O
apóstolo São Pedro, escrevendo aos primeiros fiéis e por eles instruindo os fiéis
de todos os tempos, dizia: “Ficai sempre prontos a responder em defesa da
religião a quem quer que lhes pergunte qual a razão da esperança que está em
vós”. O que traduzimos por responder em defesa da religião está expresso em uma
só palavra no texto de São Pedro. Ele diz ao pé da letra: apologia: “Estejam
sempre prontos para a apologia”; quer dizer, segundo as solenes instruções de
São Pedro, o santo Papa, todo cristão deve estar sempre preparado para a
apologia, para a defesa da fé, contra quem quer que lhe pergunte a razão da
esperança que ele traz consigo. É preciso pesar bem os termos de São Pedro:
estar sempre preparado contra quem quer que seja.
Evidentemente para estar assim sempre pronto
contra quem quer que seja, é preciso uma dose de instrução cristã, que hoje não
é comum entre os cristãos. Mas
temendo estar sendo exagerado em alguma coisa, dou a palavra a um intérprete
que não se pode recusar: (Estius, Comm. in Cap… III Epist. I B. Pet.). Traduzo:
“Este é o pensamento de São Pedro: Já que os infiéis chamam vã a esperança que
tendes em Jesus Cristo numa vida futura e numa glória eterna, advirto-vos de
que devem ter sempre pronta uma resposta pela qual possais mostrar que vossa fé
e vossa esperança se apóiam em razões sólidas, seja para o caso de confrontar
um contraditor ou simplesmente um homem desejoso de se instruir, que vos
pergunte porque desprezais os bens da vida presente e sofreis tantos males nesta
terra”.
No entanto não é preciso entender com isso,
que São Pedro exija que todos os cristãos sejam teólogos capazes de dissertar
sobre os dogmas da fé, quer como doutores quer como apologetas. São Pedro só
exige uma coisa: que se possa responder e satisfazer, segundo sua capacidade, a
quem o interrogue e lhe pergunte a razão daquilo que crê e espera como cristão.
Há, com efeito, razões gerais pelas quais todo cristão pode sempre se defender
contra os pagãos e responder a quem o interrogue; por exemplo: que a
religião cristã foi anunciada pelos profetas; que foi confirmada pelos inúmeros
milagres operados por Cristo e pelos apóstolos; que ensina a justiça, a
inocência e a caridade levada até ao amor dos inimigos; que é religião muito
casta. Ou ainda: que o mundo é governado pela providência de um Deus único,
providência que no fim faz com que cada um receba segundo suas obras; que nada
é impossível a Deus; que não é de espantar se nossa fé e nossa esperança
ultrapassam a inteligência humana, já que na própria natureza há tantas coisas
nas quais nosso espírito não poderá penetrar.
Do mesmo modo, há boas razões e argumentos
gerais que são como que primeiros princípios, sobre os quais os fiéis precisam
ser instruídos (instruídos por seus párocos) para responder aos heréticos que
atacam a fé católica, ou que querem discutir sobre ela. Estes princípios são:
que a Igreja de Cristo é una; que ela é visível e manifesta; que ela continuou
até nós depois dos apóstolos pela sucessão dos bispos; que ela teve no seio grande
número de santos mártires e confessores que em diversas épocas confirmaram e
selaram a fé católica por suas doutrinas e milagres; que a Escritura nos manda
escutar esta Igreja que é a coluna e a base da verdade.
É neste sentido que São João instrui os
fiéis, no capítulo IV de sua primeira Epístola. Depois de ter dito: Examinai os
espíritos, para saber se são de Deus, São João lhes prescreve este mesmo método
geral para testar a fé quando diz: Quem conhece Deus nos ouve, quer dizer, ouve
aos apóstolos e seus sucessores; Quem não é de Deus não nos ouve. É nisto que
reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro.Nosso comentador
acrescenta: Não obstante é muito conveniente que os fiéis possuam, segundo a
capacidade de cada um, as razões mais particulares e as provas especiais, a fim
de poder responder a quem quer que seja.
A palavra de São Pedro e as explicações de
nosso comentador far-lhe-ão ver bem o que deve ser a fé dos cristãos. Nós só
temos ainda uma palavra para dizer, que será a prece dos apóstolos a Nosso
Senhor: Adauge nobis fidem! – Senhor aumentai-nos a fé! (Luc. XVII,53). Digamos
juntos: Credo.
Cartas
sobre a fé - Pe. Emmanuel-André
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