Pureza,
pureza, pureza! exclamava Santa Maria Madalena de Pazzi às suas religiosas,
todas as vezes que elas se preparavam para receber a santa comunhão. Pureza de
corpo, pureza de alma, pureza de coração, para receber o Deus de toda pureza.
Digo-lhes a mesma coisa, meus caros auditores: sede puros,
se quiserdes receber o rei das almas puras; sede puros, se quiserdes
abrigar em vosso coração o rei das virgens. Pureza, pureza; sem o quê, no
lugar de vos tornardes santos, vós vos tornareis sacrílegos; no lugar de
crescerdes na graça de Deus, incorrereis cada vez mais em vossa desgraça.
Sabeis o que fazeis quando recebeis vosso
Deus em um coração impuro, manchado pelo pecado mortal? Forçais Jesus a habitar
com o demônio. Pois, quando tendes um pecado mortal na alma, o demônio aí reina
como mestre. Aí ele está como sobre seu trono, de modo que recebendo Jesus
nesse estado, forçais o doce Salvador a se colocar sob os pés do demônio, o
relegais a um canto de vosso coração, como um estranho desconhecido que é
desprezado.
Raios da justiça divina, por que estais
mudas? Ribombem completamente para vingar um ultraje tão atroz cometido contra
o Deus de majestade! Não, aquele que recebe Deus em estado de pecado mortal não
merece nenhuma compaixão, não é digno de piedade. Que crime! Um Deus aos pés do
demônio! Um Deus aos pés do demônio! Ouvi-me bem. Se um homem distinto viesse
até vossa casa e pedisse para passar uma noite, teríeis coragem de mandá-lo se
deitar em uma cama de um leproso completamente coberto de feridas e de pus? Não
obstante ousais, por uma comunhão feita em estado de pecado mortal, colocar sob
os pés do demônio o vosso Salvador, o vosso Deus! Ó! Que crime hediondo! Que
desordem abominável!
Um dia Santa Margarida de Cortona, assistindo
à missa, viu, na elevação, Jesus menino entre as mãos do padre. Porém as mãos
eram horríveis, repugnantes e mais negras que o carvão, e esse padre
desafortunado tinha o aspecto de um demônio. Ao mesmo tempo, a Santa ouviu o
Menino divino lhe dizer com um tom lamuriento: “Veja, veja Margarida, como sou
tratado por esse miserável, assim como por centenas e milhares de outros, que
me recebem em estado de pecado mortal”. Ah! meu doce Jesus, compreendo bem
porque eles vos tratam indignamente, pois eles vos forçam a viver em companhia
dos demônios. Ó! Que crime! Que desordem horrível! Não há aqui nenhum desses
pecadores sacrílegos? Ah! para pecado semelhante um inferno será pouco demais,
ele merece mil deles. E aí daquele que durante essa santa missão não abraçar a
penitência com fervor!
Porém percebo, infelizmente! que esses
infelizes têm o coração duro demais e não estão dispostos a chorar por suas
execráveis malícias. Então o façamos por eles, meus irmãos, e, prostrados
diante do Santíssimo Sacramento, peçamos perdão a Jesus por tantos sacrilégios
que foram cometidos na Igreja de Deus. Ah! Senhor, quantas vezes vossos fiéis,
vossos próprios ministros profanaram vossos templos, vossos altares! Quantos
sacrilégios horríveis são cometidos por toda parte! Que excesso de misericórdia
vos é necessário para perdoar crimes tão grandes! Ah! Perdoe, Senhor, perdoe: Parce,
Domine, parce.
Batamo-nos todos no peito, dizendo: Perdão,
ó meu Jesus, perdão! Ei-nos aqui aos vossos pés, Senhor, aflitos, contritos,
dispostos a odiar todos os nossos pecados, sem exceção, mas particularmente
aqueles que cometemos ao vos ultrajar no Sacramento de vosso amor. Ó bondade, ó
majestade, ó beleza infinita! Como ousamos vos ofender, estando nós obrigados a
vos amar? Perdão, ó meu amável Jesus, perdão!
Porém como satisfaremos a justiça divina por
tais crimes? São João Crisóstomo diz que a boca do cristão que comunga se enche
de fogo: Os quod igne spirituali repletur. De um fogo que consome e
inflama: que consome a mancha de todos os pecados que cometemos e de todos os
maus hábitos que contraímos. Que inflama de amor nosso coração, nossos sentidos,
e todas as potências do nosso ser, e renova o homem inteiro. Mas tudo isso deve
ser entendido daqueles que comungam em estado de graça, e fazem um uso adequado
desse Sacramento divino. Quanto a vós, pecador, não vedes o abismo onde vos
precipitardes? Ficai atento, pois o raio da ira divina está suspenso sobre
vossa cabeça: muitos doutores ensinam que o castigo mais comum cujo Deus puni
os pecadores sacrílegos, tais como vós, é, sabeis qual? uma morte súbita. Ficai
atento para que esse castigo terrível não vos atinja. Assim, a fim de evitar o
golpe, faças a tempo uma boa confissão.
Consequentemente, a prática que vos recomendo
nessa noite, e que é outrossim a mais necessária, é uma boa e santa confissão.
Confessai-vos bem, meus irmãos, confessai-vos bem. Após terdes feito uma boa
confissão, fareis também uma boa e santa comunhão.
São
Leonardo de Porto Maurício, in: “Sermons, exortations et confèrences pour
les missions”.
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