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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Monsenhor: bode expiatório do carreirismo


  A decisão do Papa Francisco de reduzir os três títulos eclesiásticos honoríficos do “monsenhorato” a apenas um e só a padres de 65 anos de idade ou mais, coloca-se na mesma linha de ulterior simplificação iniciada por Paulo VI. Em Paulo VI, a motivação era reduzir os “tipos” de monsenhor para não causar inconvenientes ou díspares interpretações; em momento algum houve a intenção de abolir o título de monsenhor ou de tolher as autoridades episcopais na escolha deste ou daquele sacerdote para tal título. Agora parece ser diferente. O Papa Francisco não apenas abole duas formas de monsenhorato, como também restringe a sua recepção drasticamente; a extinção dos títulos de Prelado de Honra e Protonotário Apostólico, restando apenas o de Capelão de Sua Santidade, causou frisson nos meios eclesiásticos pela provável motivação do Papa Francisco: diz-se que deseja dar um golpe no chamado “carreirismo” na Igreja.

  O problema é que abolir este ou aquele título não elimina o carreirismo. Este não está no título, mas em honras (sem merecimentos), posições (sem formações) e cargos (por políticas internas, conchavos ou amizades). Abolir títulos para quê? Para ensinar o quê? O carreirismo está nas motivações, não no título. Isso é um absurdo! É pensar de forma linear, arrastando bons monsenhores para a sombra da “busca de poder e de fama”. E se, pensando assim, acabarem com os títulos de cardeal, arcebispo, núncio, prelado, comissário...? A Igreja vai ficar menos bonita, menos organizada, menos tradicional, menos histórica. Todos esses títulos fazem parte da História da Igreja e de seu processo de estruturação.

  Será que realmente era importante fazer esta mudança? Quantas mudanças parecem ser mais necessárias à Igreja, principalmente no que tange ao seu patrimônio de fé, de culto, de valores a serem resgatados, pois perdem-se pouco a pouco. O que vejo, através da história recente da Igreja, é uma perda lastimável de seus grandes focos, importantes focos. Tornar a Igreja rasa, horizontal, não vai fazer tantos cristãos se elevarem a Deus. Quem tem fé, a manterá por seus valores; quem não a tem, vai apenas aplaudir a Igreja por parecer cada vez mais com a sociedade civil, mas não entrará para Igreja.

  A verdade é que com ou sem o título de monsenhor, sempre haverá cardeais, bispos, padres e seminaristas carreiristas. A transformação deve ser interior; é preciso de conversão dentro e fora da Igreja. É preciso discernir as intenções e agradecer os que fazem um bom trabalho por amor ao Reino, dando ou não algum bônus e é preciso punir os sem caráter, os espertalhões, os que sempre têm segundas intenções. Sem isso, todas as alterações e supressões formais não passarão de boas intenções fadadas ao fracasso.

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