O Santo Padre, o Papa
Francisco, faz nestes dias uma intensa viagem a dois pólos no mundo: de um lado
a comunista Cuba e de outro a superpotência capitalista, os Estados Unidos da
América. A escolha não foi por acaso. Francisco está mediando há tempos uma
reaproximação entre os países que tem suas relações estremecidas há anos. Se
Francisco conseguir que Raúl Castro e Barack Obama se olhem e iniciem um
diálogo, isso é maravilhoso, entretanto o mais complicado e difícil será fazer
os dois países chegarem a consensos quanto à economia e sistema social. Os
Estados Unidos são cobrados diante de seus embargos econômicos à ilha de Raúl e
quanto aos supostos crimes contra a humanidade da prisão de Guantánamo. Já Raúl
é posto na parede para acabar com um regime que também supostamente retira a
liberdade de seus cidadãos e que cala, a poder de força, qualquer voz
dissonante de seu governo.
A missão do Papa não é exaltar ninguém nem “bater”
em ninguém, mas anunciar o Cristo que veio aos pobres e que os libertou de
qualquer opressão. Ao anunciar o Evangelho, o Papa encontrará duras realidades
a serem iluminadas pela Palavra de Deus. Questões como liberdade, emigração,
economia de comunhão, prática da religião, políticas familiares deverão ser
tratadas. Bem sabemos que a diplomacia vaticana saberá dar o tom aos discursos,
ainda que saibamos que o Papa Francisco possa a qualquer momento “abandonar o
protocolo”. Mas o próprio Papa sabe que o momento é delicado e qualquer gesto
seu que acolha um país e rejeite outro, traria sérias consequências ao diálogo
instaurado. Não foi à toa que em sua conta no twitter de 18 de Setembro, um dia
antes do início da viagem, Francisco tenha pedido a oração especial dos fiéis: “Convido-vos
a rezar, juntamente comigo, pela minha viagem a Cuba e aos Estados Unidos.
Preciso das vossas orações”.
Ao chegar a Cuba, num pequeno discurso de
agradecimento às boas vindas, o Papa Francisco falou da importância de estar
continuando um caminho de diálogo e de diplomacia que o Vaticano iniciou com
Cuba há 80 anos. Depois falou da importância da devoção a Maria, a Virgem da
Caridade do Cobre. O único momento em que houve uma palavra mais forte sobre a
abertura do país ao mundo se deu ao citar São João Paulo II, quando da visita à
ilha: “Cuba, com todas as suas magníficas possibilidades, se abra ao mundo e o
mundo se abra a Cuba” (Discurso
na cerimônia de acolhimento, 21/1/1998, 5). No domingo, numa grande Missa
Campal, disse o Papa: “O convite ao serviço apresenta uma peculiaridade a
que devemos estar atentos. Servir significa, em grande parte, cuidar da
fragilidade. Servir significa cuidar dos frágeis das nossas famílias, da nossa
sociedade, do nosso povo. São os rostos sofredores, indefesos e angustiados que
Jesus nos propõe olhar e convida concretamente a amar. Amor que se concretiza
em ações e decisões. Amor que se manifesta nas diferentes tarefas
que somos chamados, como cidadãos, a realizar. São pessoas de carne e
osso, com a sua vida, a sua história e especialmente com a sua fragilidade,
aquelas que Jesus nos convida a defender, assistir, servir. Porque ser cristão
comporta servir a dignidade dos irmãos, lutar pela dignidade dos irmãos e viver
para a dignificação dos irmãos. Por isso, à vista concreta dos mais frágeis, o
cristão é sempre convidado a pôr de lado as suas exigências, expectativas,
desejos de onipotência”.
Ontem, penúltimo dia da viagem de Sua
Santidade, o Papa deu não apenas ao povo cubano, mas a todos nós uma pérola ao
meditar o chamado do Apóstolo Mateus: “O seu amor precede-nos, o seu olhar
antecipa-se à nossa necessidade. Jesus sabe ver para além das aparências, para
além do pecado, para além do fracasso ou da nossa indignidade. Sabe ver para
além da categoria social a que possamos pertencer. Ele vê para além de tudo
isso. Ele vê a dignidade de filho que todos temos, talvez manchada pelo pecado,
mas sempre presente no fundo da nossa alma. É a nossa dignidade de filhos. Veio
precisamente à procura de todos aqueles que se sentem indignos de Deus,
indignos dos outros. Deixemo-nos olhar por Jesus, deixemos que o seu olhar
percorra as nossas veredas, deixemos que o seu olhar nos devolva a alegria, a
esperança, o gozo da vida”.
O Papa evitou fazer declarações políticas
ostensivas, que os dissidentes esperavam que ele fizesse e usou mais suas
homilias para enviar mensagens ligadas à espiritualidade e sobre a necessidade
de mudanças no país comunista, de partido único. Francisco lembrou aos cubanos
que pensem com maior abertura e sejam tolerantes às ideias de outras pessoas. A
abordagem mais suave, um contraste com a adotada por seus dois antecessores
imediatos quando visitaram Cuba, parece impulsionada por um desejo de
incentivar calmamente os cubanos em um momento delicado após a retomada das
relações diplomáticas com os Estados Unidos. "Ele falou com clareza,
discrição e moderação", disse o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi,
aos jornalistas.
Hoje Francisco se despede de Cuba e continua
sua viagem apostólica indo para os Estados Unidos. Grandes eventos também lá
acontecerão como a canonização do Frei Junípero Serra, a visita ao Congresso
dos Estados Unidos e às Nações Unidas e, sobretudo, seu encontro com as famílias
no Encontro Mundial das Famílias, na Filadélfia. Rezemos pelo Papa e por estes
grandes compromissos, para que seja a voz de Cristo a falar a todos os
ambientes e a iluminar as várias partes do mundo.
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