A liturgia, como toda
realidade humana, tem uma linguagem própria com a qual se expressa, se
apresenta e se mostra e que chamamos, precisamente, “linguagem litúrgica”. Esta linguagem é a linguagem específica da
celebração litúrgica que, através de sinais visíveis e outros anexos, nos
aproximam de Cristo e de sua mensagem. Esses sinais foram sendo recolhidos pela
Igreja através dos séculos, tendo sempre como ponto de partida as Escrituras
Sagradas e a vivência das primeiras comunidades cristãs. Esses “signos sagrados”
não foram inventados, mas acolhidos, recolhidos e reapresentados pelo próprio
Cristo e pela Igreja para significar as realidades divinas invisíveis (cf. SC
33).
Na linguística os componentes da linguagem
litúrgica chamam-se de de “códigos”. O código é um sistema de sinais ou de
símbolos que, por convenção aceita, são destinados a representar e a transmitir
a informação entre uma fonte de comunicação e seus destinatários. Assim existem
na liturgia diversos códigos: para ver, para escutar, códigos verbais e códigos
não verbais.
A linguagem litúrgica está composta de diversos elementos: assembleia,
ministros (bispo, presbítero,diácono,
leitor, acólito, etc.), palavras (bíblica
ou eucológica, isto é, os textos oracionais da liturgia), ritos (de entrada, penitencial, de comunhão, etc.), símbolos (a cruz, os paramentos, por exemplo),
gestos (de pé, sentados, prostrados,
de joelhos, mãos postas, mãos juntas, mãos estendidas, etc), coisas (água, pão, azeite, sal, luz,
fogo, cinzas, etc.), tempos (dia, noite,
vigília, semana, estação, ano, domingo, etc.), lugares (templo, presbitério, naves, púlpito, altar, batistério,
cemitério, etc.), canto, música, imagens e silêncio.
O fundamento antropológico, filosófico e
teológico da linguagem litúrgica está na Bíblia e nos Documentos da Igreja. A “Sacrossanto
Concílio” (SC) diz que a liturgia tem dois elementos essenciais: um elemento invisível-imutável: o mistério pascal de Cristo e um elemento visível-mutável: a linguagem
litúrgica (cf. SC 21). Vamos falar um pouco mais desse segundo elemento, já que
a liturgia, não é somente um conceito ou uma palavra, mas tem como objetivo dar
a conhecer a Deus e os seus mistérios; porque a liturgia é uma celebração e não
uma doutrina ou uma catequese e, como tal, sua linguagem é expressão dessa
realidade invisível e imutável que é o mistério pascal de Cristo, que o
conhecemos pela fé e que, graças a ela é possível entrar em comunhão com Ele e
fazer experiência Dele mesmo.
O homem é um animal simbólico, é o que nos
diz a antropologia, é uma unidade corpo-espírito e desde sua totalidade se
expressa e se realiza por meio de palavras, gestos e atitudes, numa palavra, “através
da linguagem”; é um recurso ilimitado que pertence à sua natureza. Já a
fenomenologia da religião nos afirma que o simbolismo é uma categoria religiosa
universal. Assim, o mito, o rito e o símbolo são a expressão linguística do
sagrado. Para a teologia, baseada na Sagrada Escritura, encontramos o
simbolismo como categoria religiosa universal porque ajuda a expressar a ação
de Deus baseada na pedagogia dos sinais, isto o podemos ver, por exemplo, no
episódio de Moisés e da sarça ardente (cf. Ex 3, 1-4, 17).
Entre o Antigo e o Novo Testamento
encontramos uma estreita continuidade simbólica, tanto na linguagem como nos
ritos, mas tudo isso centrado no Cristo, em quem se cumpre toda figura e toda
promessa. A novidade de alguns símbolos do Novo Testamento depende do significado
e da função que estes símbolos assumem na relação com o mistério de Cristo.
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