Pessoas
completamente mundanas nunca entendem sequer o mundo; elas confiam plenamente
numas poucas máximas cínicas não verdadeiras. Lembro-me de que, certa vez, fiz
um passeio com um editor de sucesso, e ele fez uma observação que eu ouvira
muitas vezes antes; é, na verdade, quase um lema do mundo moderno. Todavia, eu
ouvi essa máxima cínica mais uma vez e não me contive: de repente vi que ela
não dizia nada. Referindo-se a alguém, disse o editor: "Aquele homem vai
progredir; ele acredita em si mesmo". Lembro-me de que, quando levantei a
cabeça para escutar, meus olhos se fixaram num ônibus no qual estava escrito "Hanwell".
Disse-lhe eu então: "Quer saber onde ficam os homens que acreditam em si
mesmos? Eu sei. Sei de homens que acreditam em si mesmos com uma confiança mais
colossal do que a de Napoleão ou César. Sei onde arde a estrela fixa da certeza
e do sucesso. Posso conduzi-lo aos tronos dos super-homens. Os homens que
realmente acreditam em si mesmos estão todos em asilos de lunáticos".
Ele disse calmamente que, no fim das contas, havia
um bom número de homens que acreditavam em si mesmos e que não eram lunáticos
internados em asilos. "Sim, certamente", retruquei, "e você mais
do que ninguém deve conhecê-los. Aquele poeta bêbado de quem você não quis
aceitar uma lamentável tragédia, ele acreditava em si mesmo. Aquele velho
ministro com um poema épico de quem você se escondia num quarto dos fundos, ele
acreditava em si mesmo. Se você consultasse sua experiência profissional em vez
de sua horrível filosofia individualista, saberia que acreditar em si mesmo é
uma das marcas mais comuns de um patife.
Atores que não sabem representar acreditam em
si mesmos; e os devedores que não vão pagar. Seria muito mais verdadeiro dizer que
um homem certamente fracassará por acreditar em si mesmo. Total autoconfiança
não é simplesmente um pecado; total autoconfiança é uma fraqueza. Acreditar
absolutamente em si mesmo é uma crença tão histérica e supersticiosa como
acreditar em Joanna Southcote: quem o faz traz o nome "Hanwell"
escrito no rosto com a mesma clareza com que ele está escrito naquele ônibus."
G. K. Chesterton, in “Ortodoxia”.
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