Em
sua mensagem pelo 87º Dia Mundial das Missões divulgada hoje e que se celebra
em 20 de outubro, o Papa Francisco afirma que todo batizado tem o dever de
anunciar o Evangelho, Cristo, mas este anúncio não pode fazer-se sem a Igreja. O Santo Padre
explica também que para este anúncio a pessoa deve ser capaz de aceitar a fé e
deve ter a coragem de pôr sua confiança em Deus.
As origens deste Dia remontam ao ano 1926,
quando a Obra da Propagação da Fé, por sugestão do Círculo missionário do
Seminário da cidade italiana de Sassari, propôs ao Papa Pio XI convocar um dia
anual a favor da atividade missionária da Igreja universal. A petição foi
acolhida favoravelmente e no ano seguinte (1927) foi celebrado o primeiro
"Dia Mundial das Missões para a propagação da fé", estabelecendo que
este seja comemorado cada penúltimo domingo de outubro, tradicionalmente
reconhecido como mês missionário por excelência.
A seguir a íntegra da mensagem do Papa
Francisco:
"Queridos
irmãos e irmãs,
Este ano celebramos o Dia Mundial das Missões
enquanto se está concluindo o Ano da Fé, ocasião importante para reforçar a
nossa amizade com o Senhor e o nosso caminho como Igreja que anuncia com
coragem o Evangelho. Nesta perspectiva, gostaria de propor algumas reflexões.
1.
A fé é um dom precioso de Deus, o qual abre a nossa mente para que possamos
conhecê-Lo e amá-Lo. Ele quer entrar em relação conosco para fazer-nos
participar da sua própria vida e tornar a nossa
vida mais cheia de significado, melhor, mais bela. Deus nos ama! A fé, porém,
pede para ser acolhida, pede, isso é, a nossa resposta pessoal, a coragem de
confiar-nos a Deus, de viver o seu amor, gratos pela sua infinita misericórdia.
É um dom, então, que não é reservado a
poucos, mas que vem oferecido com generosidade. Todos deveriam poder
experimentar a alegria de sentir-se amado por Deus, a alegria da salvação! E é
um dom que não se pode ter só para si mesmo, mas que deve ser compartilhado. Se
nós queremos tê-lo somente para nós mesmos, nos tornaremos cristãos isolados,
estéreis e doentes.
O anúncio do Evangelho faz parte do ser
discípulos de Cristo e é um empenho constante que anima toda a vida da Igreja.
"O zelo missionário é um sinal claro da maturidade de uma comunidade
eclesial". Toda comunidade é "adulta" quando professa a fé,
celebra-a com alegria na liturgia, vive a caridade e anuncia sem cessar a
Palavra de Deus, saindo do próprio recinto para levá-la também às
"periferias", sobretudo a quem não teve ainda a oportunidade de
conhecer Cristo.
A solidez da nossa fé, em nível pessoal e
comunitário, é medida também pela capacidade de comunicá-la aos outros, de
difundi-la, de vivê-la na caridade, de testemunhá-la a quantos nos encontram e
partilham conosco o caminho da vida.
2.
O Ano da Fé, a cinquenta anos do início do Concílio Vaticano II, é de estímulo
para que toda a Igreja tenha uma renovada consciência da sua presença no mundo
contemporâneo, da sua missão entre os povos e as nações. A missionariedade não
é somente uma questão de territórios geográficos, mas de povos, de culturas e
de indivíduos, propriamente porque os "confins" da fé não atravessam
somente lugares e tradições humanas, mas o coração de cada homem e de cada
mulher.
O Concílio Vaticano II destacou de modo
especial como a tarefa missionária, a tarefa de alargar os confins da fé, seja
própria de cada batizado e de todas as comunidades cristãs: "Porque o povo
de Deus vive nas comunidades, especialmente naquelas diocesanas e paroquiais, e
nessas de todo modo aparece de forma visível, cabe também a estas comunidades
dar testemunho de Cristo diante das nações".
Toda comunidade é então interpelada e
convidada a fazer próprio o mandato confiado por Jesus aos Apóstolos de ser
suas "testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até os
confins da terra", não como um aspecto secundário da vida cristã, mas como
um aspecto essencial: todos somos enviados nas estradas do mundo para caminhar
com os irmãos, professando e testemunhando a nossa fé em Cristo e fazendo-nos
anunciadores do seu Evangelho.
Convido os Bispos, os Presbíteros,
os Conselhos presbiterais e pastorais, toda pessoa e grupos responsáveis na
Igreja a dar ênfase à dimensão missionária nos programas pastorais e
formativos, sentindo que o próprio compromisso apostólico não é completo se não
contém o propósito de "dar testemunho de Cristo diante das nações",
diante de todos os povos. A missionariedade não é somente uma dimensão
programática na vida cristã, mas também uma dimensão paradigmática que abrange
todos os aspectos da vida cristã.
3.
Muitas vezes a obra de evangelização encontra obstáculos não somente em seu
lado externo, mas dentro da própria comunidade eclesial. Às vezes são frágeis o
fervor, a alegria, a coragem, a esperança no anunciar a todos a Mensagem de
Cristo e no ajudar os homens de nosso tempo a encontrá-Lo. Às vezes se pensa
ainda que levar a verdade do Evangelho seja fazer violência à liberdade.
Paulo VI tem palavras iluminadoras quanto a
isso: "Seria…um erro impor qualquer coisa à consciência dos nossos irmãos.
Mas propor a esta consciência a verdade evangélica e a salvação de Jesus Cristo
com plena clareza e no respeito absoluto das livres opiniões que essa fará…é
uma homenagem a esta liberdade".
Devemos ter sempre a coragem e a alegria de
propor, com respeito, o encontro com Cristo, de fazer-nos portadores do seu
Evangelho. Jesus veio em meio a nós para indicar o caminho de salvação, e
confiou também a nós a missão de fazê-lo conhecer a todos, até os confins da
terra. Muitas vezes vemos que são a violência, a mentira, o erro a serem
colocados em destaque e propostos.
É urgente fazer resplandecer no nosso tempo a
vida boa do Evangelho com o anúncio e o testemunho, e isto a partir do interior
da própria Igreja. Porque, nesta perspectiva, é importante não esquecer nunca
um princípio fundamental para todo evangelizador: não se pode anunciar Cristo
sem a Igreja. Evangelizar não é nunca um ato isolado, privado, mas sempre
eclesial.
Paulo VI escrevia que "quando o mais
desconhecido pregador, missionário, catequista ou pastor anuncia o Evangelho,
reúne a comunidade, transmite a fé, administra um Sacramento, mesmo se está
sozinho, cumpre um ato de Igreja". Ele não age "por uma missão
atribuída a si mesmo, nem em força de uma inspiração pessoal, mas em união com
a missão da Igreja e em nome dessa" (ibidem). E isto dá força à missão e
faz cada missionário e evangelizador sentir que não está nunca sozinho, mas faz
parte de um único Corpo animado pelo Espírito Santo.
4.
Na nossa época, a mobilidade difusa e a facilidade de comunicação através das
novas mídias têm fundido entre eles os povos, os conhecimentos, as
experiências. Por motivo de trabalho, famílias inteiras se deslocam de um
continente a outro; as trocas profissionais e culturais, então, o turismo e
fenômenos análogos empurram a um amplo movimento de pessoas.
Às vezes se torna difícil mesmo para as
comunidades paroquiais conhecer de modo seguro e aprofundado quem está de
passagem ou quem vive estavelmente no território. Além disso, em áreas sempre
mais amplas das regiões tradicionalmente cristãs cresce o número daqueles que
são estranhos à fé, indiferentes à dimensão religiosa ou animados por outras
crenças. Não raramente, então, alguns batizados fazem escolhas de vida que lhes
conduzem para longe da fé, tornando-se assim necessitados de uma "nova evangelização".
A tudo isto se soma o fato de que ainda uma
ampla parte da humanidade não foi alcançada pela boa notícia de Jesus Cristo.
Vivemos, então, em um momento de crise que toca vários setores da existência,
não somente aquele da economia, das finanças, da segurança alimentar, do
ambiente, mas também aquele do sentido profundo da vida e dos valores
fundamentais que a animam.
Também a convivência humana é marcada por
tensões e conflitos que provocam insegurança e cansaço de encontrar o caminho
para uma paz estável. Nesta complexa situação, onde o horizonte do presente e
do futuro parecem caminhos de nuvens ameaçadoras, torna-se ainda mais urgente
levar com coragem em toda realidade o Evangelho de Cristo, que é anúncio de
esperança, de reconciliação, de comunhão, anúncio da proximidade de Deus, da
sua misericórdia, da sua salvação, anúncio de que o poder de amor de Deus é
capaz de vencer as trevas do mal e guiar no caminho do bem.
O homem do nosso tempo tem necessidade de uma
luz segura que ilumina a sua estrada e que somente o encontro com Cristo pode
dar. Levemos a este mundo, com o nosso testemunho, com amor, a esperança doada
pela fé! A missionariedade da Igreja não é proselitismo, mas sim testemunho de
vida que ilumina o caminho, que leva esperança e amor. A Igreja – repito mais
uma vez – não é uma organização assistencial, uma empresa, uma ONG, mas é uma
comunidade de pessoas, animadas pela ação do Espírito Santo, que têm vivido e
vivem a maravilha do encontro com Jesus Cristo e desejam partilhar esta experiência
de profunda alegria, partilhar esta Mensagem de salvação que o Senhor nos
trouxe. É propriamente o Espírito Santo que guia a Igreja neste caminho.
5.
Gostaria de encorajar todos a fazerem-se portadores da boa notícia de Cristo e
sou grato de modo particular aos missionários e as missionárias, aos
presbíteros fidei donum, aos religiosos e às religiosas, aos fiéis leigos –
sempre mais numerosos – que acolhendo o chamado do Senhor, deixam a própria
pátria para servir o Evangelho em terras e culturas diferentes. Mas gostaria
ainda de destacar como as próprias jovens Igrejas estão se empenhando
generosamente no envio de missionários às Igrejas que se encontram em
dificuldade – não raramente Igrejas de antigo cristianismo – levando assim o
frescor e o entusiasmo com o qual vivem a fé que renova a vida e doa esperança.
Viver este alento universal, respondendo ao
mandato de Jesus "ide, portanto, e fazei discípulos todos os povos" é
uma riqueza para toda Igreja particular, para toda comunidade, e doar missionários
e missionárias não é nunca uma perda, mas um ganho. Faço apelo a quantos
percebem tal chamado a corresponder generosamente à voz do Espírito, segundo o
próprio estado de vida, e a não ter medo de ser generoso com o Senhor.
Convido também os Bispos, as famílias
religiosas, as comunidades e todas as agregações cristãs a apoiar, com
clarividência e atento discernimento, o chamado missionário ad gentes e de
leigos para reforçar a comunidade cristã. E esta deveria ser uma atenção
presente também entre as Igrejas que fazem parte de uma mesma Conferência
Episcopal ou de uma Região: é importante que as Igrejas mais ricas de vocações
ajudem com generosidade aquelas que sofrem pela sua escassez.
Junto a isso exorto os missionários e as
missionárias, especialmente os presbíteros fidei donum, e os leigos a viver com
alegria o seu precioso serviço nas Igrejas às quais são enviados, e a levar a
sua alegria e a sua experiência às Igrejas da qual partiram, recordando como
Paulo e Barnabé ao término da sua primeira viagem missionária "referindo
tudo aquilo que Deus tinha feito com eles e como tinha aberto aos gentios a
porta da fé". Esses podem transformar um caminho para uma espécie de
"restituição" da fé, levando o frescor das jovens Igrejas, a fim de
que as Igrejas de antigo cristianismo reencontrem o entusiasmo e a alegria de
partilhar a fé em uma troca que é enriquecimento recíproco no caminho de seguir
o Senhor.
A solicitude para com todas as Igrejas, que o
Bispo de Roma partilha com os irmãos Bispos, encontra uma importante atuação no
compromisso das Pontifícias Obras Missionárias, que têm o foco de animar e
aprofundar a consciência missionária de cada batizado e de cada comunidade,
seja chamando a atenção para a necessidade de uma mais profunda formação
missionária de todo Povo de Deus, seja alimentando a sensibilidade das
Comunidades cristãs a oferecer a sua ajuda em favor da difusão do Evangelho no
mundo.
Um pensamento enfim dirijo aos cristãos que,
em várias partes do mundo, encontram-se em dificuldade no professar abertamente
a própria fé e no ver reconhecido o direito de vivê-la dignamente. São nossos
irmãos e irmãs, testemunhas corajosas – ainda mais numerosos que os mártires
nos primeiros séculos – que suportam com perseverança apostólica as várias
formas atuais de perseguição. Não poucos arriscam mesmo a vida para permanecer
fiéis ao Evangelho de Cristo. Desejo assegurar que sou próximo com a oração às pessoas, às
famílias e às comunidades que sofrem violência e intolerância e repito as
palavras consoladoras de Jesus: ‘Coragem, eu venci o mundo’.
Bento XVI exortava:
"A Palavra do Senhor se propague e seja glorificada": possa este Ano
da Fé tornar sempre mais equilibrado o relacionamento com Cristo Senhor, porque
somente Nele está a certeza para olhar para o futuro e a garantia de um amor
autêntico e duradouro". É o meu desejo para o Dia Mundial das Missões
deste ano. Abençoo de coração os missionários e as missionárias e todos aqueles
que acompanham e apoiam este compromisso fundamental da Igreja a fim de que o
anúncio do Evangelho possa ecoar em todos os cantos da terra, e nós, ministros
do Evangelho e missionários, experimentemos "a doce e confortante alegria
de evangelizar".
Do
Vaticano, 19 de maio de 2013, Solenidade de Pentecostes
Francisco
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