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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Sobre a necessidade de esclarecer e afirmar alguns valores


A influência do meio em que vivemos

  É verdade inquestionável de que todos somos influenciados pela sociedade, pelo meio em que estamos ou pelos grupos em que estamos integrados. Também os membros da Igreja não escapam a este princípio, assim como não escapam à influência e aos valores, ou pseudo valores, que são transmitidos pelos meios de comunicação. Estamos “contagiados” por estes valores, que em muitos casos se opõem e entram em conflito com os valores evangélicos, provocando uma espécie de esquizofrenia espiritual, ou síndrome bipolar; alguns tendem a ser algo num ambiente e outro noutro lugar. Nada mais danoso para um cristão, uma alma, o fato de perder sua autenticidade e se transformar numa amálgama vazia, adaptável ao gosto pessoal.

A velocidade

  Entre os valores em que mais nos vemos subjugados, encontra-se a velocidade. Vivemos na era da velocidade, em que qualquer atraso nos desespera. Tudo se mede pelo segundo, ou centésimo de segundo, pela velocidade dos impulsos. Desejamos a velocidade da luz. E contudo, a natureza mostra-nos que o tempo é um bem não só precioso como necessário. Necessitamos tempo para crescer, para amadurecer, para dar uma outra qualidade à vida e ao que fazemos. Ao tempo, como valor, associa-se a paciência, uma virtude tão pouco cultivada como apreciada. Perde-se tempo em coisas vãs e diminui-se o tempo necessário às coisas mais elevadas.

A facilidade

  Associada à velocidade anda a facilidade, o pouco cuidado, uma vez que é necessário responder rapidamente e, portanto, não se pode perder tempo a cuidar, a aprimorar o que fazemos. Importa mais o já feito que o bem feito, o mais fácil. Neste sentido seria interessante perguntar-nos se alguma da nossa frustração, da nossa insatisfação face ao trabalho realizado não deriva desta facilidade, do cuidado da beleza e da bondade que nos moldam, mas aos quais não nos deixam dedicar o tempo necessário. É certo que a modernidade nos ajudou em muitas coisas e isso é bom, mas a preguiça, a indolência, a tibieza não são boas. Quando se perde o sentido de sacrifício, de doação, de esforço pessoal, empenho, perde-se muito na via espiritual.

A Novidade

  Andamos todos ávidos de novidade, como se o último modelo do que quer que seja nos trouxesse a felicidade. E depois verificamos que continuamos no mesmo lugar, do mesmo modo; não foi o último modelo que nos fez ser mais felizes permanentemente. A novidade que devemos procurar é afinal a oferta de cada dia e das suas realizações, é o hoje que é de Deus que vem ao meu encontro; se não busco o Senhor, que faz novas todas as coisas, então já me entreguei à velhice, à caducidade do mundo.

O melhor

  O desejo de ser o melhor, o maior, é uma tentação que nos pode arrastar e devorar. É verdade que não podemos deixar de aspirar ao melhor, à plenitude que podemos alcançar ou realizar. Contudo, não podemos deixar-nos escravizar por esse desejo, ele deve ser alimentado de forma equilibrada, reconhecendo e aceitando que há limites, que há fragilidades. A plenitude pode ser alcançada pela fórmula de São Paulo, ou seja, quando sou fraco então é que sou forte, nas debilidades descubro as minhas forças, e pelo serviço discreto que se orienta pelo bem do outro, pelo melhor do outro. Devemos buscar o melhor de nós mesmos não por vaidade ou orgulho, mas porque queremos ser conformes à imagem e semelhança Daquele que nos criou.

A atividade

A atividade constante que nos é exigida hoje leva inevitavelmente ao ativismo, a uma espécie de febre que não nos deixa tranquilos, sossegados, que exige mais atividade como compensação satisfatória. Este ativismo pode encontrar-se no pensar, no sentir e no agir, gerando consequentemente a neurose, a ansiedade e o esgotamento com que tantas vezes nos vemos confrontados. Face a isto, importa perguntar, se eu tenho que fazer tudo, e tudo ao mesmo tempo. Importa perguntar se ainda que necessário, é imprescindível. Meu tempo deve ser bem distribuído com Deus, com os outros e comigo mesmo.


Adaptação do texto do Frei José Carlos Lopes Almeida, OP

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