Primeiramente
devemos distinguir entre a “iconografia sagrada pagã” e a “iconografia sagrada
cristã”; a pagã, representa “divindades” e “espíritos” de qualquer outra
religião não judaico-cristã. A cristã recorre a temas tanto veterotestamentários,
como neotestamentários – esses postos mais em evidência. A
iconografia cristã, segundo a tradução, é representação, através de
interpretações plásticas, de Deus, Cristo, Maria e dos Santos como também das
verdades reveladas aos homens sobre os desígnios de Deus, consignados nos
Livros Sagrados. Tais representações, que tinham por finalidade relembrar aos
fiéis a vivência do calendário litúrgico, têm oferecido aos artistas rico e
variado repertório de temas.
Nos
primórdios de nossa era, o Cristianismo e, consequentemente, a Arte Cristã
desenvolve-se nas catacumbas. As manifestações artísticas desse período
apresentam características de manifestações ingênuas, hieráticas com simbolismo
da mitologia pagã. Até
o início do século IV, Cristo era representado como o Bom Pastor, levando aos
ombros um cordeiro ou ovelha. E a documentação representando a cruz é
raríssima, provavelmente por considerá-la um instrumento “infame” para suplicio
de Cristo, embora fosse preocupação apostólica lembrar a imagem ou figura da
cruz como instrumento de salvação. Já as cenas alusivas à paixão de Cristo não
eram encontradas uma vez que podiam ferir o sentimentalismo dos primeiros
fiéis.
Da
Idade Média em diante, tornaram-se freqüentes as representações iconográficas relacionadas
à vida, paixão e morte de Cristo e outros temas da Sagrada Escritura, históricos
ou lendários, sobre a vida dos santos, embora persistissem os temas pagãos e os
motivos clássicos, transformados ou adaptados às idéias cristãs.
No
início da Era Moderna, a iconografia buscou inspiração no passado greco-latino,
redescobrindo a perspectiva, o uso da luz e das cores e revelando marcada
tendência antropocêntrica. No período do Barroco, quando a reforma responde a
Contra-Reforma, reuniu-se em Trento em Concílio para afirmar o dogma católico e
a oposição entre a concepção pagã da vida e as aspirações místicas cristãs,
sendo também objeto de discussão a iconografia.
A
partir do Barroco, a representação da Vida, Paixão e Morte de Cristo ganhou
destaque na iconografia cristã. Com isso, a figura a Virgem Maria também era
lembrada. Portanto, a iconografia dessa época revela já várias invocações a
Maria. À representação da Virgem Maria, segue-se a iconografia dos santos,
invocados como protetores, festejados como padroeiros e largamente difundidos
pela cultura ibérica. Cada enfermidade tem, até hoje, seu protetor; cada apuro,
seu advogado; cada camada social, seu patrono; cada profissão, seu guia. A eles
estão ainda ligadas vilas, cidades e acidentes geográficos, por terem sido
fundados ou descobertos quando o calendário a respectiva festa.
As
particularidades de cada invocação influíram sobremaneira nas representações
plástico-religiosas, com elementos iconográficos da arte ocidental e oriental,
aparecem na arte colonial brasileira.
Podemos
representar a iconografia mariana em cinco blocos:
Mistérios da vida de Maria. Por exemplo: seu
nascimento, suas dores, sua assunção.
Graças ou Privilégios. Por exemplo: Mãe de
Deus, Mãe dos homens, Senhora dos anjos.
Necessidades dos homens. Por exemplo: Amparo,
dos Remédios, da Boa Morte.
Lugares. Por exemplo: Nazaré, Fátima,
Lourdes.
Devoções particulares. Por exemplo: Rosário,
Pantanal, Neves.
Só
poderemos descobrir muitas vezes as diferenças entre as invocações a partir do
“atributo”, que são objetos, vestimentas, pessoas ou circunstâncias onde a
representação está inserida, ou ainda, gestos. Assim distinguiremos, por
exemplo, “Nossa Senhor da Conceição” de “ Nossa Senhora da Assunção”: Ambas
podem ter anjos e lua aos seus pés, mas a primeira está de mãos postas e suas
roupas caídas em direção ao corpo; já a Assunção está de braços erguidos ou
soltos do corpo, com suas vestes esvoaçantes representando o movimento de sua
elevação ao céu.
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