Meus filhos adoráveis,
Hoje a noite eu sucumbiu à
pressão social (exatamente o que eu sempre os adverti para não fazerem) e fui
com um grupo de amigas para ver 50 tons de cinza. Ignorei a pequena foz da
minha cabeça que implorava para não ir. Porque, além do mais, é só um filme
bobo, né? Bem, gostaria de ter escutado a minha razão. Por outro lado, o bom de
ter ido é que agora tenho estas palavras para vocês. Um dia, em um futuro não
muito distante, em um piscar de olhos, vou perceber que vocês são grandes o
suficiente para assistir a filmes como 50 tons de Cinzas. Tenho que aceitar a
dura realidade de que os seus olhos e os seus pensamentos vão ver esta
besteira, mais cedo ou mais tarde. Escrevo isso para que, quando esse dia
chegar, reconheçam este filme pelo que ele é, e não pelo que pretende ser. Deixe-me
começar por dizer o que 50 Tons de Cinza não é:
Não é uma história de amor.
Há um trabalho bastante convincente para
aparentar que é, mas, por favor, acreditem em mim quando lhes digo que o amor
nem sequer tem uma breve aparição neste filme.
Também não é um conto de fadas romântico com
um pouco de malícia inofensiva polvilhada por cima.
Na verdade, o romance está ausente. Nesta
peça "inofensiva" de Hollywood, um homem bonito, rico e experiente
usa seu poder para seduzir e manipular uma jovem estudante inocente e assim,
fazer com ela um monte de coisas que são muito desconfortáveis.
É um filme sobre os desejos sexuais de
controle e violência de um homem narcisista e que se acha no direito de usar e
abusar do corpo e da mente de uma jovem e vulnerável como ferramentas para sua
própria gratificação. Tudo gira em torno de suas necessidades, junto com a
expectativa arrogante de que ela deve cumprir, apesar de seu desconforto, para
agradá-lo.
Sentei-me no cinema e olhei em torno centenas
de mulheres comprando esta “história de amor sexy” e me senti doente. Se
todo um cinema cheio de mulheres não era capaz de ver o prejudicial que é esta
linha argumentativa, como é que podemos supor que o façam as meninas e
adolescentes?
Por favor, minhas filhas, não permitam que
esta idealização sexual engane vocês sobre o abuso doméstico, achando que devem
permitir ser tratadas como Anastasia Steele. Por favor, meu filho, não veja
isso um dia e acredite que está bem intimidar, manipular ou faltar com o
respeito a uma mulher como o ‘herói’ Christian Grey. Ninguém, homem ou mulher,
quer ou merece ser manipulado ou tratado de maneira sexual contra a sua
vontade.
Espero que, quando chegar o dia em que tenham
crescido o suficiente para estar em uma relação, entendam que o que acontece
por trás das portas do dormitório sempre deve ser prazeroso para ambos,
independente dos seus gostos. Espero que entendam que o consentimento dado pela
força não é consentimento para nada. Espero que exijam respeito e que entreguem
respeito em troca.
Hoje à noite, saí do cinema sentindo-me
aterrorizada e um pouco triste pela sua geração. Se este é o filme no qual
baseiam os seus ideais de amor e romance, então, tenho que deixar algumas
coisas muito claras e espero que estejam ouvindo. Se alguém quer estar com
vocês, aparecer em seus trabalhos sem avisar e atuar de forma possessiva quando
um companheiro de trabalho fala com vocês NÃO é romântico. É assustador.
Se perseguem vocês quando vão dançar e as
leva para o seu hotel quando estão bem bêbadas a ponto de não terem mais
capacidade de tomar decisões racionais, e depois tira as suas roupas e coloca
vocês na sua cama, isso não é protetor. É assédio. De fato, assédio é só o
começo do que realmente é. Se aparece dentro do seu apartamento sem ter sido
convidado, não é romântico. É invasão de privacidade.
Se você lhe diz que não está interessada e
pede para ele ir embora e ele responde amarrando-a na cama, tendo sexo violento
com vocês, até quando em várias ocasiões disseram que “não”, e ele ameaça com
piorar as coisas se fazem barulho, isso não é paixão. É abuso.
Se vende os seus carros e compra um novo sem
a sua autorização, “para surpreendê-las”, não é romântico. É roubo e
manipulação. Se ele controla seus telefonemas, ele não está apaixonado por
você. Ele está abusando e controlando-a. Se bate em você com um cinto de coro,
enquanto você chora, porque isso é o que lhe dá prazer e lhes pede que o façam,
apesar da sua dor, porque assim se excita, e depois se faz de vítima explicando
tudo, não existe trilha sonora no mundo que possa calar essa voz nas suas
cabeças que grita que o amor e o romance nunca estiveram presentes neste
filme e nunca estarão.
Meus filhos, este filme me preocupa muito, e
tenho a experiência da vida do meu lado. Tremo só em pensar que vão crescer com
histórias como esta modelando as suas relações e que achem que são algo
“normal”. Por favor, meus preciosos filhos, tenham claro isso: o amor é
suave. O amor nunca toma. O amor não exige. O amor é consentimento mútuo. O
amor não precisa de passeios de helicóptero e presentes caros. O amor é
suficiente. Quando há amor, a voz em suas cabeças não grita. Porque não há
motivos. Meus filhos, por favor, escutem-me. E se decidem não fazê-lo, então,
escutem a voz nas suas cabeças.
Com amor abundante,
Mamãe
Fonte: Artigo traduzido por
ZENIT e retirado do Blog:
http://theycallmemummy.com/2015/02/13/fifty-shades-of
grey/ Originalmente escrito por Michelle Lewsen para Scary Mommy)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Você pode deixar seu comentário ou sua pergunta. O respeito e a reverência serão sempre bem vindas.