A
Consagração a Nossa Senhora ensinada por São Luís Maria de Montfort é uma consagração
simples, porém total, da pessoa inteira, como fala na própria fórmula da
consagração, em “corpo, alma, bens exteriores, bens interiores, valor das obras
boas passadas, presentes e futuras.” Segundo o próprio São Luís, consagramos a
Deus, por Maria, tudo o que fazemos; é o valor espiritual de todas as nossas
obras de virtude, que não são nossas, senão do próprio Deus em nós.
Três aspectos são realçados nesta consagração:
-
Valor meritório: Aumenta o nosso grau de glória no céu, preparando-nos para a
eternidade;
-
Valor satisfatório: Diminui a nossa eventual pena no purgatório, livrando-nos o
mais rápido possível da ausência plena da visão beatífica;
-
Valor impetratório: É o valor que podemos “aplicar”, oferecendo uma obra de
virtude por uma intenção em particular, uma intercessão por uma causa justa e
santa. Por esta consagração, nós nos entregamos inteiros à Virgem e, inclusive,
entregamos o valor das nossas boas obras, nos despojando daquilo que seria um
“direito” nosso, para que Ela possa dispor deste valor livremente, e usar da
forma como for melhor.
Pode parecer “estranho” o nome de “Escravidão
a Nossa Senhora”, mas esta expressão deve ser compreendida em seu significado
espiritual. É no mesmo sentido que a Virgem Maria se apresentou ao Arcanjo São
Gabriel na Anunciação: “Eis aqui a Escrava do Senhor, faça-se em mim conforme a
Tua Palavra” (Lc 1,38). Dá-se também no sentido do que Jesus viveu, como diz
São Paulo aos Filipenses (Fl 2, 7): “Aniquilou-se a si mesmo, assumindo a
condição de Escravo”. São Luís mostra que naquela época não existiam “servos/
empregados” como existe hoje, e existia apenas “escravo”. A diferença é que o
servo não depende totalmente do seu senhor, o escravo depende! A Virgem, em sua
liberdade, é Escrava por Amor, porque quis se entregar inteiramente ao Serviço
do Seu Amado, do Deus que Ela ama! Por esta consagração total, seguimos o
exemplo da Virgem, nos entregando, por amor, para sermos “escravos de Jesus”,
ou “escravos de Jesus por Maria”, ou ainda “escravos de Maria”. Todos estes termos
estão corretos, diz São Luís, entendendo bem o seu significado. E por esta
Consagração, seguimos também o exemplo de Jesus, que se submeteu totalmente à
Sua Santíssima Mãe quando se encarnou e foi gerado por Ela!
Não há nenhuma prática exterior obrigatória
para que a Consagração se efetive. Pelo contrário: São Luís fala no Tratado (n.
226) que a Consagração é essencialmente interior, espiritual. Assim, é uma
forma de viver, de ser cristão no mundo de hoje: disponível, sujeito sempre a
Deus, obediente, consagrado de modo total e irrepreensível. Apesar disso,
também externamente aquele que se consagrou é chamado a praticar seu amor à
Virgem e a Deus através da oração do Rosário, do Magnificat, da prática da
penitência e trazer junto de si um sinal externo de sua Consagração, como uma
medalha, um crucifixo.
A preparação que antecede à consagração é de
30 dias de oração, no mínimo. São recomendáveis, mas não obrigatórias, nem são
necessárias para que a consagração seja válida. Mas seria bom que se meditasse
sobre a vontade de Deus, se fizesse jejum e se intensificasse suas orações
cotidianas. Também há uma lista de orações e textos que se encontram no
apêndice do “Tratado” e que se pede para fazer: 12 dias preliminares pedindo o
desapego do mundo, rezando a cada dia “Veni, Creator Spiritus” e “Ave Maris
Stela”. E também:
-
1ª semana (6 dias) pedindo o conhecimento de si mesmo, rezando a cada dia
“Ladainha do Espírito Santo” e “Ladainha de Nossa Senhora”.
-
2ª semana (6 dias) pedindo o conhecimento da Virgem Maria, rezando a cada dia
“Ladainha do Espírito Santo”, “Ave Maris Stela” e um Terço.
-
3ª semana (6 dias) pedindo o conhecimento de Nosso Senhor, rezando a cada dia a
“Ladainha do Espírito Santo”, “Ave Maris Stela”, “Oração de Santo Agostinho”,
“Ladainha do Ssmo. Nome de Jesus” e “Ladainha do Sagrado Coração de Jesus”.
Depois desse período, faz-se a consagração
num dia qualquer. Não existe uma data específica para que a Consagração seja
feita; não há evidências disso no “Tratado”, mas o costume é que seja em uma
data mariana. No dia da Consagração se deve comungar (estando devidamente
preparado, evidentemente; recomenda-se inclusive a confissão no próprio dia, se
possível), se escreve a fórmula da consagração (se encontra no final do
Tratado, chamada “Consagração de si mesmo a Jesus Cristo, Sabedoria Encarnada,
pelas mãos de Maria”) e se assina, normalmente diante de um sacerdote, atestando
a consagração interior. Recomenda-se ainda que neste dia se faça alguma forma
de penitência (n. 231-232). A Consagração é feita uma vez na vida e, portanto,
é importante que se faça com total liberdade e consciência. Ela deve ser
renovada a cada ano, com data específica e nova assinatura
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