Configurar-se, é assumir a
figura, as feições, os sentimentos, as atitudes daquele que é para nós o
modelo, o ideal. Desde muito cedo esta meta se colocou para os que desejam
seguir a Cristo Jesus. Paulo foi, talvez, o que o manifestou com mais ousadia,
paixão. Mas ao longo da história da Igreja, inúmeros foram os testemunhos nesta
mesma linha. No dizer de Thomas Merton, o santo que mais se assemelhou a Cristo
foi Francisco de Assis. Não há dúvida da singularidade do Pai seráfico, que nos
toca profundamente. Mas, graças a Deus, há uma belíssima fileira de configurados
com Cristo pela história afora, até nossos dias, dos conhecidos aos muitos
desconhecidos, que espelham as facetas da alma cristã em grau exemplar. Cada um
de nós terá, com certeza, pessoas significativas em nosso itinerário para Deus,
que formam como que uma comunidade espiritual para nós (cada um tem sua
inspiração).
Entre os muitos outros que se configuraram a
Cristo de forma exemplar, São Bento mantém toda força de inspiração para muitos
ainda hoje. Sua frase lapidar, tirada de São Cipriano: “Nada antepor ao
amor de Cristo” – RB 4, 21- mais reforçada no RB 72 com o acréscimo do
“absolutamente”, dirige-nos para uma meta: “que nos conduza juntos para a
vida eterna”- RB 72, 12. São Bento espera que o homem dê prioridade a
Deus, que não coloque nada nem ninguém em seu lugar. “Antepor” significa
realmente colocar algo entre mim e Deus, construir um muro, uma separação, pôr
uma pedra na relação entre o homem e Deus, interferir nessa relação de amor,
prejudicando o sucesso e o crescimento da mesma. Quantas vezes não é essa a
realidade de nossas vidas... colocamos coisas, circunstâncias e até pessoas
entre nós e o Bom Deus, pervertendo nossa religião e definindo como apenas um lugar
de busca de cura, de bênção, de interesses humanos, mas não de doação de amor
Àquele que primeiro nos amou...
“Nada antepor” – família, trabalho, estudo,
lazer, planos pessoais, cursos, viagens... nada deveria se meter entre nós e
nosso Deus. O amor de Cristo deveria ser nossa meta e nosso caminho, nossa
certeza e nossa busca, nosso conforto e nosso porto seguro. É claro que fazemos
muitas coisas por Deus, por Jesus, mas será que em todas elas Jesus é o centro?
Será que não mudamos muitas vezes o centro de gravidade da nossa vocação, da
nossa missão colocando noutras coisas o amor que devíamos devotar primeiramente
a Cristo? Às vezes escondemos nossas verdadeiras intenções atrás de “piedosas
orações” que na verdade são uma farsa, um engodo para tirar de Deus o que
queremos, mas não para honrá-Lo e adorá-Lo como convém.
Priorizar coisas em nossa vida nunca é fácil.
Muitas coisas são importantes e, às vezes, num momento de crise, nada é
importante. Mas ainda assim, devemos dizer à nossa vida o que importa, o que
vem primeiro e isto é muito difícil. O que vem primeiro: a oração ou a faxina?
O trabalho ou a missa? O lazer ou o estudo? O sono ou a vigília? O dever ou o
prazer? São tantas coisas... E nosso coração pode ficar angustiado, confuso.
Quais são minhas angústias? Quais são meus problemas reais? Eu sei separá-los
dos que não são reais? Priorizar sempre na companhia de Deus. Quando nada
colocamos no lugar d’Ele, nada antepomos ao seu amor, aí sim chegaremos a outras
coisas importantes no nosso viver.
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