Estamos em pleno tempo
quaresmal e, certamente, porque queremos ser bons fiéis de Jesus Cristo,
fizemos os nossos propósitos para viver muito bem este tempo litúrgico. A
Paixão e Morte do Senhor, que surge como o cume da Redenção do homem, orienta a
nossa vida, que deve ser mais abnegada na oração e na preocupação pelos outros.
À oração vamos buscar a intimidade com Deus, que nos ilumina a inteligência,
vigoriza a vontade e purifica os nossos afetos, incentivando-os a amar o bem, a
fazermos o bem e a ter como nossos, tanto quanto nos for possível, os problemas
das pessoas que convivem conosco todos os dias. Por obrigação de caridade devo
dar-lhes mais atenção e tentar tornar a sua vida mais agradável.
Tanto quanto dependa de mim, é a elas que me
obrigo a estar mais atento perante as suas necessidades. Mais e melhor as devo
compreender. E sempre, ajudar no que precisem. Para que esta atitude se torne
realidade, tenho de saber que os meus juízos sobre elas só lhes são benéficos,
em primeiro lugar, quando correspondem à verdade e jamais a algumas impressões
superficiais, fáceis de aceitar e difíceis de dominar, quando vão unidas a
algum mal-estar que o seu modo de ser me provoca. Rapidamente, confundo o que
me choca com a sua realidade. E esta não pode ser positiva.
Em segundo lugar, quando o meu juízo está
alicerçado na caridade, que é paciente, benigna e tudo suporta, como a define
São Paulo. Esta virtude, que deve caracterizar as atitudes dos filhos de Deus,
não significa passividade ou indiferença perante os outros. Pelo contrário, é a
mola do amor que lhes devo ter. E o amor quer o bem de quem sou amigo. Por
isso, se algum aspecto do seu comportamento não é objetivamente adequado, devo,
com suavidade e com fortaleza, fazer aquilo que Jesus Cristo nos ensinou com a
correção fraterna. Em privado, e depois de rezar longamente pela pessoa a quem
a vou fazer, de me mortificar para que tudo corra da melhor forma, dir-lhe-ei
com calma, suavidade e fortaleza, o que, em consciência, julgo que não está bem
no seu procedimento.
Um cristão não critica: reza; não emite
juízos fáceis sobre os outros, que podem ser temerários, se não são minimamente
fundamentados e caluniosos se não correspondem à verdade. Além disso, a
obrigação que temos é rezar pela santidade dos outros. Devo desejar, do fundo
da minha alma, que os outros sejam verdadeiramente santos, isto é, bons
cristãos que põem em prática o que Jesus nos legou como norma de conduta:
“Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”.
Não temos o mínimo dever de criticar os
outros. É um vício que podemos ganhar facilmente, sempre que ao lidar com o
próximo, me esqueço da sua condição de filho de Deus, que mereceu, tanto como
eu, o Sangue que Cristo verteu no Calvário pela nossa Redenção. Criticar por
futilidade ou por má-língua alguém é esquecer que ofendemos não apenas essa
pessoa, mas sobretudo a Deus, que é seu Pai, Jesus Cristo, seu irmão, que deu a
vida para que ela se salvasse e o Espírito Santo, que através do seu dom do
conselho não nos inspira o juízo negativo, mas o que está de acordo com a
caridade. Também Nossa Senhora, sua mãe desde a Cruz, se encherá de pena por
ver um seu filho a maltratar com tanta falta de fraternidade um seu irmão.
Estamos na Quaresma, tempo
de penitência e de conversão. Não será de fazer um propósito franco e corajoso
para este período? Não criticar ninguém; antes, rezar por todos: por aqueles
com quem simpatizo e com os que não tenho facilidade de relação. Decerto que
Deus Pai ficará contente por descobrir mais solidariedade entre os seus filhos,
que Deus Filho verá com mais satisfação os resultados do Sacrifício da sua vida
e Deus Espírito Santo sentirá uma maior liberdade para sugerir atitudes mais
difíceis de tomar. Também a nossa Mãe, Nossa Senhora, a medianeira de todas as
graças, regozijar-se-á pelas suas petições constantes pelos seus filhos que
conduziram a tão salutares resoluções. Sejamos corajosos, confiando mais na
ajuda da graça de Deus do que nas nossas forças. Deus apoia todo o que quer
fazer a sua vontade, mesmo que ela possa custar ou corresponder a uma espécie
de marcha-atrás em relação a um vício muito assumido.
(Pe. Rui Rosas da Silva –
Prior da Paróquia de Nossa Senhora da Porta Céu em Lisboa in Boletim Paroquial
de Março de 2012, seleção do título da responsabilidade de BarretePreto)
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