Começamos o Advento com
estas semanas ditosas e impacientes de preparação para o Natal. Uma vez mais,
me vêm à memória palavras de São Josemaría, nos últimos meses do seu caminhar
pela Terra, a propósito desta grande solenidade cristã. Ao contemplar os planos
redentores de Deus, patentes já em Belém e em Nazaré, levava-nos a considerar
que Deus ensina cada um a abandonar-se por completo. Vede bem como é
o ambiente em que Cristo nasce. Tudo ali nos insiste nesta entrega sem
condições (…).
Seria suficiente recordar aquelas cenas para
que nos enchêssemos de vergonha e de santos propósitos. Precisamos absorver
esta lógica nova, que Deus inaugurou descendo à Terra. Em Belém, ninguém
reserva nada para si. Lá, não se ouve falar da minha honra, nem do meu tempo,
nem do meu trabalho, nem das minhas ideias, nem dos meus gostos, nem do meu dinheiro.
Ali, põe-se tudo ao serviço do grandioso jogo de Deus com a humanidade, que é a
Redenção. Rendida a nossa soberba, declaramos ao Senhor, com todo o amor de um
filho: ego servus tuus, ego servus tuus, et fílius ancíllae
tuae (Sl 115, 16): Eu sou o Teu servo, sou o Teu servo, filho da
Tua escrava, Maria. Ensina-me a servir-Te [1].
Este amor infinito de Deus pela humanidade,
volta a apresentar-se também de forma especial no Ano da Misericórdia, que
o Papa vai inaugurar no próximo dia 8, Solenidade da Imaculada Conceição.
Apressemos o passo nestes últimos dias, para que a abertura da Porta Santa,
símbolo da indulgência divina, nos encontre bem preparados para acolher nos
nossos corações tantos dons de Deus. Imitemos a devoção e a necessidade com que
São Josemaría, desde muito jovem, se refugiava no amor e na proximidade de Deus
com as Suas criaturas.
A Encarnação e o Nascimento de Cristo acendem
uma grande luz sobre o destino da humanidade, chamada à união mais íntima com
Deus. A instituição da família, em cujo seio o Senhor decidiu nascer, mostra um
claro reflexo da íntima comunhão das três Pessoas da Santíssima Trindade na
unidade de um só Deus verdadeiro. S. Paulo afirma que toda a família, nos
Céus e na Terra, recebe o nome de Deus Pai [2]. A Santíssima Trindade
eleva-se como o Modelo sublime da união que deve reinar entre os homens, também
em cada família. Para nos facilitar e incentivar a cuidar desta união, decidiu
abrir-nos um caminho concreto, com a Sagrada Família de Belém, para nele caminharmos
diariamente. Não vos parece admirável a ternura de Deus com os seus filhos?
Poderia ter-se revelado de mil maneiras diferentes, mas escolheu aquela que
mostra com mais destaque a ternura do Seu Coração. Como diz o livro dos
Provérbios, já desde antes da Criação, a Sabedoria divina estava com Ele e
era o seu encanto todos os dias, jogando sobre o orbe da Terra, e as minhas
delícias eram estar com os filhos dos homens [3].
A luz do nascimento de Jesus traz consigo a
força para dissipar as trevas deste nosso mundo que, de tantas formas, luta por
se afastar de Deus. Lembra-nos o esplendor anunciado pelo profeta, que nada nem
ninguém será capaz de obscurecer: o povo que caminhava nas trevas viu uma
grande luz. Aos que habitavam na região de sombras da morte, apareceu uma
grande luz [4]. Essa grande luz continua agora a brilhar em toda a sua
bondade, mesmo no meio dos trágicos acontecimentos que ocorrem em muitas partes
do mundo, como recentemente lamentamos. Ilumina-nos com a mesma clareza diáfana
que iluminou a noite em Belém, há dois mil anos. A liturgia da Noite Santa
torna-nos esse fato particularmente presente em cada ano, com o Natal,
concedendo‑nos paz e serenidade, mesmo nos momentos que podem parecer mais
obscuros. A presença do Senhor no meio do seu povo – pregava o Papa
Francisco – cancela o peso da derrota e a tristeza da escravidão e
restabelece o júbilo e a alegria.
Também nós, nesta noite abençoada, viemos à
casa de Deus, atravessando as trevas que envolvem a Terra, mas guiados pela
chama da fé, que ilumina os nossos passos, e animados pela esperança de
encontrar a «grande luz». Abrindo o nosso coração, temos, também nós, a
possibilidade de contemplar o milagre daquele Menino-Sol que, surgindo do alto,
ilumina o horizonte [5].
[1]. São Josemaría, Carta
14-II-1974, n. 2.
[2]. Ef 3, 15.
[3]. Pr 8, 30-3l.
[4]. Is 9, 1.
[5]. Papa Francisco,
Homilia, 24-XII-2014.
Fonte: Dom Javier
Echevarría, Prelado do Opus Dei na carta do mês de dezembro de 2015)
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