A
relação entre a 1ª leitura — narrando a queda do homem pelo pecado primordial —
e o Evangelho, narrando a atividade de Jesus para expulsar o mal, é muito
ilustrativa. Pela queda no pecado, a família humana ficou à mercê do mal, ficou
sujeita ao mal com todas as conseqüências que o mal promove e provoca na vida
humana. O Evangelho, narrando a atividade de Jesus contra o mal, mostra o outro
caminho: aquele de se afastar do mal e buscar Jesus, para se viver longe do
pecado, do mal e da maldade. A ação de Jesus tem a finalidade, no dizer de
Paulo, de abandonar o antigo Adão, abandonar o homem velho e fazer-se
participante de um novo modo de viver, aquele de quem contempla a presença
divina em nossas vidas, como dizia a 2ª leitura. O relacionamento com o pecado,
dizia a 1ª leitura, é marcado pelo medo, nudez e fuga. É a conseqüência do
pecado na vida humana. Uma situação de medo, de nudez e de fuga. Quem vive no
pecado vive fugindo, vive se escondendo por se sentir desnudado de vida.
Desde o pecado original, o homem e a mulher
como que ficaram sem rumo na vida. Em vez de decidir, permitiram que a serpente
os enganasse e decidisse em seu lugar. Surge um mundo e uma sociedade onde vale
tudo: corrupção, injustiças, violências, mentira e morte. Mas Deus, que não
suporta ver o homem errando na vida, aponta outro caminho; um caminho de
esperança, de bondade e de convivência fraterna. Para torná-lo viável envia seu
Filho, o homem novo, que repele, afasta e cura as feridas do pecado. A ação
divina, em Jesus Cristo, pretende refazer a criação do homem, criando uma nova
geração; uma nova humanidade, que não cede ao mal, mas vive alimentando-se com
o bem e com a bondade. Deus não quer a vida humana marcada pelo pecado, pela
desordem e pelo desrespeito de uns para com os outros, mas uma família humana
capaz de viver a fraternidade e a solidariedade de modo fraterno. Quem assim se
aproxima de Deus reconhece, juntamente com o salmista, a grandeza da misericórdia
divina, pois se Deus levar em conta as nossas faltas, quem poderá sobreviver?
Mas, não, ele não considera nosso pecado, perdoa e possibilita a vida ser
vivida na liberdade no amor.
Numa das passagens do Evangelho, ouvimos
Jesus dizendo que não veio para os sadios, mas para os que precisam de médico: “os
sãos não precisam de médico, mas os enfermos” (Mc 2,17). Ele não veio para os
bons, mas para os pecadores. Marcos faz questão de mostrar Jesus cercado de
gente oprimida. É no meio dessa gente que ele, Jesus, se sente em casa; é aí
que revela quem ele é e que sua missão consiste em salvar da morte do pecado. A
casa de Jesus é onde se reúnem os sofredores de toda espécie, a ponto de Jesus
e seus discípulos não terem tempo sequer para tomar refeição. Aqueles que
sofrem as maiores conseqüências do pecado pessoal e do pecado social buscam no
Mestre um caminho novo e uma segurança. Marcos apresenta Jesus como aquele que
expulsa Satanás, que liberta do mal e dá nova vida. Jesus é mais forte que o
mal, mais forte que a morte, mais forte que as opressões que causam o mal. É a
ele que buscamos, a ele que devemos buscar para participar da sua misericórdia
e começar a viver com uma vida nova e renovada. O que conta não é o pecado, mas
a força da graça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Você pode deixar seu comentário ou sua pergunta. O respeito e a reverência serão sempre bem vindas.