Toda a nossa santificação
consiste em conhecer Cristo e imitar Cristo. Todo o evangelho e todos os santos
estão cheios deste ideal, que é o ideal cristão por excelência. Viver em
Cristo; transformar-se em Cristo… São Paulo: “Pois não quis saber outra coisa
entre vós a não ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo Crucificado” (1Cor 2,2)… “Eu
vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20)… A
tarefa de todos os santos é realizar na medida das suas forças, segundo a
doação da graça, diferente em cada um, o ideal paulino de viver a graça de
Cristo. Imitar Cristo, meditar a sua vida, conhecer os seus exemplos… O mais
popular livro da Igreja, depois do Evangelho, é o da “imitação de Cristo”, mas,
de quantas diferentes maneiras compreendeu-se a imitação de Cristo!
1. Para uns, a imitação de
Cristo reduz-se a um estudo histórico de Jesus. Vão buscar o Cristo histórico e
ficam nele. Estudam-no. Lêem o Evangelho, investigam a cronologia, informam-se
dos costumes do povo judeu… E seu estudo, mais bem científico que espiritual, é
frio e inerte. A imitação de Cristo para eles reduzia-se a uma cópia literal da
vida de Cristo. Mas não é isto. Não: “O espírito vivifica; a letra mata” (2Cor
3,6).
2. Para outros, a imitação
de Cristo é mais bem um assunto especulativo. Vêem em Jesus como o grande
legislador; quem soluciona todos os problemas humanos, o sociólogo por
excelência; o artista que se compraz na natureza, que se recreia com os
pequeninos… Para alguns é um artista, um filósofo, um reformador, um sociólogo,
e eles o contemplam, o admiram, mas não mudam a sua vida diante dele. Cristo
permanece só na sua inteligência e na sua sensibilidade, mas não transcendeu a
sua mesma vida.
3. Outro grupo de pessoas
crêem de imitar Cristo preocupando-se, no extremo oposto, unicamente da
observância dos seus mandamentos, sendo fiéis observadores das leis divinas e
eclesiásticas. Escrupulosos na prática dos jejuns e abstinências. Contemplam a
vida de Cristo como um prolongado dever, e nossa vida como um dever que
prolonga o de Cristo. Às leis dadas por Cristo eles agregam outras, para
completar os silêncios, de modo que toda a vida é um caminho dever, um
regulamento de perfeição, desconhecedor em absoluto da liberdade de espírito.
O foco da sua atenção não é
Cristo, mas o pecado. O sacramento essencial na Igreja não é a Eucaristia, nem
o batismo, mas a confissão. A única preocupação é fugir do pecado. E imitar
Cristo para eles é fugir dos maus pensamentos, evitar todo perigo, limitar a
liberdade de todo mundo e suspeitar más intenções em qualquer acontecimento da
vida. Não; não é esta a imitação de Cristo que propomos. Esta poderia ser a
atitude dos fariseus, não a de Cristo.
4. Para outros, a imitação
de Cristo é um grande ativismo apostólico, uma multiplicação de esforços de
orientação de apostolado, um mover-se continuamente em criar obras e mais
obras, em multiplicar reuniões e associações. Alguns situam o triunfo do
catolicismo unicamente em atitudes políticas. Para outros, o essencial é uma
grande procissão de archotes, um encontro monstruoso, a fundação de um jornal…
E não digo que isto é mal, que isto não se deve fazer. Tudo é necessário, mas
não é isto o essencial do catolicismo.
II. Verdadeira solução
A nossa religião não
consiste, como em primeiro elemento, numa reconstrução do Cristo histórico; nem
em uma pura metafísica ou sociologia ou política; nem numa só luta fria e
estéril contra o pecado; nem primordialmente na atitude de conquista. A nossa
imitação de Cristo não consiste tampouco em fazer o que Cristo fez, a nossa
civilização e condições de vida são tão diferentes!
A nossa imitação de Cristo
consiste em viver a vida de Cristo, em ter essa atitude interior e exterior que
em tudo se conforma à de Cristo, em fazer o que Cristo faria se estivesse no
meu lugar. O primeiro necessário para imitar Cristo é assimilar-se a Ele pela
graça, que é a participação da vida divina. E daqui, antes de tudo, aprecia o
batismo, que introduz, e a Eucaristia que alimenta esta vida e que dá Cristo, e
se a perde, a penitência para recuperar esta vida…
E logo que possua essa vida,
procura atuá-la continuamente em todas as circunstâncias da sua vida pela
prática de todas as virtudes que Cristo praticou, em particular pela caridade,
a virtude mais amada por Cristo. A encarnação histórica necessariamente
restringiu Cristo e a sua vida divino-humana a um quadro limitado pelo tempo e
pelo espaço. A encarnação mística, que é o corpo de Cristo, a Igreja, tira essa
restrição e amplia-a a todos os tempos e espaços onde há um batizado. A vida
divina aparece em todo o mundo. O Cristo histórico foi judeu e viveu na
Palestina, no tempo do Império Romano. O Cristo místico é chileno do século XX,
alemão, francês e africano… É professor e comerciante, é engenheiro, advogado
ou operário, preso e monarca… É todo cristão que vive na graça de Deus e que
aspira a integrar a sua vida nas normas da vida de Cristo nas suas secretas
aspirações. E que aspira sempre a isto: a fazer o que faz, como Cristo o faria no
seu lugar. A ensinar a engenharia, como Cristo a ensinaria, o direito…, a fazer
uma operação com a delicadeza de Cristo…, a tratar os seus alunos com a força
suave, amorosa e respeitosa de Cristo, a interessar-se por eles como Cristo se
interessaria se estivem no seu lugar. A viajar como viajaria Cristo, a orar
como oraria Cristo, a comportar-se na política, na economia, na sua vida de lar
como comportar-se-ia Cristo. Isto supõe um conhecimento dos evangelhos e da
tradição da Igreja, uma luta contra o pecado, traz consigo uma metafísica, uma
estética, uma sociologia, um espírito ardente de conquista… Mas não se
compendia neles o primordial. Se humanamente fracassa, se o êxito não coroa o
seu apostolado, não por isso se impacienta. A única derrota consiste em deixar
de ser Cristo pela apostasia ou pelo pecado.
Este é o catolicismo de um
Francisco de Assis, Inácio, Xavier, e de tantos jovens e não jovens que vivem a
sua vida cotidiana de casados, de professores, de solteiros, de estudantes, de
religiosos, que participam no esporte e na política como esse critério de ser
Cristo. Estes são os faróis que convertem as almas, e que salvam as nações.
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