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segunda-feira, 6 de abril de 2015

Ao modelo de Cristo, perdoar os inimigos


  Nada nos encoraja tanto ao amor pelos nossos inimigos, no qual consiste a perfeição do amor fraterno, como meditar com gratidão na admirável paciência do “mais belo entre os filhos dos homens” (Sl 44, 3). Ele estendeu o Seu belo rosto aos ímpios, para que o cobrissem de escarros. Permitiu-lhes taparem-Lhe os olhos, esses olhos que governam o universo. Expôs as costas ao látego. [...] Submeteu a cabeça às pontas dos espinhos, essa cabeça diante da qual devem tremer príncipes e poderosos. Entregou-Se, Ele próprio, às afrontas e às injúrias. Enfim, suportou pacientemente a cruz, os pregos, a lança, o fel, o vinagre, permanecendo sempre cheio de doçura e de serenidade. “Não abriu a boca, como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha emudecida nas mãos do tosquiador” (Is 53, 7). Ao ouvir estas palavras admiráveis, cheias de doçura, de amor e de imperturbável serenidade – “Pai, perdoa-lhes” (Lc, 23, 24) - o que podemos nós juntar à doçura e à caridade desta oração?

  E, contudo, o Senhor juntou alguma coisa. Ele não Se contentou com a oração; também quis perdoar: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”, disse. São com certeza grandes pecadores, mas quase não têm consciência disso; portanto, Pai, perdoa-lhes. Crucificam, mas não sabem Quem é Aquele que estão a crucificar. [...] Pensam que se trata de um transgressor da lei, de um usurpador da divindade, de um sedutor do povo. Eu dissimulei-lhes o Meu rosto. Eles não reconheceram a Minha majestade. Por isso, “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”.

  Assim, pois, se quer aprender a amar, o homem não pode deixar-se levar pelos impulsos da carne. [...] Deve atentar na doce paciência da carne do Senhor. Se quer encontrar repouso perfeito e feliz nas delícias da carne fraterna, deve estreitar nos braços do verdadeiro amor também os que são seus inimigos. Mas, para que o fogo divino não diminua por causa das injúrias, deve fixar os olhos do espírito na serena paciência do seu Senhor, do seu bem-amado Salvador.


Fonte: “O Espelho da Caridade III, 5 - Aelred de Rielvaux [1110-1167], monge cisterciense

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