“O
que quiserdes que os outros vos façam, fazei-lho vós também” (Lc 6, 31).
Neste
ensinamento de Jesus Cristo está contida toda uma prática de vida cristã. Com
este ensinamento, Jesus Cristo, afirma-nos que o discípulo de Cristo é aquele
que faz, e não aquele que não faz, é um discípulo ativo, e não um seguidor
passivo. Quantas vezes nas nossas vidas, perante as dificuldades, as provações,
nós afirmamos e perguntamos: “Mas eu não roubo, não mato, não faço mal a
ninguém, porque é que me acontece isto?”.
Deus permite que dificuldades e provações
aconteçam de quando em vez nas nossas vidas, também para nos chamar a atenção
precisamente para isso, ou seja, que nós não fazemos, que não somos ativos, que
não colocamos a render os dons que nos são dados, quando realmente o nosso
testemunho de vida deveria ser fazer o bem aos outros, isto é, dar aos outros o
que gostaríamos de receber, desejar para os outros o que desejamos para nós,
enfim, fazer aos outros o que queremos para nós. É que o não fazer o mal, não
significa que façamos o bem!
É que o não fazer significa uma inatividade,
significa que não colocamos a render o que Deus nos deu, em talentos e em bens,
sejam eles quais forem, espirituais ou materiais. E isso fecha-nos aos outros,
porque nos leva a viver apenas para nós, como se estivéssemos de quarentena com
medo de apanhar uma qualquer epidemia, que neste caso seria o mal, o pecado. Quem
vive apenas para não fazer o mal, vive com medo, vive fechado para os outros,
vive só, sem confiança e sem esperança. Como podemos nós, se vivemos apenas
para não fazer o mal, cumprir o mandamento que Jesus Cristo nos deixou: “Dou-vos
um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros
assim como Eu vos amei” (Jo 13, 34).
E se vivemos apenas para “não fazer”, que
frutos teremos para apresentar ao Senhor, quando Ele nos perguntar o que
fizemos com tudo o que Ele nos deu? Seremos como aquele homem da “Parábola dos
talentos”: “Veio, finalmente, o que tinha recebido um só talento: 'Senhor, disse ele,
sempre te conheci como homem duro, que ceifas onde não semeaste e recolhes onde
não espalhaste. Por isso, com medo, fui esconder o teu talento na terra. Aqui
está o que te pertence'” (Mt 25,24-25). Se realmente cremos em Jesus Cristo, se
realmente nos dispomos, (com abertura de coração e disponibilidade de vida), a
segui-Lo, então temos que fazer o que Ele próprio fez e faz, então temos que
fazer o que Ele nos ensina na Sua Palavra, e “fazermos aos outros, aquilo que
queremos para nós”.
Por isso me ocorreu o título deste texto: Eu
creio, eu faço! Segundo os especialistas da política e da economia, a crise
econômica que agora se sente, vai agravar-se, levando seguramente as
dificuldades e provações, a muitas pessoas, a muitas famílias. É então um tempo
propício de testemunho cristão, (embora todos os tempos o sejam), em que
partilhando o que Deus nos dá, com os outros, testemunharemos que a nossa fé
não são só palavras, mas que elas se traduzem em atitudes e ações palpáveis. Lembro-me
então da passagem dos Atos dos Apóstolos 2, 42-47, e acredito que, se também
assim vivermos a nossa fé, também nós teremos a “simpatia de todo o povo”, e
também “o Senhor aumentará, todos os dias, o número dos que entrarão no caminho
da salvação”. Se esse nosso testemunho for verdadeiro e sincero, deixaremos de
ouvir frases como, “os que vão à igreja são os piores”, porque a realidade do
testemunho superará a descrença.
Mas reparemos que o testemunho deve ser
verdadeiro e sincero, isto é, sem esperar outra recompensa que não seja a de
fazer a vontade de Deus, e de a fazer com amor dedicado aos outros. É que,
perante as provações que muitos poderão atravessar, alguns de entre eles terão
muita dificuldade em pedir e aceitar ajuda, pelo que nos é pedido também uma
“dose extra” de amor, (que só pode vir de Deus), para com todo o discernimento
podermos ajudar esses irmãos, sem os fazer sentirem-se humilhados, sem os fazer
sentirem-se desprezados. E mais ainda, pois podemos ser confrontados com o ter
que ajudar alguém que já foi nosso “superior” em algum momento, e até nos
tratou mal ou com desprezo quando o era, e então temos de combater a tentação
de transformar a nossa ajuda, numa atitude de “vingança”, de modo a fazer
sentir ao outro que agora estamos nós “por cima”, e “superiormente”, até com
algum desprezo, lhe concedemos ajuda.
É que isso não é testemunho de caridade, de
amor, é que isso não é “fazer ao outro o que quero que ele me faça”, é que isso
é apenas tentar mascarar o mal, com um bem. E lembremo-nos sempre também que, a
maior parte das vezes, para além da ajuda material, é ainda mais importante a
ajuda sentimental, a ajuda espiritual, o acolher e amar a todos, e não apenas
àqueles que vivem os nossos valores, que vivem a fé que nós vivemos. Deus Pai
revelou-se aos homens por Seu Filho Jesus Cristo, que nos ensinou a sermos
filhos de Deus, templos do Espírito Santo, que nos conduz e ensina todas as
coisas: “mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que
vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse” (Jo 14,26).
Concluída a Revelação em Jesus Cristo, hoje,
pela graça do Espírito Santo, Deus continua a manifestar-se aos homens
servindo-se dos seus filhos, que somos nós, congregados e chamados a vivermos o
amor de Deus e a Deus, dando testemunho da Sua presença no meio de nós. Por
isso mesmo, passemos à prática verdadeiramente cristã, sempre envolvida na
oração e nas celebrações em Igreja: Eu creio, eu faço!
Joaquim
Mexia Alves
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