Um dos sentimentos mais
bonitos, fortes e eloquentes e, por vezes, mais dolorosos, é a saudade. A eloquência
da saudade está em, mesmo sendo silenciosa, grita o amor! Os Evangelhos do
final do Tempo Pascal evocam esta “saudade de Jesus”, a vontade de perpetuar
sua presença no meio de nós. “Eu virei a vós”, esta promessa do Senhor soa como
despedida e consolação; despedida porque
partirá, voltará à casa do Pai e consolação
porque não nos deixa órfãos, nos promete um Defensor, o Espírito Santo. Uma das
obras mais perfeitas daqueles que estão sob a ação do Espírito Santo é o amor e
se queremos conjugar a Palavra de Cristo com a nossa vida, isto só acontecerá pelo Espírito e pelo Amor.
São João já em sua Carta, belissimamente nos
ensinou, que o amor humano tem sua raiz em Deus: amamos porque Deus nos amou
primeiro, amamos porque todo amor vem de Deus, amamos porque Deus nos ensinou a
amar, amamos para demonstrar que nascemos de Deus e que O conhecemos! Fora do
amor, não há nada, assim como fora de Deus, inexiste tudo. O mesmo Deus que não
faz acepção de pessoas nos inclui, pelo Espírito, à sua intimidade no amor. A
vida das primeiras Comunidades cristãs, por exemplo, se dá através de uma forte
experiência espiritual que se traduz no amor oblativo, ou seja, desinteressado
e solícito. Nossas Comunidades paroquiais precisam, com urgência e sempre mais,
voltar a estas fontes e descobrir que não se pode querer ser digno do amor de
Deus se não nos fazemos dignos do amor mútuo. Para a Igreja nascente não há
diferença entre servir e amar a Deus e servir e amar o próximo; ambos os amores
possuem a mesma raiz, vem de Deus.
Amar não é gostar; não é sentimento fluido
que se desfaz nas tempestades dos problemas ou das desavenças pessoais, ou
ainda, por causa de temperamentos discrepantes e ríspidos. Amar é querer o bem
e não provocar o mal; é ter compaixão daqueles que não tem mérito algum, que
não fazem absolutamente nada para nos agradar. Amar é não responder o malfeito
com outro malfeito, dar um ponto final na maldade que se agiganta; frear a
desgraça com a bem-aventurança. Foi Jesus mesmo que nos pediu isto no Evangelho
que lemos neste Domingo: “Quem me ama, guarda minha Palavra”. Aqui duas coisas
nos exigem uma meditação: O que é “guardar”? E que “amor” é este? “Guardar” é
fixar-se, conter, tomar para si, não voltar atrás nem distanciar-se. Significa
dizer que Jesus deixa, de fato, seu Testamento ao começar a se despedir; neste
testamento outra coisa não diz que “abracem esta verdade!”, “não vivam sem
ela!”, “não se afastem disto que é tão importante!”, “não abandonem meu
pedido!”, “vivam por ele!” E em que consiste tal pedido? Amar como Ele!
O amor do Senhor não se baseia no afetivo,
mas em obras que garantem a vivacidade deste amor. Este amor é operativo,
mostra-se no mundo: “Se guardardes os meus Mandamentos, permanecereis no meu
amor, assim como Eu tenho guardado os Mandamentos do meu Pai e permaneço no seu
amor”. Que amor é este? Perguntamos de novo. É um amor que se dá, dando a vida,
não reservando nada para si, só entregando, sem limitar-se no tempo ou no
espaço. É neste amor que o Cristo deseja
que estejamos fixados; permanecer neste amor significa perseverar no próprio
Cristo.
Como vamos amar assim? Sem julgamentos, sem
reservas, sem trocas, sem compensações... A resposta já a dissemos: pelo
Espírito Santo! Só pela sua assistência poderemos nos comprometer em amar do
jeito que Deus ama! Será também por obra do Espírito que deixaremos no mundo
nossa marca de cristãos: “Eu vos escolhi e destinei para que vades e deis fruto
e o vosso fruto permaneça”, disse Jesus. Não nos devemos contentar apenas com a
grande tarefa de amar como Cristo, mas deveremos também nos preocupar com a
árdua vocação de apresentar este amor a este mundo. Como as pessoas ao seu
redor te enxergam? Que imagem de cristão você oferece onde está? Que frutos do
Espírito acontecem em sua vida? As pessoas podem ver em você a permanência de
Deus?
Que a Palavra de Salvação nos liberte de
nossas mentiras! Que nossos corações se transformem e se decidam amar de
verdade! Que sigamos as Palavras do Senhor com dedicação e sinceridade! Que
permaneçamos em Jesus e que, por meio nós, Ele se apresente ao mundo como
Redentor de todos os que sofrem por ainda não amarem o que convém nem o que os
torna plenos e livres.
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