Antes
que possamos esperar frutos eficazes e duradouros da nova evangelização, é
preciso, primeiro, que se instaure no interior da Igreja um processo de
conversão. Como podemos nós fazer apelo aos outros para que se convertam,
enquanto, entre os apelantes, ainda não se viu uma conversão para Deus
convincente, já que na liturgia eles ainda não se voltaram suficientemente para
Deus, tanto interior como exteriormente. Celebra-se o sacrifício da missa, o
sacrifício da adoração de Cristo, o maior dos mistérios da fé, o ato de
adoração mais sublime, num círculo fechado enquanto as pessoas olham umas para
as outras.
Falta, mesmo exterior e fisicamente, a
necessária “conversio ad Dominum” (conversão ao Senhor). Isto porque durante a
liturgia se trata Cristo como se ele não fosse Deus, e não se lhe manifesta
claros sinais exteriores daquela adoração que é devida só a Deus, o que se vê
no fato de os fiéis receberem a sagrada comunhão de pé, e, mais ainda,
tomando-a com as próprias mãos como se fosse um alimento ordinário, agarrando-a
com os próprios dedos e metendo-a por si mesmos na própria boca. Há nisto o
risco de uma espécie de arianismo ou de semi-arianismo eucarístico.
Uma das condições necessárias para uma nova
evangelização frutuosa seria o seguinte testemunho por parte de toda a Igreja
no âmbito do culto litúrgico público, observando pelo menos estes dois aspetos
do culto divino:
1)
Que por toda a terra, a Santa Missa seja celebrada, mesmo na forma ordinária,
em “conversio ad Dominum”, interiormente e também, necessariamente,
exteriormente.
2)
Que os fiéis dobrem o joelho diante de Cristo no momento da sagrada comunhão,
como pede São Paulo quando se evoca o nome e a pessoa de Cristo (cf. Fl. 2,
10), e que eles O recebam com o maior amor e respeito que for possível, como
Lhe convém enquanto verdadeiro Deus.
Com duas medidas concretas, o Papa emérito Bento
XVI encetou, Deus seja louvado, o processo de regresso do exílio litúrgico de
Avinhão, isto é, com o Motu proprio Summorum pontificum e com a reintrodução do
rito da comunhão tradicional. São ainda necessárias muitas orações e, talvez,
uma nova Santa Catarina de Siena, para que os outros passos se sigam, de
maneira a que sejam curadas as cinco chagas abertas sobre o corpo litúrgico e
místico da Igreja e para que Deus seja venerado na liturgia com aquele amor,
aquele respeito e aquele sentido do sublime que sempre foram a marca da Igreja
e dos seus ensinamentos, nomeadamente através do Concílio de Trento, do Papa
Pio XII na sua Encíclica Mediator Dei, do Concílio Vaticano II na sua
constituição Sacrosanctum Concilium, e do Papa Bento XVI na sua teologia
da liturgia, no seu magistério litúrgico prático e no Motu proprio já citado.
Ninguém pode evangelizar se antes não tiver
adorado, ou até mesmo se não adora permanentemente e não dá a Deus, o Cristo
Eucaristia, a verdadeira prioridade no modo de celebrar e em toda a sua vida.
Na verdade, para retomar as palavras do Cardeal Joseph Ratzinger: “É na maneira
de tratar a liturgia que se decide a sorte da Fé e da Igreja”.
Dom
Athanasius Schneider
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