Hoje
celebramos o “Dia de Todos os Santos”. A data litúrgica é 1° de Novembro, mas
no Brasil comemoramos tal Solenidade no Domingo mais próximo a este dia. Quando
a Igreja celebra Todos os Santos, ela deseja trazer para sua Liturgia e para
nossa contemplação a multidão de santos e santas de Deus que estão na glória e
que, não necessariamente, são conhecidos por nós cá na Terra. Nesta multidão de
justos não estão apenas os “canonizados” pela Igreja, mas todos os que
cumpriram fielmente e com amor, a vontade de Deus em suas vidas. Os santos são
os amigos de Deus, aqueles que O ouviram com delicadeza e, com valentia, puseram
em prática a Palavra de Deus.
Neste dia a
Igreja, como Mãe e Mestra, abraça todos os seus filhos, das mais diversas
regiões, culturas, raças e estados e nos apresenta suas vidas como modelos de
seguimento a Cristo. A santidade não é para poucos, mas todos! E é exatamente
nesta santidade que a Igreja se reflete melhor; a Igreja é feita de pecadores,
mas pecadores que não se conformam com seus defeitos, que lutam pelo ideal da
perfeição. O que é o santo? Um ser alienado de tudo e afastado de todos? Uma
pessoa isenta de tentações e de quedas? Eu lhes digo que “não”. Então, o que é
um “santo”? Vejamos o que a Liturgia nos diz.
Na primeira leitura, do Apocalipse de São João, o autor nos diz: “Estavam de pé
diante do trono e do Cordeiro; trajavam vestes brancas e traziam palmas na mão”.
Estar “diante do trono e do Cordeiro” significa que estes nossos irmãos prestam
louvor e adoração a Jesus Cristo, Cordeiro de Deus. As vestes brancas são
símbolo da pureza, da retidão de coração e, finalmente as palmas, retratam a
luta e a vitória que tiveram sobre o mal. Assim, para João, ser santo é adorar
o verdadeiro Deus, expulsar as sombras do coração e combater fortemente o mal,
a ponto de vencê-lo; é estar diante do Senhor sempre! No colégio, na faculdade:
saiba que está diante de Deus! Em casa, no trabalho? Saiba que está diante do
Senhor! Na praia, na balada? Saiba que o Senhor te vê!
O Salmo 23 nos remete ao mesmo caminho: “Quem
tem mãos puras e inocente coração, quem não dirige sua mente para o crime.
Sobre este desce a bênção do Senhor e a recompensa de seu Deus e Salvador”. É
voltando-se para o Senhor que seremos santos; é voltando-se para Deus e não
para as coisas ou criaturas que alcançaremos a santidade. Quem volta-se para si
ou para um outro que não é Deus, este cai no egoísmo, é escravo de suas
carências e fica impedido de ascender ao coração do Senhor. Voltar-se para
Deus; voltar-se para sua Face: eis o segredo da santidade! Quando pensamos em
Deus ou fazemos as coisas debaixo do seu olhar, não há como cairmos em erros.
Mãos puras – isentas do mal, eis o que o Senhor quer! Um coração inocente -
longe de sentimentos maus e de duplas intenções, eis o que o Senhor deseja!
A Solenidade que ora celebramos tem dupla finalidade: de um lado, contemplamos
o modelo dos santos e damos a eles nosso louvor; de outro, deveríamos ficar
inquietos com a proposta de santidade e pensar: “por que eu não sou santo?” O
santo não se faz só no momento da morte; podemos ser santos em vida! Ser santo
é ser amigo de Deus e amizade não se demonstra depois na hora da morte, mas
durante a vida. Como podemos ser amigos de Deus? O Papa Emérito Bento XVI nos responde:
“A esta interrogação pode-se responder antes de tudo de forma negativa: para
ser santo não é necessário realizar ações nem obras extraordinárias, nem
possuir carismas excepcionais. Depois, vem a resposta positiva: é preciso,
sobretudo, ouvir Jesus e depois segui-lo sem desanimar diante das dificuldades.
Quem n’Ele confia e O ama com sinceridade, como o grão de trigo sepultado na
terra, aceita morrer para si mesmo. Com efeito, Ele sabe que quem procura
conservar a sua vida para si mesmo, perdê-la-á, e quem se entrega, se perde a
si mesmo, precisamente assim encontra a própria vida (cf. Jo 12, 24-25). A
experiência da Igreja”, diz o Papa, “demonstra que cada forma de santidade,
embora siga diferentes percursos, passa sempre pelo caminho da cruz, pelo caminho
da renúncia a si mesmo. As biografias dos santos descrevem homens e mulheres
que, dóceis aos desígnios divinos, enfrentaram por vezes provações e
sofrimentos indescritíveis, perseguições e o martírio”.
Queridos irmãos e irmãs, a santidade não é um projeto distante e inalcançável,
mas concreto e necessário; se não formos santos não nos salvaremos! Não iremos
ao Céu! Não veremos a Deus, Nossa Senhora, os santos e os nossos parentes e
amigos que se santificaram! O casado pode ser santo? Sim, pode! O solteiro pode
ser santo? Sim, pode! O adulto, a criança, o jovem, o idoso podem ser santos?
Sim, podem! Não importa seu trabalho, sua cultura, seu lugar, sua origem nada
disso te impede; a santidade é possível a todos e, mesmo que implique esforço e
dedicação de cada um, será sempre uma obra de Deus em nós. Então, quanto mais
você e eu nos abrirmos a Deus, mais cresceremos em santidade. E como isso se
dá? Na imitação de Cristo!
No Evangelho das Bem-aventuranças está a “fisionomia espiritual” de Jesus, o rosto
e o modelo por excelência a ser contemplado e imitado. Em Jesus e por Jesus
podemos ser pobres em espírito; em Jesus e por Jesus somos aflitos; em Jesus e
por Jesus somos mansos; em Jesus e por Jesus temos fome e sede de justiça; em
Jesus e por Jesus somos misericordiosos; em Jesus e por Jesus temos o coração
puro; em Jesus e por Jesus somos homens e mulheres da paz; em Jesus e por Jesus
sofremos perseguição e injúria. Este é o Mistério de Cristo: Ele em nós; este é
o mistério dos filhos de Deus: nós n’Ele. Bem aventurado significa “feliz”; o
santo é feliz, está feliz porque está com Deus sempre, como num matrimônio
espiritual: na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias de
sua vida...
Que
a celebração de Todos os Santos nos inspire e nos leve a uma maior intimidade
com Deus para que, um dia, “diante do Trono e do Cordeiro”, ao lado da Virgem
Maria e dos santos, possamos cantar um louvor eterno ao Deus que é, que era e
que vem e juntos proclamar: Santo, Santo, Santo! Amém.
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