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sexta-feira, 5 de abril de 2013

Como se dá o Juízo particular?



  O Juízo particular não se realiza como os julgamentos em tribunais da terra. Nele não há processo, pois todo processo é a investigação de feitos mais ou menos desconhecidos — o que não tem cabimento em Deus onisciente. Também não há acusador (demônio) e defensor (anjo da guarda) atuando em tribunal, pois na verdade o homem morre com a sua sentença já lavrada; cada um, através dos atos de sua vida, vai tomando posição e definindo a sua sorte definitiva.

  Deus derrama sua luz sobre a alma logo após a morte, de modo que ela toma nítida consciência do que foi realmente a sua vida terrestre; reconhece o sentido e o valor, os méritos e deméritos da sua existência; torna-se-lhe claro tudo que ela fez e omitiu, de bem e de mal, até os últimos pormenores.

  Assim, portanto, pode-se dizer que o homem, logo após a morte, se torna o seu próprio Juiz. Ele se identifica com o Juízo retíssimo que Deus, a todo momento, formula a seu respeito. Nesta vida o homem se julga; mas muitas vezes ele encobre ou dissimula, aos próprios olhos, com muita arte, os motivos de suas ações; preconceitos próprios, opiniões alheias... obscurecem o seu modo de ver. Eis, porém, que, logo após deixar este mundo, a pessoa se vê tal como é, sem poder dissimular a realidade; tudo se lhe torna transparente. Muita coisa que lhe parecia pequenina ou indiferente, toma grande vulto, e vice-versa.

  De uma intuição tão clara procede inevitavelmente a sentença do julgamento, sentença que tem por autores Deus e o próprio homem.

  A sentença resultante do Juízo particular é imediatamente executada..., executada sem uma intervenção violenta de Deus, mas por uma exigência da própria alma julgada. Com efeito; o amor a Deus, comprovado pelo Juízo, a impele irresistivelmente à bem-aventurança divina (o céu) ou ao estágio previamente necessário para obter a visão de Deus (o purgatório); de modo análogo, o ódio ao Criador, uma vez comprovado, faz que a alma se afaste para longe do Senhor. S. Tomás de Aquino compara a sorte das almas julgadas à dos corpos que, por seu próprio peso, são levados a procurar o lugar que lhes convém: desde que desatados de todo vínculo, voam pelos ares, caso sejam leves; ou precipitam-se por terra, caso sejam pesados.

  Notemos ainda que o fato de ver-se a si mesmo sob a luz de Deus não implica, para o homem, ver o Senhor face-a-face; tal visão seria simplesmente o céu... Deus está presente ao homem nesta vida mesma; sua presença, porém, é um tanto encoberta para a criatura ofuscada pelas coisas sensíveis. Ora, logo após a morte, será dado ao homem experimentar, de maneira nova e muito viva, essa presença de Deus, e justamente de Deus enquanto é o Santo, o Incompatível com a mínima sombra de imperfeição.

  Uma antecipação, por excelência, do Juízo particular é dada ao cristão em cada confissão sacramental; por esta, o Senhor, na pessoa do sacerdote, julga seu filho, e normalmente o absolve, fazendo-o beneficiar-se da misericórdia. Terminado o tempo da misericórdia, que é esta vida, o Senhor julgará conforme toda a justiça; é portanto, a fim de que a justiça de Deus o possa recompensar após a morte que muitas e muitas vezes, no sacramento da Penitência, o cristão procura identificar-se com o Juízo de Deus, tentando ver sua conduta como Deus vê.

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