A
homilia é um verdadeiro “calcanhar de Aquiles” para muitos padres e diáconos.
Um momento sensível que pode causar até mal estar. Nervosismo, falta de clareza
nas ideias, pavor frente à assembleia e imprecisão nos conteúdos da fé têm trazido
a várias homilias o caos e o sofrimento, tanto para o pregador quanto ao povo
que o escuta. Uma grande reclamação é de que o pregador “fala muito e não diz
nada”; de fato, quanto mais se alonga uma homilia, mais chances existem dela se
perder no caminho da compreensão e enfadar quem a ouve. Mas perguntamos: existe
um tempo para a homilia? Ela é obrigatória? Em sua exortação apostólica Verbum
Domini, o Papa Bento XVI dedicou uma passagem à importância da homilia.
Vejamos o número 59:
Várias
tarefas e ofícios competem a cada um no tocante à Palavra de Deus: aos fiéis,
cabe ouvi-la e meditá-la; expô-la, porém, cabe apenas àqueles que, em virtude
da sagrada ordenação, têm a respectiva tarefa magisterial, ou àqueles a quem é
confiado o exercício deste ministério: os bispos, sacerdotes e diáconos. Daqui
a importância que o sínodo atribuiu à homilia. Já na exortação apostólica
pós-sinodal Sacramentum Caritatis, eu salientei que, "em
relação à importância da Palavra de Deus, há necessidade de melhorar a
qualidade da homilia. Ela faz parte da ação litúrgica; destina-se a promover
uma compreensão mais profunda da Palavra de Deus na vida dos fiéis.
A homilia é uma atualização da mensagem
bíblica, a fim de que os fiéis sejam levados a descobrir a presença e a
eficácia da Palavra de Deus na vida de hoje. Ela deve levar à compreensão do
mistério que se celebra, convocar para a missão, dispondo a assembleia para a
profissão de fé, para a oração universal e para a liturgia eucarística. Como
resultado, quem por ministério específico deve pregar dedique-se de coração a
essa tarefa. Devem-se evitar homilias genéricas e abstratas que ocultam a
simplicidade da Palavra de Deus, bem como inúteis divagações que ameaçam chamar
mais atenção para o pregador do que para o coração da mensagem evangélica. Deve
ficar claro para os fiéis que o que está no coração do pregador é mostrar a
Cristo, que deve ser o centro de cada homilia. Isto exige que os pregadores
tenham confiança e constante contato com o texto sagrado e se preparem para a
homilia na meditação e na oração, a fim de pregar com paixão e convicção.
A assembleia sinodal exortou a se fazerem as
seguintes perguntas: o que dizem as leituras proclamadas? O que dizem a mim,
pessoalmente? O que devo dizer à comunidade, levando em conta a sua situação
específica? O pregador deve se deixar desafiar pela Palavra de Deus que
proclama, porque, como diz Santo Agostinho, "é inútil pregar exteriormente
a Palavra de Deus e não ouvi-la no próprio coração". Cuide-se com especial
atenção da homilia dos domingos e das solenidades, mas não se negligenciem as
das missas cum populo durante a semana: quando possível,
ofereçam-se breves reflexões, apropriadas à situação, para ajudar os fiéis a
receber e fazer frutificar a Palavra ouvida”.
Por
estes apontamentos percebemos que a homilia é um elemento fundamental,
obrigatório nos Domingos e Dias Santos e opcional nas Missa feriais (dias da
semana), mas não menos importante. As homilias dos Domingos e Solenidades podem
ser mais extensas, enquanto as da semana, simples, devem ser sempre breves. Este
é o desafio que a Igreja apresenta para a pregação de padres e diáconos! Infelizmente,
para muitos pregadores, o momento da homilia é a de tentar dizer tudo o que se
sabe daquele tema, tornando a homilia longa e cansativa; para outros é o
momento das piadas, de contar sobre a própria vida, tirando a sacralidade do
momento e tornando próximo a um momento de auditório; outros se aproximam ao
estilo protestante, interagindo com o povo e incitando emoções através de
gritos e músicas... Uma pregação num retiro ou num outro momento paralitúrgico
é bem diferente daquilo que entendemos por “homilia” e dentro da Missa.
A melhor homilia é aquela preparada por uma
meditação anterior à celebração, breve e principalmente proporcional a toda a
celebração. Infelizmente, estende-se na homilia e corre-se na Oração Eucarística...
Um erro. É claro que devem-se levar em conta vários fatores culturais; em algum
lugar, numa celebração especial de jubileu, de bodas, Festa do Padroeiro,
tomada de posse, despedida, certamente as falas serão mais prolongadas e é
quase impossível dar regras precisas. No entanto: temperança, visão pastoral,
bom senso e a preparação da homilia são coisas sem as quais não se pode deixar
de perceber numa boa homilia. A melhor homilia não é a longa nem a curta, é a
que se ouve com gosto e se insere, equilibradamente, no corpo da Celebração.
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