões de ordem
pastoral aconselhem outra hora mais tardia), faz-se a celebração da Paixão do
Senhor, que consta de três partes: liturgia da palavra, adoração da cruz e
sagrada comunhão.
Neste dia, a sagrada comunhão só pode ser
distribuída aos fiéis dentro da celebração da Paixão do Senhor. Aos doentes que
não podem tomar parte nesta celebração pode levar-se a comunhão a qualquer
hora. O sacerdote e os ministros sagrados, revestidos de paramentos vermelhos
como para a Missa, dirigem-se ao altar e, feita a devida reverência,
prostram-se de rosto por terra, ou, se parecer mais conveniente, põem-se de
joelhos; e todos oram em silêncio durante um breve espaço de tempo.
Que profundo e respeitoso silêncio! Não
iniciamos, nem terminaremos com um cântico. Todos, sacerdote, ministros e
assembleia, todos oram em silêncio, durante um breve espaço de tempo. Vamos
contemplar o nosso Salvador, que voluntariamente se entrega à morte para nos
dar a vida com abundância. Os quatro desenvolvidos relatos da Paixão do Senhor
que nos propõem todos os quatro evangelistas não são um mero relato. Têm um quê
de reflexão e meditação sobre tão assombrosos acontecimentos, à luz do Antigo
Testamento. Também nós não devemos passar apressadamente os olhos por estas
páginas, mas meditá-las, metermo-nos dentro destas cenas e renovar frequentemente
a sua lembrança: quem sofre, quanto sofre, para que sofre e porque sofre, por
quem sofre?
Esta meditação tem feito muito santos ao
longo de todos os tempos, pois não pode deixar ninguém indiferente: um tão
grande amor só com amor se paga (sic nos amantem quis non redamaret?). É neste
relato onde o paralelismo com os Sinópticos é maior, embora apareçam muitos
pormenores específicos e sobretudo uma profunda visão teológica muito própria
que põe em relevo a serena majestade de Jesus que caminha livremente para a
Cruz como para um trono de glória e uma fonte de vida para os seus; mesmo
quando é esbofeteado e feito rei de comédia, aparece com toda a dignidade real
que Lhe compete; assim, João evita descrever a agonia, embora a não ignore (cf.
v. 11; 12, 27-28).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Você pode deixar seu comentário ou sua pergunta. O respeito e a reverência serão sempre bem vindas.