Testemunhar e anunciar a mensagem cristã, conformando-se com Jesus Cristo. Proclamar a misericórdia de Deus e suas maravilhas a todos os homens.

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domingo, 12 de maio de 2013

Homilia da Ascensão do Senhor



  Aquele que aceitou o sacrifício, que padeceu sofrimentos sem fim e que morreu por amor, hoje se eleva ao Céu; porque se fez Servo, o Pai elevou Jesus como Senhor de tudo e de todos. Nesta Solenidade da Ascensão do Senhor, festejamos a humildade da nossa natureza que foi exaltada em Jesus Cristo. A “saudade” que o Senhor teria de nós é logo dissipada, pois leva junto de Si, melhor, em Si, a nossa humanidade.

  O Senhor volta ao Pai, mas volta “diferente”; antes era o Verbo, agora é o Verbo que se fez carne. O Verbo encarnado que está na Trindade! A Ascensão do Senhor é a elevação da carne humana, nossa elevação. O que nos ajuda a compreender melhor este Mistério é a figura usada por São Paulo: “Cristo é a Cabeça, nós o seu Corpo”; a Cabeça foi ascendida, elevada e, como não há cabeça sem corpo, também nós ascendemos, nos elevamos com Cristo. Ele veio para junto de nós e não mais nos abandonará, estará conosco “até o fim dos tempos”.

  São Leão Magno, meditando sobre esta grande verdade, assim se expressou: “Sem a presença visível do seu Corpo, podiam compreender claramente, com os olhos do espírito, que aquele que ao descer à Terra não tinha deixado o Pai, também não abandonou os discípulos ao subir para o céu. Por isso é necessário crer, sem hesitação, naquilo que não se vê com os olhos do corpo, e fixar o desejo onde a vista não pode chegar”.

  Só teremos este sentimento de transpor a realidade presente, realidade de morte, de violência, de medo, de tristeza, se experimentarmos a realidade para além de nós anunciada por Cristo no dia de hoje; será necessário mais que falar, experimentar, no coração e na vida, a elevação espiritual querida e proposta por Jesus a nós. “Corações ao alto”, eis o convite do Senhor! “O nosso coração está em Deus”, eis a nossa ascensão! Todos somos convidados a nos elevar com Cristo: elevar nossos pensamentos, nossas palavras e nossas ações; como o Verbo, do Pai viemos (exitus) e para o Pai havemos de retornar (reditus).

  Esta também é a festa da Esperança! Esperança de um mundo melhor, renovado pelo Cristo, Soberano do Céu e da Terra; esperança de um homem melhor, elevado à estatura de Jesus; esperança de dias melhores, quando os cristãos deixarão de apenas contemplar o Senhor e suas Verdades e se disporão a dar no mundo testemunho de autêntico amor e de autêntica fé. “Ide a todo mundo e proclamai...”, disse Jesus. Proclamar o quê? A vida nova, o amor real, a espiritualidade concreta. Estamos aqui neste mundo para prepará-lo e a nós, para a vinda do Senhor. De que modo temos melhorado este mundo? Como temos demonstrado Cristo às pessoas? Como temos utilizado nossa vida e os dons que Deus nos deu?

  Para que esta esperança se concretize deveremos olhar pelos olhos da graça, um olhar sensível e espiritual que não se turva diante das contrariedades da vida, mas que vê adiante. Cecília Meireles em seu “Poema da Esperança” nos fala dessa realidade nova que só se pode ver com “olhos extintos”, isto é, com um “não-olhar”, puramente humano, extinto de pura materialidade, de pura conveniência, de pura felicidade terrena. Devemos ter um olhar que se alarga para o horizonte infinito e que nos faz sonhar e acreditar que se é possível! Vidas elevadas! Vidas dignas! Vidas santas! Deixemos a poeta falar e que seja nossa oração confiante e cheia de esperança:


“Lá, onde Tu moras,
Deve ser um país tão luminoso
Que, de olhos extintos,
Se pode ver...
Deve ser um país sem dias e sem noites...
Sem ontens e sem amanhãs...
País maravilhoso da Beleza perfeita,
Que só habitam
Almas extraordinárias
Lá, onde Tu moras,
Não há mais nada do que se sabe,
Nem do que se é...
Lá, onde Tu moras,
Dize que um dia me acolherás
Como um Bem-Amado à sua Bem-Amada...
Diz que chegarei, um dia,
Ao teu Reino
Porque eu estou mortalmente enfermo
Da tristeza e da penumbra
Daqui...
Eleito, ó Eleito,
Dize que me deixarás ficar
Lá, onde Tu moras,
Nesse país tão luminoso
Que, de olhos extintos,
Se pode ver...”

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