Descobri, há anos atrás, que no casamento, a cada ano se fazem bodas. As primeiras são de papel,
depois algodão, trigo e por aí vai. A décima terceira boda é de “linho ou renda”.
Com linho e renda foram feitos vestuário ou elementos de decoração para ajudar
a enfeitar a grande festa de casamento, mas também me surpreendi ao
lembrar que também a alva da ordenação e as alfaias da Missa eram de linho e
possuíam algumas rendas! Os dois juntos, linho e renda, parecem que foram
feitos mesmo um para o outro. Significam para o casal ou para mim que é tempo
de equilíbrio, de estabilidade, de harmonia na vocação.
Não sendo casado, as bodas se transformam em “jubileu”.
É este que fiz no último dia 29 de junho: treze anos de padre. É uma data que
me diz muito, e em cada ano me vai dizendo mais. Não penso nos treze anos,
penso no último: o que vivi, os amigos que ganhei e os que perdi, as exigências
da vida diocesana e da vida pastoral, dimensões da vida de um padre que vão
desabrochando, como uma semente que é lançada à terra e tem o seu tempo para
germinar e dar fruto. Este ano, sem dúvida, descobri mais um pouco o que
significa ser padre (pai), que precisa amar e precisa dar limites aos filhos. O
amor é logo compreendido, mas os limites nem sempre...
O dia da minha ordenação é verdadeiramente de
ação de graças. Como estou numa Paróquia dedicada a São Pedro, minha “festa” é
trabalhar bastante como padre neste dia. Não há comemorações pessoais; apenas
meu coração exulta em Deus e me vejo como São Pedro que quer amar a Deus e
apascentar o rebanho em seu nome e que também às vezes vacila na fé e tem de
pedir “socorra-me!”. Apesar de pedir sempre esse socorro, o dia 29 de junho é
para mim o dia de dizer: "A minha alma está agradecida ao Senhor como o
perfume das flores e a pureza das açucenas; ela se eleva ao Deus da minha
juventude, que é o meu rochedo e protetor". E é isso mesmo: uma vida
perfumada e, tanto quanto possível, pura, ou seja, sem maldade, sem rancores,
sem mágoas, apesar de às vezes achar que a cruz sacerdotal pese um tanto para
um lado ou para outro.
O dia 29 foi um dia de várias situações:
Ofereci o louvor a Deus logo pela manhã, ofereci o Santo Sacrifício, abençoei,
acolhi amigos, renovei meu sacerdócio... Foi um dia em que, mesmo cansado pelas
diversas ocupações de Domingo e de um dia de São Pedro, pude experimentar a
alegria de ser padre e de estar perseverando em Deus há treze anos. Foi também
um dia de reflexão: como estou sendo padre? É isso mesmo que Deus quer? O que
preciso modificar? Estou sendo um instrumento dócil a Deus? Tenho conduzido meu
rebanho à verdade, à piedade, ao Céu? Deus me quer ainda em São Pedro da
Aldeia? Anuncio, sem reservas, o nome de Jesus? Sou um sacerdote mariano? Sou
fiel à doutrina? Acolho quem devo acolher e exorto quem deve ser exortado?
Quantas coisas vieram e ainda vêm em meu coração...
O dia 29 de junho foi um dia de agradecimento
a Deus e de agradecer a quantos já encheram ou vão enchendo e preenchendo a
minha vida. De que me serviria ser padre se não tivesse pessoas a quem servir?
O que seria de um pastor se não tivesse rebanho? Ou de um professor se não
tivesse alunos? Ou de um agricultor se não tivesse terras para cultivar? A vida
de um padre é tudo isto e muito mais, porque um padre não pode viver para si,
mas terá sempre de viver para Deus e para os irmãos. Por isso, caro leitor, dê
graças a Deus comigo! E reze por mim, nas suas orações, para que a minha vida
seja como o perfume das flores e como a pureza das açucenas. E, que em cada dia
eu me vá tornando como São Pedro, para poder entrar no Reino dos Céus, com
portas abertas, sem mais necessidade de chaves!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Você pode deixar seu comentário ou sua pergunta. O respeito e a reverência serão sempre bem vindas.