A influência do meio
em que vivemos
É verdade inquestionável de que todos somos
influenciados pela sociedade, pelo meio em que estamos ou pelos grupos em que
estamos integrados. Também os membros da Igreja não escapam a este princípio,
assim como não escapam à influência e aos valores, ou pseudo valores, que são
transmitidos pelos meios de comunicação. Estamos “contagiados” por estes
valores, que em muitos casos se opõem e entram em conflito com os valores
evangélicos, provocando uma espécie de esquizofrenia espiritual, ou síndrome
bipolar; alguns tendem a ser algo num ambiente e outro noutro lugar. Nada mais
danoso para um cristão, uma alma, o fato de perder sua autenticidade e se
transformar numa amálgama vazia, adaptável ao gosto pessoal.
A velocidade
Entre os valores em que mais nos vemos
subjugados, encontra-se a velocidade. Vivemos na era da velocidade, em que
qualquer atraso nos desespera. Tudo se mede pelo segundo, ou centésimo de
segundo, pela velocidade dos impulsos. Desejamos a velocidade da luz. E contudo,
a natureza mostra-nos que o tempo é um bem não só precioso como necessário.
Necessitamos tempo para crescer, para amadurecer, para dar uma outra qualidade
à vida e ao que fazemos. Ao tempo, como valor, associa-se a paciência, uma
virtude tão pouco cultivada como apreciada. Perde-se tempo em coisas vãs e
diminui-se o tempo necessário às coisas mais elevadas.
A facilidade
Associada à velocidade anda a facilidade, o
pouco cuidado, uma vez que é necessário responder rapidamente e, portanto, não
se pode perder tempo a cuidar, a aprimorar o que fazemos. Importa mais o já
feito que o bem feito, o mais fácil. Neste sentido seria interessante
perguntar-nos se alguma da nossa frustração, da nossa insatisfação face ao
trabalho realizado não deriva desta facilidade, do cuidado da beleza e da
bondade que nos moldam, mas aos quais não nos deixam dedicar o tempo necessário.
É certo que a modernidade nos ajudou em muitas coisas e isso é bom, mas a
preguiça, a indolência, a tibieza não são boas. Quando se perde o sentido de
sacrifício, de doação, de esforço pessoal, empenho, perde-se muito na via
espiritual.
A Novidade
Andamos todos ávidos de novidade, como se o
último modelo do que quer que seja nos trouxesse a felicidade. E depois
verificamos que continuamos no mesmo lugar, do mesmo modo; não foi o último
modelo que nos fez ser mais felizes permanentemente. A novidade que devemos
procurar é afinal a oferta de cada dia e das suas realizações, é o hoje que é
de Deus que vem ao meu encontro; se não busco o Senhor, que faz novas todas as
coisas, então já me entreguei à velhice, à caducidade do mundo.
O melhor
O desejo de ser o melhor, o maior, é uma
tentação que nos pode arrastar e devorar. É verdade que não podemos deixar de
aspirar ao melhor, à plenitude que podemos alcançar ou realizar. Contudo, não
podemos deixar-nos escravizar por esse desejo, ele deve ser alimentado de forma
equilibrada, reconhecendo e aceitando que há limites, que há fragilidades. A
plenitude pode ser alcançada pela fórmula de São Paulo, ou seja, quando sou
fraco então é que sou forte, nas debilidades descubro as minhas forças, e pelo
serviço discreto que se orienta pelo bem do outro, pelo melhor do outro.
Devemos buscar o melhor de nós mesmos não por vaidade ou orgulho, mas porque
queremos ser conformes à imagem e semelhança Daquele que nos criou.
A atividade
A
atividade constante que nos é exigida hoje leva inevitavelmente ao ativismo, a
uma espécie de febre que não nos deixa tranquilos, sossegados, que exige mais atividade
como compensação satisfatória. Este ativismo pode encontrar-se no pensar, no
sentir e no agir, gerando consequentemente a neurose, a ansiedade e o
esgotamento com que tantas vezes nos vemos confrontados. Face a isto, importa
perguntar, se eu tenho que fazer tudo, e tudo ao mesmo tempo. Importa perguntar
se ainda que necessário, é imprescindível. Meu tempo deve ser bem distribuído
com Deus, com os outros e comigo mesmo.
Adaptação
do texto do Frei José Carlos Lopes Almeida, OP
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