Segundo nosso estado de
vida, todos devemos nos consagrar a Deus; seja o solteiro ou casado, o viúvo ou
celibatário, não importa, todos temos os nossos graus e exigências de
consagração ao Evangelho. Importa sabermos disso e buscarmos, com consciência e
amor, sermos cada vez mais fiéis àquilo que Deus nos pede. Poderíamos resumir o
sentido fundamental da vida de consagração a Deus no sentido de um caminho mais
radical, segundo o modelo de São Gregório de Nissa, observando três fases fundamentais:
Primeiro, o caminho da iluminação, o
desenvolvimento da plena consciência e a purificação exigida pela mesma; lucidez
corajosa da via dos cristãos que desejam ver a Cristo. Deixar-se iluminar, é
deixar-se possuir pelo Santo Espírito de Deus, excluindo a própria vontade e
deixando que Deus nos mostre o que somos e o que devemos ser. É a fase de se “ver
no espelho”, momento de deixar cair as máscaras e promover a sinceridade na
vida.
Em segundo lugar, a prática, dimensão esta que ainda serve a Evágrio Pôntico
para dispor conselhos de vida espiritual. É o momento de praticar o Evangelho,
palavra por palavra, letra por letra, a hora de levar a sério os Conselhos
Evangélicos e não ser cristão apenas “de boca”, mas “de fato”. A prática nos
leva à perfeição e por isso ela é tão importante e pessoal; não se pode
praticar pelo outro, somente eu posso fazer esse bem a mim e o outro a si.
E, em último lugar, a fase das trevas, ou
seja, da erradicação completa da personalidade no sentido da máxima exigência da
renúncia, condição da aurora espiritual. É a hora de, depois de deitar fora
tudo o que não leva à Cristo, abraçar tudo o que Deus quer, abandonando seu
homem velho e transformando-se num homem novo, renovado ao modelo de Jesus. Então:
sou iluminado por Deus; começo a praticar suas obras e virtudes. Depois sou
chamado a me ver por dentro e a jogar fora, erradicar qualquer coisa que dentro
em mim ou fora de mim me põe longe de Cristo.
Para trilhar, realmente, este caminho será
necessário a ascese; a ascese é, neste sentido, e fundamentalmente aquilo que
ela diz etimologicamente — “um exercício”, uma intensificação, uma concentração
de energias capazes dessa reintegração do ser e resignificação da própria
história. Complementarmente, é o ideal de qualquer um que queira se consagrar a
Deus de forma pura e em qualquer estado de vida; uma fórmula de vida que se
inscreve nesse sentido de passagem do efêmero ao permanente, do ter ao ser
e do menos ser ao ser em plenitude.
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