Temperamentos transformados

  Todos nós nascemos com certas características biológicas e psicológicas e somos inseridos numa família e num meio em que, gradualmente, acabamos nos forjando mais ainda nossa maneira de ser e de sentir as coisas. É verdade que cada um sente diferente, há a individualidade, mas também recebemos de nossa formação humana e espiritual muito do que somos hoje. Uma dessas coisas concretas é o “temperamento”. Conhecido também por “gênio” ou caráter, este fator é decisivo para a vivência em comum. Conversemos um pouco sobre isso.

  O temperamento, como dissemos, é fruto de um misto de fatores genéticos e sociais; nascemos com certas tendências e características que também vão sendo construídas a partir de nossa formação integral na família, na escola e no meio da própria sociedade. Algumas pessoas possuem um temperamento mais extrovertido e são mais abertos, outros um pouco introvertidos e se mostram mais fechados; outros, ainda, têm um gênio mais assertivo e impaciente e se mostram mais nervosos, outros mais pacíficos... Não importa se você é mais emotivo ou mais contido, mais expansivo ou mais tímido, ninguém passa despercebido neste mundo. Nosso temperamento nos insere em qualquer realidade e nesta mesma realidade acabamos assumindo papéis, ora de forma mais atraente, ora menos. Alguns gostam, outros não.

  Esses temperamentos trazem muitas características boas, mas também muitas imperfeições, que podem ser notadas já desde que somos crianças. Cabe aos pais e educadores ajudar as crianças e jovens a vencerem os defeitos de seus temperamentos e transformá-los em virtudes. Quando nem os pais e nem os educadores conseguirem essa façanha, cabe a nós mesmos nos transformar, corrigindo os defeitos de nosso temperamento e adquirindo as qualidades que não temos. Creio que o processo de correção do temperamento passe por três níveis:

Primeiro nível: Pelo dom espiritual. É Deus quem nos molda e nos ajuda a crescer. O Senhor nos conhece mais do que qualquer outra pessoa e, devemos por isso, ouvir a Deus na oração sobre nossos defeitos e pecados e implorar a Ele que nos mostre o que devemos fazer e o que devemos vencer no dia a dia.

Segundo nível: Pelo esforço pessoal. É necessário aprender a trabalhar em nós, nos vermos e nos avaliarmos sempre, tendo a humildade para perceber o que não é bom, o que não está certo e vencer através do autodomínio e dos sacrifícios.

Terceiro nível: Pela ajuda dos amigos. Aquelas pessoas que nos são caras e que estão próximas de nós percebem muito bem como nos portamos e podem nos ajudar através da correção fraterna, nos apontando com carinho, mas com verdade, aquilo que atrapalha nosso convívio na sociedade.

  A pessoa que corrige seus defeitos, que procura adquirir as qualidades que não possui de nascença ou de formação, torna-se o que chamamos de “pessoas de bom caráter”, virtuosas. Os santos que conhecemos conseguiram fazer justamente isso: transformaram os pecados e defeitos de seus temperamentos em santidade e em virtudes, formando um bom caráter. Por isso pedir a intercessão de um santo ou tê-lo como seu “mestre espiritual”, é uma boa coisa para moldar os temperamentos. Procure também conhecer quais são as suas boas e más tendências. Depois, anote tudo o que você precisa para ser melhor: deixar os vícios, as manias e, muitas vezes, o individualismo, o egoísmo e a vaidade.

  As renúncias e os sacrifícios feitos voluntariamente ajudam-nos a formar (e forjar) o nosso caráter. Exemplo: dormir sempre numa mesma hora, não muito tardia, não ficar muito tempo dormindo, procurar trabalhar sempre, aproveitar bem o tempo de estudo, ser humilde e aceitar as críticas que nos fazem, ser equilibrado na comida e na bebida, não ser “farrista” nem se meter com os que gostam desse tipo de vida, respeitar as pessoas, sejam elas mais velhas ou mais novas, respeitar a natureza, não destruindo nada, obedecer aos pais e superiores, manter uma vida de oração, procurar ser sempre amigo, confessar-se com regularidade e sempre que possível participar da Missa semanal, além da dominical.

Oração para pedir a mudança de temperamento:

Senhor Deus,/ que tanto nos quereis bem,/ ajudai-nos a transformar nossas vidas,/ a fim de que construamos um bom caráter,/ a partir das armas do amor, da renúncia e da oração que vós nos concedeis./ Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.