Os trabalhos do Sínodo
sobre a Família continuam e as polêmicas também. Durante a coletiva de imprensa
realizada nesta ontem, na Sala de Imprensa da Santa Sé, o Arcebispo da
Filadélfia, Dom Charles Chaput, o Arcebispo da Diocese francesa de Lille, Laurent
Ulrich, e o Arcebispo de Ayacucho (Peru), Dom Salvador Piñero, intervieram
junto ao porta-voz do Vaticano, Pe. Federico Lombardi. Dom Chaput explicou
que os Círculos menores já começaram a trabalhar a respeito de alguns pontos do Instrumentum Laboris (documento de
trabalho) e de como devem responder de forma realista às diversas experiências,
considerando ainda que o texto poderia não demonstrar de maneira clara todas as
realidades presentes no Sínodo. E é exatamente aqui que começam as
divergências: alguns círculos são considerados mais progressistas e outros mais
conservadores; para o futuro Relatório Geral não se sabe quem dará o tom, se os
primeiros ou os últimos.
Segundo Dom Chaput, existe uma grande
preocupação dos bispos por não ferir a sensibilidade das pessoas e ao mesmo
tempo que fique clara a doutrina da Igreja. O Arcebispo expressou que existe
uma preocupação entre alguns bispos que, como ele, não conhecem o idioma
italiano, porque é provável que o documento final seja redigido neste idioma e
seria, além disso, uma grande contribuição ter o relatório (intervenção
inicial) do Cardeal Peter Erdö em inglês. Um dos temas mais controversos, o da
homossexualidade, somente foi abordado por uma ou duas pessoas ontem, segundo o
Prelado e que ainda não falaram a respeito deste tema. Segundo o site “Vatican
Insider”, em poucas declarações, treze padres sinodais, cardeais e bispos, disseram
entender que o Sínodo estava, de alguma maneira, “conduzido” pela Secretaria geral
(e em última instância pelo Papa), para que tomasse uma direção de abertura e
não de fechamento. Foram duas as queixas concretas: a hipótese de que os
moderadores e relatores dos “circuli minores” (círculos menores) foram designados
pela Secretaria, isto é, ‘de cima’, com nomeações capazes de influir no debate.
E a falta de uma eleição para designar a os membros da comissão encarregada de
escrever o Documento Final.
Na coletiva, negou-se de forma veemente esta espécie
de “conspiração”. Por sua parte, Dom Ulrich explicou o seguinte: “Existem três
grupos francófonos de trabalho. Falaram acerca dos problemas das famílias na
África, os quais perturbam o anúncio da Boa Nova na sociedade africana. Existem
diferenças culturais, mas estas permitem que cada conferência episcopal se
expresse talvez de maneira distinta na pastoral, mas recordando sempre que são
católicas. O Sínodo não coloca em jogo a doutrina da Igreja”, disse o Prelado. Já
Dom Piñeiro disse o seguinte: “A América é um povo com muita fé. Unidos pelo
amor a Jesus e em diferentes regiões invocam Maria. Agora, queremos insistir na
beleza do chamado de Deus ao casal, a fim de que sejam esposos e pais, e como a
Igreja deve acompanhar as famílias. Existe um ataque certeiro à instituição
familiar. Existe uma linguagem dupla. Através das nossas leis, abrem as portas
para o divórcio civil e para a prática do aborto e nós devemos
defender a família. Deus pôde escolher outros caminhos, mas escolheu a família
para vir ao mundo. A melhor linguagem nos círculos menores é a do amor,
pastores com grande preocupação pela família, para apresentar o que significa
cuidar de um lar e cuidar da família”.
Nada de complôs. Depois do próprio Cardeal
Baldisseri desmentir estas teorias, tomou a palavra, surpreendentemente, também
o Papa Francisco. Não estava programada uma intervenção sua, mas era evidente
que queria responder aos padres da teoria conspiradora e às vozes
midiático-eclesiásticas fora do Sínodo. O Papa citou justamente a “hermenêutica
conspirativa”, e a definiu como a “mais débil sociologicamente” e, “teologicamente,
a que maiores divisões provoca. Isto é, exatamente, o contrário do que se deve
fazer no Sínodo; basta com esta mentalidade que ver tramas e complôs por todas
partes”. Suas palavras foram recebidas com um longo aplauso. Isso significa que
ninguém deseja mesmo que as manifestações e ideias do Sínodo sejam “conduzidas”
por grupos e ideologias, mas pela reflexão madura e sóbria sobre a realidade e
ao mesmo tempo, iluminadas pelo Espírito e baseadas na doutrina católica.
Continuamos a rezar.
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