O
Papa Francisco publicou já algum tempo sua primeira Encíclica, dedicada ao tema
da fé, na qual afirma que a mensagem cristã é uma resposta à crise
contemporânea da “verdade”. “Lembrar esta ligação da fé com a verdade é hoje
mais necessário do que nunca, precisamente por causa da crise de verdade em que
vivemos”, pode ler-se no documento, intitulado ‘Lumen Fidei’ (Luz da fé), que
retoma uma reflexão iniciada por Bento XVI. Na verdade, Francisco assume as
preocupações do seu predecessor relativamente a um relativismo no qual a
“questão sobre a verdade de tudo” já “não interessa”. Essa Encíclica é ímpar,
pois foi fruto do intelecto de dois Papas, talvez mais ainda de Bento XVI que
deixou o trabalho praticamente pronto.
Na Lumen Fidei, o Papa propõe que a verdade
parece ser “a única certa, a única partilhável”, restando depois “as verdades
do indivíduo”, que não podem ser propostas aos outros. “Nesta perspectiva, é
lógico que se pretenda eliminar a ligação da religião com a verdade, porque
esta associação estaria na raiz do fanatismo, que quer emudecer quem não
partilha da crença própria”, adverte o Papa argentino.
A encíclica fala numa “verdade grande” que
explica o conjunto da vida pessoal e social, apesar de ser vista “com
suspeita”, lamentando-se o que se denomina por “grande obnubilação da memória”
no mundo contemporâneo. Francisco sublinha que “a fé não é intransigente, mas
cresce na convivência que respeita o outro” e que pode “pode iluminar as
perguntas” da sociedade atual, na qual muitas vezes é “impossível distinguir o
bem do mal”. “O homem renunciou à busca de uma luz grande, de uma verdade
grande, para se contentar com pequenas luzes que iluminam por breves instantes,
mas são incapazes de desvendar a estrada”, nota.
O Papa defende que a fé tem a ver também com
a vida dos que, apesar de não acreditarem, o “desejam” fazer, procurando “agir
como se Deus existisse”. O
texto refuta a ideia de que a fé cristã seja uma alienação, apresentando-a,
pelo contrário, como um “bem comum”, que oferece à sociedade “um futuro de
esperança”. “A fé não afasta do mundo, nem é alheia ao esforço concreto dos
nossos contemporâneos”, frisa. Para Francisco, “sem verdade, a fé não salva” e
seria uma “linda fábula” ou “um sentimento bom que consola e afaga”, mas
“incapaz de sustentar um caminho constante na vida”.
A encíclica recorda o filósofo austríaco
Ludwig Wittgenstein (1889-1951), para quem “acreditar seria comparável à
experiência do enamoramento, concebida como algo de subjetivo”. “Apenas na
medida em que o amor estiver fundado na verdade é que pode perdurar no tempo,
superar o instante efêmero e permanecer firme para sustentar um caminho comum”,
adverte o Papa, para quem “sem o amor, a verdade torna-se fria, impessoal,
gravosa para a vida concreta da pessoa”. Apresentando a fé como “escuta e
visão”, Francisco observa que esta se transmite também “como palavra e como
luz”. “A luz da fé coloca-se ao serviço concreto da justiça, do direito e da
paz. A fé nasce do encontro com o amor gerador de Deus que mostra o sentido e a
bondade da nossa vida”, assinala.
A Encíclica é leitura obrigatória para todos
os que desejam conhecer a verdade da fé católica e se apaixonarem por ela.
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