A
Festa da Transfiguração do Senhor, celebrada no Oriente desde o século V,
celebra-se no Ocidente desde 1457. Situada antes do anúncio da Paixão e da
Morte, a Transfiguração prepara os Apóstolos para a compreensão desse mistério.
Quase com o mesmo objetivo, a Igreja celebra esta festa quarenta dias antes da
Exaltação da Cruz, a 14 de Setembro. A Transfiguração, manifestação da vida
divina, que está em Jesus, é uma antecipação do esplendor, que encherá a noite
da Páscoa. Os Apóstolos, quando virem Jesus na sua condição de Servo, não
poderão esquecer a sua condição divina.
Jesus manda os seus discípulos rezar. Hoje,
toma à parte os seus prediletos, Pedro, Tiago e João, para os fazer rezar mais
longa e intimamente. Estes três representam particularmente os pontífices, os
religiosos, as almas chamadas à perfeição. Para rezar Jesus gosta da solidão, a
montanha onde reina a paz, a calma, onde pode ver-se a grandeza da obra divina
sob o céu estrelado durante as belas noites do Oriente. A transfiguração é uma
visão do céu. É uma graça extraordinária para os três apóstolos. Não nos
devemos agarrar às graças extraordinárias que são por vezes o fruto da
contemplação. Pedro agarra-se a isso. Engana-se. Queria ficar lá: «Façamos três
tendas», diz. Não sabia o que dizia. A visão desaparece numa nuvem.
Há aqui uma lição para nós. Entreguemo-nos à
oração habitual, à contemplação. Não desejemos as graças extraordinárias. Se
vierem, não nos agarremos a elas. Os frutos desta festa são, em primeiro lugar,
o crescimento da fé. Os apóstolos testemunham-nos que viram a glória do
Salvador. «Não são fábulas que vos contamos, diz S. Pedro (2Pd 1, 16), fomos
testemunhas do poder e da glória do Redentor. Ouvimos a voz do céu sobre a
montanha gritando-nos no meio dos esplendores da transfiguração: É o meu Filho
bem-amado, escutai-o». S. Paulo encoraja a nossa esperança recordando a lembrança
da glória do salvador manifestada na transfiguração e na ascensão: «Veremos a
glória face a face, diz, e seremos transfigurados à sua semelhança» (2Cor 3,
18). – Esperamos o Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, que transformará o
nosso corpo terrestre e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso» (Fil 3,
21). Mas este mistério é, sobretudo, próprio para aumentar o nosso amor por
Jesus.
Nosso Senhor manifestou-nos naquele dia toda
a sua beleza. O seu rosto era resplandecente como o sol. Os apóstolos, testemunhas
da transfiguração, estavam totalmente inebriados de amor e de alegria. «Que bom
é estar aqui», dizia S. Pedro. «Façamos aqui a nossa tenda». A beleza de Cristo
transfigurado, contemplada pelo pintor Rafael, inspirou-lhe a obra-prima da
arte cristã. Nosso Senhor falava então da sua Paixão com Moisés e Elias: nova
lição de amor por nós. O Coração de Jesus, mesmo na sua glória, não pensa senão
em nós e nos sacrifícios que quer fazer por nós. Lições também de penitência,
de reparação, de compaixão pelo Salvador. Porque teve de sofrer tanto para nos
resgatar, choremos os nossos pecados, amemos o nosso Redentor, consolemo-lo.
Este é o meu Filho muito amado: Escutai-o. –
A voz do Pai celeste diz-nos: “Escutai-o”, palavra cheia de sentido, como todas
as palavras divinas. Deus dá-nos o seu divino Filho por guia, por chefe, por
mestre. Escutai-o, fala-nos nas leis santas do Evangelho e nos conselhos de
perfeição. Fala-vos nas vossas santas regras, se sois religiosos; no vosso
regulamento de vida, se sois do mundo. Fala-vos pelos vossos superiores, pelo
vosso diretor. Têm a missão para vos dizer a vontade divina. Fala-vos pela sua
graça, na oração, na união habitual com ele. A palavra de Deus nunca vos falta,
é a vossa docilidade que falta habitualmente. Esta palavra divina - «Escutai-o»
- espera de vós uma resposta. Não basta apenas uma promessa vaga: «hei-de
escutar». É preciso uma disposição habitual: «escuto, escuto sempre; falai,
Senhor, o vosso servo escuta». Escutarei no começo de cada ação, para saber o que
devo fazer e como devo fazê-lo. (Leão Dehon, OSP 4, p. 132s.).
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