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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Missa de costas para o povo? Quê isso?


  Ontem o Papa Francisco celebrou a Missa "versus Deum" e levantou-se, novamente, a questão da Missa "ad orientem". Os que se lembram da “Missa antiga” ou os que participam ainda dela, a Missa tridentina ou gregoriana, sabem que o sacerdote está voltado para o sacrário ou para a cruz, ou ainda para o retábulo do altar-mor. Mal interpretando, dizia-se (e ainda alguns insistem em dizer) que o padre celebrava “de costas para o povo”. A verdade é que o padre celebrava “de frente para Deus” e, junto do povo, como um capitão, guiava a nau da Igreja rumo ao mistério do céu; juntos, na mesma direção, pastor e ovelhas se colocavam em marcha para o Senhor.

  Após o Concílio Vaticano II, interpretou-se (sem bases específicas) que a “Missa Nova” deveria ser sempre “versus populum” (voltada para o povo) e não mais “versus Deum” (voltada para Deus). Entretanto no Missal de 1970, com o Novus Ordo, não se modificou a direção do sacerdote celebrante. Os documentos recentes da Sagrada Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, bem como o próprio Papa emérito Bento XVI, à época Cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, em entrevista por ocasião do lançamento de seu livro “O espírito da liturgia”, atestam a tradição da Missa versus Deum. Nas próprias rubricas do Missal Romano de Paulo VI encontramos as informações que confirmam tal ensino: o sacerdote deve, segundo tais textos, durante a Liturgia Eucarística, “voltar-se para o povo” durante alguns atos; isto significa que, se deve voltar-se ao povo, é porque antes estava voltado “ad Orientem”. Esta expressão, “ad Orientem”, é muito importante, porque não só o sacerdote se voltava para Deus, mas para Deus que nasceu no oriente; essa razão teológica fez com que todas as primeiras Igrejas Católicas fossem construídas voltadas para o oriente.

  A posição “ad Orientem” ou “versus Deum” nunca foi expressamente proibida por algum decreto, nem esse foi o desejo dos Padres do Concílio Vaticano II. Pelo contrário, essa é a forma histórica de oferecimento da Missa, observada inclusive pelos ritos orientais até hoje. Mesmo assim, ainda que a norma seja a manutenção da direção do sacerdote ad Orientem, foi permitida pela reforma litúrgica a posição versus populum, atrás do altar, forma, aliás, que se disseminou mundialmente, tornando-se bastante popular, por força da Instrução Geral do Missal Romano que propunha tal forma.

  Uma nota publicada, em 1993, pela Sagrada Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos , em seu boletim Notitiae, reafirmou o valor de ambas as opções: celebração versus populum ou versus Deum, de modo que quaisquer dúvidas deveriam ser dissipadas. No entanto, ainda há choque por meio tanto de padres como de fiéis leigos o fato de ainda se celebrar “versus Deum”, “ad orientem”. Assim como também há fiéis e padres que acreditam piamente que o Concílio Vaticano II aboliu o uso do latim na Liturgia. É triste saber que padres e grupos católicos são criticados e mal falados por seguirem o correto, o que a Igreja ensinou e pediu.

  Alguém poderia perguntar: “Há valor em se celebrar dessa forma? Os fiéis leigos não se sentirão ‘rejeitados’ pelo padre que não olha para eles?” Os motivos da celebração “versus Deum”, “ad Orientem” são, sobretudo:

- Um olhar voltado para Deus; a primazia do sagrado. Não pode haver distrações: povo e sacerdote se unem para caminharem para o Senhor. Não olhamos uns para os outros, mas olhamos todos para Deus. Por isso, nas Igrejas mais antigas havia aquele cuidado e zelo pelo altar principal, pelo retábulo. Arte e devoção se uniam para fazer daquele espaço um lugar incomum, sagrado, simbólico, reverente e todo consagrado para a adoração. E hoje, como estão nossos altares? Vazios e sem beleza; apenas uma mesa comum, lugar tantas vezes profanado;

- O sinal do sacerdote como sendo o próprio Cristo que, à frente do seu povo e com seu povo, se oferta a Deus como oblação agradável. Não estamos numa mera reunião “em torno à mesa”, estamos diante do Senhor; o padre está, na verdade, à sua frente, como líder, como aquele que, em nome da humanidade, mostra-se diante de Deus, e, agindo Cristo por Ele, oferece um sacrifício. Virando-se para os fiéis nos momentos oportunos, é o representante de Deus que nos dá a bênção;

- União com a tradição litúrgica da Igreja. Há coisas que podem ser passíveis de mudança, porque não afetarão a fé dos fiéis nem atacarão a sã doutrina. No entanto, há outras que devem ser mantidas porque exprimem valores, história e uma teologia profunda de há séculos. “Lex orandi, lex credendi” – “A lei de crer é a mesma do orar”, isto é, pela forma com que rezamos, demonstramos nossa fé e esta fé se reproduz na oração que exprime o que cremos. Assim, a forma como celebramos a Missa e participamos dela, vai demonstrar como está nossa fé na Eucaristia, no Sublime, o que entendemos por adoração, piedade, reverência...;

- Acabamos com o protagonismo dos sacerdotes. Alguns setores progressistas da Igreja defendem apenas o uso da Missa voltada para o povo, alegando a Missa como “encontro de irmãos”, “ceia fraterna”. Estas interpretações estreitas põem o acento na figura do padre como “animador” da Celebração, “presidente” daquele momento. Visto assim, o padre se vê na obrigação de fazer de tudo para “prender a atenção” dos fiéis, desde de cantar e dançar até contar piadas e fazer outros malabarismos; a Missa tornou-se um “show”, um “espetáculo”, onde o padre “precisa ter unção”, “precisa ser animado”, “carismático”. A Missa de frente para Deus é sóbria, não favorece o antropocentrismo, a evidência do padre, mas do sagrado, de Deus. A face do padre está na maior parte dessa Missa escondida, porque não este ou aquele padre que é importante por seus dons ou seu rosto, mas o Cristo nele, o sacerdócio dele.

  Falamos da licitude da Missa “ad orientem” e dos bons frutos que ela traz, mas, evidentemente, a Missa voltada para o povo, se celebrada dignamente, com reverência e centrada em Deus, nos dá os mesmos frutos. Quando nós, padres, celebramos “versus populum” devemos sempre lembrar que, espiritualmente, estamos “voltados para Deus”. Uma regra simples e que muito ajuda o sacerdote nesta lembrança é por o crucifixo no meio do altar. A cruz centrada, ou “Missa orientada” vai sempre lembrar ao padre que ele está de frente para Deus, por Jesus Cristo crucificado. O padre lembrará que oferece um sacrifício, o de Cristo na cruz, sem derramamento de sangue.

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