A Liturgia de hoje nos fala
sobre o precioso dom da fé. A fé é a virtude do fiel que se abre ao poder de
Deus; pode ver o milagre antecipado porque acredita em Deus, sem reservas. A fé
é ter a posse daquilo que ainda não possuímos, mas que desejamos ardentemente de
todo o coração e alma. Sem ela, não ouvimos a Deus; sem ela, o mundo é apenas
um adversário e as pessoas são um peso sem fim; sem a fé, nossa vida é apenas
matéria; sem a fé, a esperança não acompanha e a caridade é inexistente.
Não foi sem necessidade que o Papa “emérito” Bento
XVI quis declarar este ano como “Ano da Fé”. Ele percebeu a grande crise em que
vivemos: crise de fé, que nos faz suspeitar de Deus e abrir portas para a
descrença no seu poder e nas realidades celestes. Respira-se este ambiente de
descrença em muitos lugares e até dentro da própria Igreja; o “Ano da Fé”,
lembremos, é em primeiro lugar, dedicado aos católicos e depois a todos os
homens e mulheres de boa vontade. Cabe a nós nos perguntarmos sobre como vai a
nossa fé.
O Evangelho de hoje é uma mostra de como
devemos crer e de como Deus age, independente de nossos esforços. O encontro de
Jesus com o centurião romano é um momento de abertura à graça divina, de
síntese entre a fé humilde e confiante. “Humilde”, porque o centurião percebe a
necessidade da força maior que a dele, percebe os limites da sua humanidade e
se vê indigno de se apresentar diante de Deus; “fé confiante”, porque o romano
tem a certeza de que Jesus pode fazer o melhor e que fará, de fato, na
velocidade de uma palavra, mesmo à distância. Que maravilha esta fé! Não foi à
toa que o próprio Senhor Jesus se admirou deste fato. Isto nos faz pensar nas
muitas vezes em que nossa fé fraca e obsessiva quis seguranças da parte de
Deus... tocar, ver, sentir... quantos precisam disso para ver a eficácia da
graça divina, como se Deus não tivesse o poder de fazer qualquer coisa quando
quisesse e como quisesse! “Senhor, dize uma palavra e basta”. Será que basta
para nós a Palavra de Deus?
“Qual o mistério da fé ardente do centurião
romano?”, talvez nos perguntemos. Penso que uma das respostas seja o seu
caráter e o dom de seu amor. Pela narração evangélica, percebemos que ele não é
uma pessoa arrogante, esnobe, apegada a títulos e cargos. Ele se faz amigo dos
judeus, mesmo não sendo um deles e pede uma graça não para si, mas para um de
seus servos, demonstrando afeição a um subalterno e indicando que mesmo sendo
de patente superior, olha para todos como irmãos. Para alguns na Igreja, falta
caráter, humanidade, falta amor e, por isso, claro a fé anda em baixa...
Embora nem Jesus, nem o centurião se conheçam
pessoalmente, há um diálogo entre eles e o que se vê é o encontro do Senhor com
um servo reverente; se há, e há uma distância física entre eles, esta é
encurtada pela fé pura do centurião e pela palavra poderosa de Cristo. O
resultado é o milagre: quando uma fé suplicante encontra a palavra eficaz de
Cristo, tudo é possível.
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