Em
sua coluna de 6 de outubro no New York Times, o escritor Ross Douthat assinalou
que a prova do êxito do Papa Francisco à frente da Igreja se verá na
prática, ao responder a perguntas como: "a Igreja crescerá ou se estancará
com a sua liderança? Seu estilo ganhará admiradores casuais ou ganhará
conversos, inspirará vocações, criará santos? Realmente mudará o mundo ou só
dará ao mundano outra desculpa para fechar seus ouvidos à mensagem moral da
Igreja?".
Douthat, que escreve para um dos jornais mais
agressivos com a Igreja
Católica, indicou que "para entender o Papa Francisco –seu propósito,
seu programa e seus ‘perigos potenciais’", é útil ver o caso dos judeus em
Nova Iorque, onde esta comunidade enfrenta uma diminuição desde a década de
1950. Entretanto, aponta o colunista do Times, "nos últimos 10 anos, os
números começaram a crescer outra vez, subindo 10 por cento entre 2002 e
2011". "Mas este crescimento se deu principalmente entre os judeus
ortodoxos. As populações conservadora e reformada continuaram caindo, tal como
aconteceu com a observância religiosa judia em geral".
O caso de Nova Iorque, disse, "está
acontecendo a nível nacional". Entretanto, não se trata somente dos judeus
nos Estados Unidos, indicou Douthat, mas esta tendência "foi a história da
religião no Ocidente por mais de 40 anos". "Os grupos mais
tradicionais foram relativamente resistentes. Os corpos mais liberais,
modernizantes, perderam membros, dinheiro, moral", assinalou. "Ainda
há um centro religioso hoje, mas não é institucionalmente judeu-cristão, da
mesma forma como era em 1945. Define-se como ministérios sem denominação,
‘espiritual, mas não religioso’, devoções e heresias antigas, reinventadas como
autoajuda".
Na "polarização" religiosa atual,
indica o analista, "você pode se aproximar a uma fé tradicional na
modernidade recente, somente na medida em que se separe da corrente principal
norte-americana e ocidental". "Não há meio termo, não há um centro ao
que aferrar-se por muito, e a tentativa de encontrar um rapidamente leva ao
alojamento, à deriva e dissolução".
Para Douthat "aqui é onde entra o Papa
Francisco, porque muito do entusiasmo ao redor do seu pontificado é uma
resposta a seu óbvio desejo de rejeitar estas alternativas –auto-segregação ou
rendição- a favor de um compromisso quase frenético com o mundo católico não
praticante, pós-católico e não católico". "O estilo e substância de
Francisco estão lançados muito mais agressivamente a um mundo que muitas vezes
deu as costas a seus predecessores", disse. "A sua deliberada
desmitificação do papado, suas entrevistas digressivas com os meios seculares e
religiosos, seus chamados a experimentar dentro da Igreja e o seu suave chamado
sobre os temas – aborto, matrimônio gay –
onde a religião tradicional e a cultura estão em agudo conflito: estas não são
mudanças doutrinais, mas são claros saltos estratégicos".
Ross Douthat assinalou, ademais, "a
reação incerta para com Francisco por parte de muitos católicos
conservadores", temerosos de que "o centro que ele está tentando
tomar desmorone sob seus pés, porque o abismo entre a cultura e a fé ortodoxa é
simplesmente muito imenso". "Eles se preocupam também porque já vimos
algo como esta estratégia tentada antes, quando na década de 1970, a Igreja
enfatizou a justiça social, a improvisação litúrgica e esse estilo
casual-fresco obteve decepcionantes resultados: não um rico compromisso com a
cultura moderna, mas uma rendição". Isto, disse, produziu uma liturgia de
mau gosto, Igrejas feias, "e em última instância bancos vazias nas
Igrejas". Mas, Douthat assinalou que o Papa Francisco é consciente desse
perigo, que deixou claro em suas advertências de não converter a Igreja em uma
ONG "ou contra reduzir o cristianismo a ‘tomar um caminho espiritual no
cosmos’". O analista concluiu sua coluna assinalando que "por seus
frutos saberemos" dos resultados do pontificado de Francisco, "mas
ainda não por algum tempo".
Fonte: ACI Digital
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