“Ultimamente,
vem-se impondo de modo bastante geral esta tese: as religiões são todas
caminhos de salvação. Talvez não o caminho ordinário, mas ao menos caminhos
"extraordinários" de salvação: por todas as religiões se chegaria à
salvação. Isto transformou-se na visão habitual.
Semelhante tese não corresponde apenas à
ideia da tolerância e do respeito pelos outros que hoje nos é imposta.
Corresponde também à imagem moderna de Deus: Deus não pode rejeitar homem algum
apenas porque não conhece o cristianismo e, em consequência, cresceu noutra
religião. Aceitará a sua vida religiosa da mesma forma que faz com a nossa.
Embora esta tese - reforçada nos últimos
tempos com muitos outros argumentos – seja bastante clara à primeira vista, não
deixa de suscitar dúvidas. Pois as religiões particulares não exigem apenas
coisas diferentes, mas também coisas opostas. [...]. Sendo assim, está-se
aceitando como válido que atitudes contraditórias conduzem à mesma meta; em
poucas palavras, estamos novamente diante da questão do relativismo. Pressupõe-se
subrepticiamente que, no fundo, todos os conteúdos são igualmente válidos. O
que é que vale realmente, não o sabemos.
Cada um tem de percorrer o seu caminho, ser
feliz à sua maneira, como dizia Frederico II da Prússia. Assim, a cavalo das
teorias da salvação, o relativismo torna a entrar subrepticiamente pela porta
traseira: a questão da verdade é separada da questão das religiões e da
salvação. A verdade é substituída pela boa intenção; a religião mantém-se no
plano subjetivo, porque não se pode conhecer aquilo que é objetivamente bom e
verdadeiro”.
(Cardeal Joseph Ratzinger in ‘Fe, verdad y cultura’)
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