Muitos
conhecem a história (que foi tema de uma peça de Georges Bernanos e uma ópera
de Francis Poulenc). No dia seguinte à Festa de Nossa Senhora do Monte Carmelo,
1794, dezesseis carmelitas de Compiègne subiram o patíbulo uma por uma,
cantando o Veni Creator – o hino entoado em sua profissão religiosa,
e foram decapitadas. O Tribunal Revolucionário havia produzido como prova de
sua traição um gravura do Sacratíssimo Coração de Jesus, juntamente com a
gravura de um dos reis depostos, que foram tiradas da parede do convento.
Quatro anos antes, a Assemblée Nationale
havia exigido que a Ordem Carmelita justificasse a sua existência. Madre
Nathalie de Jesus dirigiu-se à assembléia assim: “No mundo eles gostam de
difundir que os mosteiros contêm somente vítimas lentamente consumidas por
arrependimentos; mas proclamamos diante de Deus que se existir na terra a
felicidade verdadeira, nós a possuímos na penumbra do santuário, e que, se
tivéssemos que escolher entre o mundo e o claustro, nenhuma de nós deixaria de
ratificar com grande alegria a sua primeira decisão”.
A longa temporada penitencial para as
Carmelitas começa na Festa da Exaltação da Santa Cruz e dura até a Páscoa. Em
1792, as freiras de Compiègne foram separadas e forçadas a deixar seu querido
Carmelo e voltar ao mundo. Apenas poucos meses antes, elas haviam concordado
juntas em oferecer-se como vítimas à justiça divina para restaurar a paz na
França e na Igreja. Elas renovavam a sua oferta diariamente, continuando a se
encontrar secretamente durante dois anos, vestidas como leigas e se reunindo
para a oração em comum.
Elas foram descobertas em junho de 1794 e
aprisionadas na Conciergerie, onde outros clérigos e religiosos aguardavam seu
destino sob a lâmina da Madame La Guillotine. (Ironicamente, uma
Carmelita de sangue real escapou à morte porque por acaso estava ausente; ela
se tornou a primeira historiadora das mártires.) Em 17 de julho, um dia após a
Festa de Nossa Senhora do Monte Carmelo, elas foram chamadas diante do tribunal
e, na mesma cidade onde Santa Joana d’Arc três séculos antes havia sido
abandonada e entregue ao inimigo, foram condenadas à morte.
A Reverenda Madre Émilienne, Superiora Geral
das Irmãs da Caridade de Nevers, escreveu: “A mais jovem dessas boas Carmelitas
foi chamada primeiro. Ela se ajoelhou diante de sua venerável Superiora, pediu
sua benção e permissão para morrer. Em seguida, ela subiu ao patíbulo cantando Laudate
Dominum omnes gentes [o salmo entoado por Santa Teresa de Ávila 190 anos
antes na fundação do novo Carmelo]. Então, ela mesma colocou-se debaixo da
lâmina. Todas as demais fizeram a mesma coisa. A Venerável Madre foi a última
sacrificada. Durante o tempo todo, não havia um único rufar de tambores; mas
reinava um silêncio profundo”. Outra testemunha disse que as freiras pareciam
radiantes, como se elas estivessem indo para seus casamentos.
Dez dias mais tarde, Robespierre seria
executado no mesmo local, e o governo revolucionário interino chegaria ao fim.
O sacrifício das Carmelitas – juntamente com incontáveis outras pessoas
assassinadas pela fé na França revolucionária – haviam ascendido como uma doce
oblação a Deus.
Em 1906, o Papa São Pio X beatificou as
mártires Carmelitas, cujos corpos foram sepultados em uma sepultura comunitária
no Cimetière de Picpus, a 500 metros da Place de la Nation. Uma placa discreta
na parede do cemitério lhes serve de epitáfio, e o nome de cada irmã morta pela
Fé está gravado nela. A história delas é apenas uma dentre muitas que ocorreram
em toda a França durante o Reinado de Terror, quando uma república fundada nos
altivos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade – livres de todas as
amarras cristãs – inevitavelmente acabou esmagando a oposição indefesa sob os
pés.
Por Christine L. Niles – The Catholic Thing - Tradução: Teresa Maria Freixinho
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