A difamação
pode ocorrer basicamente de duas maneiras: 1) pela detração ou
maledicência e 2) pela calúnia. 1) A detração ou maledicência
consiste em manifestar sem justa causa um pecado, um vício ou defeito
verdadeiro do próximo. A pessoa tem direito não só a uma boa fama verdadeira,
mas também a uma boa fama falsa, enquanto seu pecado ou defeito permanecer
oculto e não for necessário revelá-lo. Se se critica defeitos ou pecados já
conhecidos publicamente não existe detração ou maledicência, mas pode haver
falta contra a caridade. 2) A calúnia por sua vez consiste em atribuir
falsamente ao próximo um pecado, um defeito, um vício. A calúnia acrescenta à
detração ou maledicência uma mentira.
A detração ou a calúnia podem ser feitas de forma
direta ou indireta. De modo direto, manifestando claramente o pecado
alheio, verdadeiro ou falso. Isso se faz revelando o pecado oculto, exagerando
um pecado verdadeiro, atribuindo uma má intenção a uma ação boa ou simplesmente
inventando um pecado que o outro teria cometido ou um defeito. De modo
indireto, negando ou diminuindo as boas qualidade do próximo. Isso se faz
negando o bem que o outro fez, calando maliciosamente o bem que o outro fez,
diminuindo o bem feito pelo próximo ou louvando-o menos do que se deveria. As
formas verbais dessa maledicência ou calúnia indiretas são várias: “Sim, tal
pessoa fez isso de bom, mas…” “É melhor eu nem acabar de contar, do contrário…”
Às vezes as palavras não são nem necessárias,
bastando um gesto, um sorriso para que a fama do próximo caia por terra. A
difamação, seja ela caluniosa ou simples detração, pode ocorrer seja com a
intenção explícita de denegrir o próximo seja criticando-o por alguma outra
razão (pelo hábito de falar muito, por falar sem pensar, para utilidade
própria) e sem a intenção de denegri-lo, mas prevendo que sua fama será
prejudicada.
A gravidade da difamação se mede tanto pela
importância do defeito divulgado ou falsamente atribuído quanto pelo dano
causado ao próximo com ela. Em geral, quando se revela um defeito leve ou
se atribui falsamente ao outro um pecado leve, a infâmia é leve. Ao contrário,
quando se revela ou se atribui falsamente um pecado ou defeito grave a outra
pessoa, a infâmia é grave. Pode haver, porém exceções, em virtude da dignidade
da pessoa ofendida. Assim, revelar uma pequena falta oculta do Papa, poderia
ser uma infâmia grave, por exemplo. Além da gravidade do pecado divulgado
ou falsamente atribuído, é preciso levar em conta também a gravidade do dano
causado ao próximo.
A gravidade desse dano depende da gravidade
do defeito atribuído à outra pessoa, mas depende também da qualidade da pessoa
criticada, do prestígio e da credibilidade do difamador, da quantidade e
qualidade dos ouvintes, das consequências para a família do difamado ou para os
seus bens. Alguém que inventasse, por exemplo, uma pequena mentira sobre outra
pessoa prevendo que ela perderia o emprego por causa disso, cometeria uma falta grave.
Se, consideradas todas as circunstâncias, o dano é leve, o pecado será venial.
Se o dano é grave, o pecado será mortal, se o difamador previu o grave dano. E,
claro, se a intenção é prejudicar gravemente alguém, por maledicência ou
calúnia, haverá uma falta grave, ainda que, no fim das contas, a fama ou dano
para o difamado seja leve. Do mesmo modo, haverá pecado grave se a pessoa age
por ódio ou por algum outro motivo gravemente desordenado, ainda que o dano
final não seja grave.
A difamação, como dissemos, é pecado contra a
justiça, pois prejudica o direito à boa fama que o próximo tem e trata-se
igualmente de um pecado contra a caridade, que nos proíbe desejar ou fazer mal
ao próximo. Fica claro que se trata de uma falta de caridade porque, em geral,
buscamos desculpar os defeitos dos que amamos, atribuindo-lhes ao menos a boa
intenção. Assim, quando se difama é sinal de que a caridade está ausente. Além
de ir contra a justiça e a caridade, a revelação sem motivo suficiente de
pecados ou a invenção de pecados prejudicam o bem comum, favorecendo brigas,
rixas, vinganças, etc., que perturbam a paz e tranquilidade social.
Padre
Daniel Pinheiro
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