Existem diversas devoções na
Igreja. Cada uma tem seu apelo e suas determinadas práticas. E existe a
Liturgia da Igreja, que é a melhor e a mais alta forma de expressão da fé dos
cristãos. Se pela devoção vamos a apenas a um lugar e nos concentramos num único
aspecto da fé, pela santa Liturgia vamos ao todo e tocamos na fonte da vida da
Igreja, alcançando o seu cume. Não podemos desprezar as expressões de fé e de
devoção do povo, mas devemos alertar e ensinar o povo que a Liturgia é maior
que a devoção. Diz o Documento sobre Liturgia do Vaticano II: “A Liturgia é
fonte e cume de toda vida da Igreja” (SC 10). Isto quer dizer que dela todos
bebemos e para ela, todos devemos acorrer.
Não se deve, por exemplo, entrar numa igreja
paroquial (matriz) ou mesmo numa capela em que há o Santíssimo Sacramento,
reverenciar todas as imagens e não adorar Jesus na Eucaristia, na capela a Ele
dedicado. Não se pode ser muito fiel a uma novena em casa e não ir à Missa
dominical. Está errado ser devotíssimo deste ou daquele santo e não seguir de
perto a Jesus. É contraditório ser devoto dos santos e não buscar a santidade
nos sacramentos de Cristo. Tudo isso deve ser reavaliado, re-significado. O
melhor modo de ser cristão não é seguindo devoções e se apegando a certas
orações ou práticas pessoais, mas se entregando ao abraço do amor de Deus, em
Cristo. E isso se dá na celebração do seu Mistério Pascal, em concreto, na
participação assídua e orante da Santa Missa. Nem todas as devoções do mundo
juntas dariam o que recebemos numa única Missa. É fato.
O povo precisa se esforçar por aprender a se
inserir no Mistério de Cristo. Não celebramos outra coisa que não a vida de
Cristo na Igreja. Qualquer memória de Nossa Senhora ou dos santos está nesta
dimensão. Não celebramos Nossa Senhora, não celebramos este santo, mas
celebramos Jesus Cristo neles. Qualquer coisa na Igreja é menor do que o Cristo; essa
realidade deve nos ensinar a viver melhor a nossa fé. Às vezes nos preocupamos
com tantas coisas pequenas e descuidamos da nossa união com o Amado Jesus... Para
muitos a música é importante na Igreja, para outros é a ornamentação, para
outros é a acolhida, para outros a homilia, para outros o horário e até mesmo o
nome que se diz antes da Missa... Ora, nada disso importa, se Cristo não for o
centro!
A música litúrgica deve nos conduzir a Jesus
e ser um eco da Palavra de Deus; as flores e outros objetos de decoração devem
ser expressão da Beleza de Deus, mas não podem chamar mais atenção do que do
Mistério que celebramos; as pessoas à porta da Igreja acolhendo têm sua
importância, mas a melhor acolhida é do próprio Senhor que nos dá sua Palavra e
a Si mesmo na Eucaristia; o padre pode não ser um bom pregador, mas ele não vai
dar ao povo oratória e marketing, mas dará a atualização da voz de Deus para
nós; não devíamos nos importar com os horários, se a missa é cedo ou tarde, se
é breve ou longa, pois celebramos Jesus e para Ele o que há é espaço: não é o
tempo que vai contar no encontro com Ele, mas o espaço que lhe damos na alma e
no coração. A partir daí o tempo também será equilibrado; Intenções de missa? Elas nunca existiram durante séculos na Igreja.
Infelizmente nas últimas décadas essa prática foi sendo introduzida nas Comunidades,
pervertendo o culto sagrado de Cristo em culto do homem... Tantas vezes as
pessoas se importam mais com os nomes que são lidos do que com a intenção de suas
orações... A missa não é do padre, não é de dona fulana ou “seu” sicrano, a
missa é de Cristo e é do Povo de Deus. O ideal é que não existissem mais nenhuma
intenção particular lida na Igreja. Temos de lembrar que a Missa é graça e é de
graça; ninguém compra uma missa com a oferta que dá, ninguém toma posse dela, é
ela que deveria nos possuir.
Como ainda estamos distantes de uma
compreensão da Missa! A Santa Missa não é momento que lembre auditório. Não é
lugar do protagonismo do padre. Não é lugar das pessoas aparecerem. Não é lugar
para devocionismos ou para expressões particulares de movimentos eclesiais ou do querer de algum padre.
Missa tem que ser Missa! Ela é nossa escola de aprender a mar o Mestre; é nossa
vida para vivermos de Cristo Palavra e de Cristo Eucaristia. A Missa é para nós
o lugar teofânico por excelência – lugar escolhido por Deus para se manifestar
de forma total e esplêndida. Por isso, ao participar da Santa Missa, deveríamos
fazer a experiência do Éden recuperado, do Paraíso atualizado no hoje de nossa
existência. A Missa já é para você a experiência do eterno?
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