Algum de vós dirá: “Não sou capaz
de amar os meus inimigos”. Deus não cessa de te dizer nas Escrituras que és
capaz, e tu respondes-Lhe dizendo que não és? Reflete comigo: em quem devemos
acreditar, em Deus ou em ti? Uma vez que Aquele que é a própria Verdade não
pode mentir, que a fraqueza humana abandone desde agora as suas desculpas
fúteis. Aquele que é justo não pode ordenar coisas impossíveis, nem Aquele que
é misericordioso condenará um homem por algo que este não era capaz de
evitar.
Nesse caso, a que se devem as nossas
hesitações? Ninguém sabe melhor aquilo de que somos capazes do que Aquele que
nos tornou capazes. Há tantos homens, tantas mulheres e crianças, tantas jovens
delicadas que por amor de Cristo suportaram as chamas, o fogo, o gládio e os
animais selvagens de forma imperturbável, e nós dizemos que não somos capazes
de suportar insultos de gente estúpida?
Com efeito, se só tivéssemos de amar os bons,
que haveríamos de dizer do comportamento do nosso Deus, sobre quem está
escrito: “De tal modo amou Deus o mundo que lhe deu o seu Filho unigênito”? (Jo
3,16) Pois que bem tinha o mundo feito para que Deus assim o amasse? Cristo
nosso Senhor veio encontrar todos os homens, não somente maus, mas mortos por
causa do pecado original; e, contudo, “amou-nos e entregou-Se a Si mesmo por
nós” (Ef 5,2). Deste modo, amou também aqueles que não O amavam, como
observa o apóstolo Paulo: “Cristo morreu pelos culpados” (Rm 5,6); e, na sua
misericórdia inexprimível, deu este exemplo a todo o gênero humano, dizendo: “Aprendei
de Mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29).
São Cesário de Arles in “Sermões
ao povo, n° 37; SC 243”
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