Continuamos nesta caminhada
pascal, onde o Cristo ressuscitado estende sua vida nova a nós. Neste 3°
Domingo da Páscoa, Jesus mais uma vez se encontra com a Comunidade. Desta vez,
não apenas revela-se, mas pede aos que o vêem, adesão à sua Pessoa e ao seu
Reino. No cristianismo, é bom lembrar, não há separação entre o “crer” e o “viver”,
entre o “céu” e a “Terra”, mas as realidades se intercambiam, trocam dons.
Assim, o mesmo Deus que ressuscitou e está na glória dos anjos e santos
(leitura do Apocalipse) é o mesmo a ser testemunhado e seguido pelos apóstolos
(leitura dos Atos dos Apóstolos).
Na primeira leitura nos chama a atenção o
critério que as primeiras Comunidades usavam diante dos impasses e embates com
o civil: “É preciso obedecer antes a Deus que aos homens”. Esta verdade vem bem
a calhar, sobretudo hoje, quando muitos cristãos estão caindo na ditadura do
relativismo, “rezando” a cartilha do “tudo pode”; se a lei humana é imoral, não
a devemos seguir, mesmo passando pelo perigo ser perseguido, incompreendido e
caluniado. Inclusive foi exatamente isto que aconteceu aos apóstolos. Isto os
entristeceu? Isto os abateu? Isto os fez abandonar a caminhada? Não! Pelo
contrário. Segundo a Palavra, eles ficaram contentes e muito honrados da surra
que levaram por causa de Jesus. Quem hoje pensa assim? Que tipo de cristãos
temos? Vejo muitos católicos apáticos, frios, medrosos, sem consistência.
Vivemos atualmente em tempos bem difíceis
para aqueles que desejam seguir a religião. Mas se não houver uma reflexão
profunda da nossa identidade católica e da missão que Jesus deu a todos os
batizados, correremos o risco de nos tornarmos apenas uma filosofia que fala do
bem, que prega o ético, mas que não defende a Verdade e nem por ela dá a vida e
sofre o mal. A Igreja precisa de católicos sérios, dignos do nome de “cristãos”.
No Santo Evangelho, vemos dois grandes
momentos: um primeiro da pesca e um outro do diálogo com Pedro. Por mais
diferentes que pareçam, eles se completam. O primeiro atesta a fé da Igreja no
Ressuscitado, é necessário reconhecer: “é o Senhor”. O segundo momento pede o
amor; não apenas chegamos a Deus pela fé, mas o testemunhamos no amor. Amor
operativo, oblativo, amor de entrega perfeita – mesmo e, sobretudo, quando
nossa vontade não prevalecer, mas o intento de Deus.
A primeira parte do Evangelho está organizada
entre a cena da pesca e a da refeição. Na pesca, os apóstolos se aventuram, sem
a presença de Jesus, a exercerem o que sempre fizeram e da maneira que queriam.
O resultado, no entanto, é muito ruim, nada pescaram. Quando, porém, Cristo
entra na cena e, por consequência, naquele momento da vida dos discípulos, tudo
muda: pescam ao mandato do Cristo e do jeito do Cristo. O resultado é altamente
satisfatório e tão impactante que fez São João contar peixe por peixe e nos dar
o número exato de 153 grandes peixes. O que prova que nem sempre fazer “do
nosso jeito” dá certo; haverá momentos na vida em que a Providência agirá de
tal forma que nossos planos serão totalmente mudados, ainda que estivéssemos
preparados para outra coisa e não aquela. Assim também acontece em nossa vida:
sem Deus, nosso trabalho, nosso esforço é apenas um monte de nada, mas com
Deus, na presença d’Ele, o que há de melhor pode acontecer e mesmo o
imprevisível vem como algo bom. Quando fazemos as coisas mais comuns, mesmo
acostumados a fazer, Deus nunca pode estar de fora de tal tarefa ou sonho.
Na outra parte da cena está o momento da
refeição. Lembramos que antes o Senhor havia perguntado se eles tinham algo
para comer e disseram que não. De fato, nada tinham para oferecer. Se Deus não
nos der, o homem nada tem; mas se temos, é porque Ele nos deu. Nesta refeição,
com sabor eucarístico, o Cristo ressuscitado dá a partir de suas mãos, reparte
o que vem de Si.
A segunda parte do Evangelho é o diálogo de
Jesus com Pedro. Diálogo curto, mas muito denso. Naquele primeiro momento do
Evangelho pediu-se fé, agora o Senhor nos diz que a fé estará alicerçada no
amor. A fé em Deus pede o amor a Deus. Que tipo de amor? A cada pergunta a
Pedro, “Tu me amas?”, equivale a uma resposta sobre a missão de apascentar.
Ama-se por obras, ama-se por ofício. O velho Pedro já passou. Esse é o momento
de sua “redenção”. Antes negara ao Senhor e por três vezes o fizera em palavras
e por atos; agora por palavras confirma seu amor a Jesus. Mas o Senhor lhe
exigirá as obras: “Quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá e
te levará para onde não queres ir... Segue-me”. A vontade de Pedro na vontade
de Cristo, a nossa vontade na vontade de Deus.
Que esta meditação nos inspire a testemunhar
o Senhor na vida, a reconhecê-lo nos sinais ao redor. Que nos empenhemos em
crer e amar o Senhor. A Mãe de Deus e nossa, a Virgem do Amor Divino, interceda
por nós. São Pedro, convertido e amante de Jesus Cristo, rogue por nós. Amém!
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