Deus criou o homem e a
mulher à Sua imagem e semelhança para que eles fossem plenamente felizes como
homens e como filhos de Deus, quer dizer, para que eles pudessem participar na
vida íntima divina, pudessem realizar-se pela doação desinteressada deles próprios.
E a sua vida começou assim, de mãos dadas com o Criador. Infelizmente, o drama
aconteceu: O homem, seduzido pelo demônio que o faz duvidar da Palavra de Deus,
decide não depender de ninguém a partir desse momento e ser ele mesmo a sua
própria luz. Ele decidirá por si próprio o que é bom e o que é mau.
A autosuficiência tomou o coração do homem,
juntamente com a desobediência e a vaidade. O homem voltou deliberadamente as
costas a Deus e separou-se assim da fonte do amor e da vida, achando que ele em
si se bastaria. Isto é o que chamamos pecado original originante, o “pecado das
origens”. Deus respeitou a decisão do homem. Esta quebra irreparável, que fez a
humanidade se afastar desse destino trouxe graves prejuízos. Cada um de nós vê,
ainda hoje, as repercussões em si próprio e à sua volta.
A ruptura com Deus
leva à perda do relacionamento com Deus como filhos. Pela primeira vez diante
d'Ele tem medo, tem vergonha. O homem se esconde: "Ouvi o ruído dos teus
passos e tive medo." (Gn 3,10). O homem vai para longe de Deus achando que
é Deus que se afasta... A liberdade foi utilizada pela primeira vez contra o
amor; a partir desse momento fica dividida entre o que é bom e o que é mau. A
consciência e a inteligência ficam obscurecidas. Então o homem já não sabe como
as deve exercer de forma ordenada e coerente. E a própria vontade, que é o
instrumento através do qual se exerce a liberdade, está enfraquecida. "Não
faço o bem que quero, mas o mal que não quero é que pratico", diz S.
Paulo. Com efeito, a vontade é incapaz de se impor com determinação e
autoridade como uma força mestra de ação (ela se deixa dominar por diversas
paixões, paralisar pela sua culpabilidade; ela se demite...) Ela vai assim perturbar
muitas vezes o crescimento da liberdade. E segue-se a perda da unidade profunda
do ser, o homem fica dividido no interior dele mesmo.
Com efeito, a decisão tomada pelo homem de só depender dele próprio e de existir para si e não para o outro propaga-se a todas as suas relações: acusamos o outro (o que me acontece é culpa dele). Passamos de aliados a rivais, tornamo-nos uma ameaça. Eu desconfio então dele e tenho medo; é por isso que o agrido e tento dominá-lo, ou então fujo dele... Ou então o vejo como um objeto para o meu próprio prazer. Não quero precisar do outro, queria que ele fosse como eu, e reivindicamos uma igualdade que acabaria com as diferenças... Tudo isto não preenche a necessidade de amor e o chamamento ao dom de si próprio que se encontra no mais fundo do coração do homem. Por isso, o homem vive uma dolorosa contradição interior, na relação consigo mesmo, com Deus e com os outros. Não é verdade que todos nós conhecemos, por experiência, um pouco desta realidade?
Mas Deus não se conforma com este
desperdício. Não é possível ao homem restabelecer por si mesmo a sua relação
com Deus. Então Deus toma a iniciativa extraordinária de enviar ao nosso meio o
seu próprio Filho, também Ele Deus, que se faz homem (Encarnação). Ao dizer
"sim" e ao oferecer até o fim a sua vida por nós, Jesus Cristo nos
libertou do pecado. Tornou novamente possível uma relação filial com o Pai.
Cada homem, ao acolher a salvação, é restabelecido como tal, porque se torna o
filho do seu Pai. É uma nova criação...
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