O inferno não é senão a última consequência
da recusa e espontânea do bem Infinito. A noção de inferno é frequentemente mal
entendida, de modo a suscitar perplexidade e revolta em muitos cristãos e não
cristãos. O problema assim se deve à insuficiente compreensão da verdade; é um
modo antropomórfico ou infernal de entender o inferno que provoca dificuldades.
“Em verdade vos digo: todos os pecados serão perdoados aos homens, mesmo as
blasfêmias que tiverem proferido. Mas aquele que tiver blasfemado contra o
espírito Santo, jamais obterá perdão, é réu de pecado eterno” (Mc 3, 28s).
O
pecado contra o Espírito Santo não é outro senão o endurecimento mesmo ou a
obstinação do homem que, após uma culpa grave, reluta contra o chamado de Deus;
fecha-se ao acesso da graça. Visto que explicitamente recusa penitência e
perdão, não pode ser agraciado; deus não lhe força a vontade. Tal pecado é dito
“contra o Espírito Santo”, porque ao Espírito Santo costumam ser atribuídas as
inspirações da graça.
Diz
ainda o Senhor em Jo 5, 28s:
“Não
vos admireis com isto: vem a hora em que todos os que repousam nos sepulcros,
ouvirão a voz do Filho do Homem e sairão; os que tiverem praticado o bem, para
uma ressurreição de vida; os que tiveram cometido o mal, para uma ressurreição
de julgamento (Krísis)”.
A
palavra krísis, nos escritos de S. João, significa julgamento no sentido
pejorativo de condenação; ver Jo 3, 17. Merece
atenção também o texto de Mc 9, 47s, em que Jesus alude a Is 66, 24: "Se
teu olho te escandalizar, arranca-o. Melhor é entrares com um só olho no Reino
de Deus do que, tendo os dois olhos, seres atirado na geena, onde o verme não
morre e o fogo não se extingue".
Os
Apóstolos repetidamente afirmavam as duas sortes: bem-aventurança ou penas sem
fim. Tenhamos em vista os seguintes textos:
Gl
5, 19-21: “As obras da carne são manifestas: fornicação, impureza,
libertinagem... invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas, a
respeito das quais eu vos previno, como já vos preveni: os que tais coisas
praticam, não herdarão o Reino de Deus”.
Ef
5, 5: “É bom saberdes que nenhum fornicário ou impuro ou avarento — que é um
idólatra — tem herança no Reino de Cristo e de Deus”.
2 Cor
4, 3s: “Se o nosso Evangelho permanece velado, está velado para aqueles que se
perdem, para os incrédulos, dos quais o deus deste mundo obscureceu a inteligência”.
Ver
ainda: 1 Cor 6, 9s; 2 Cor 2, 15s; 13, 5; 1 Tm 5,6.11-15; 2 Tm 2, 12-20; 2 Pd 2, 1-4.
12; 3, 7; Jd 6. 12; Tg 2, 13; 4, 4-8; 5, 3; Ap 21, 8.27; 22, 15.
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