São
interessantes, a esse respeito, as palavras da obra “Caminho" (São
Josemaria Escrivá): "'Sujeitar-se a um plano de vida, a um horário, é
tão monótono!', disseste-me. – E eu te respondi: há monotonia porque falta
Amor" (n. 77).
1)
A monotonia - "Fazer todos os dias as mesmas coisas é tão
monótono!", – é o que podemos pensar, - acaba tornando-se rotina, prática
mecânica. Não seria melhor rezar, ler, comungar, buscar a Deus, só de vez em
quando, nos momentos em que nos sentirmos mais dispostos, com mais condições de
aproveitar esses meios, ou mais necessitados de Deus? Ledo engano! O problema
da “monotonia” ou da “rotina” não procede da repetição, mas do vazio de amor do
coração. Talvez entenda-se melhor tomando como referência um fato real: Uma boa
senhora de família minha conhecida veio conversar comigo, para desabafar e
pedir conselho. Nem tinha começado a falar, e já chorava. Quando lhe perguntei
por que, respondeu: “Durante vinte anos, meu marido, todos os dias, ao
sair de casa para o trabalho, se despedia de mim com um beijo. De dois meses
para cá, ele sai sem nem avisar”. Andava mal aquele amor. Tão mal, que o drama
da separação veio pouco depois. Havendo amor, a repetição da mesma prática
diária não é rotineira. Isso é o que devemos procurar, e pedir a Deus: amor.
“Mas… e se não sinto esse amor?”
2) Aí
vem um segundo ponto. Será que amar a Deus é somente sentir? Quando uma mãe,
fatigada e morta de sono, levanta três, quatro, cinco vezes à noite para
amamentar ou acalmar o seu bebê, duvido que, naquele momento, sinta grande
emoção ou alegria. Mas ela ama seu filho, e esse seu amor, – quer sinta, quer
não sinta, em forma de emoção, – justifica todos os seus sacrifícios. O Amor
pelas coisas divinas nem sempre é sinônimo de ter prazer, como quando sinto
vontade de beber cerveja, e então bebo; e quando não sinto, não bebo. O amor
daquela mãe é mil vezes mais autêntico que o amor de uma mulher superficial,
que logo pensa em separação quando nota que a convivência com o marido já não
lhe dá prazer, não lhe traz satisfações. A esse falso amor, chama-se mais
adequadamente “egoísmo”.
Ao ler estas palavras, algumas pessoas
respondem: "Passou-me entusiasmo!”, assim me escrevem. – Mas você não deve
trabalhar por entusiasmo, e sim por Amor; com consciência do dever, que é
também abnegação. Isso também afirma o “Caminho” (n. 994). É isso o que faz a
mãe do bebê chorão. E para Deus será menos? Não estaremos dispostos a dar-lhe o
que daríamos a uma pessoa querida, sendo que, ao rezar, comungar, e outras
práticas espirituais, na realidade é Ele quem nos ama e nos dá? É coisa muito
santa lembrar que é sempre Ele quem se entrega a nós.
Pe.
Francisco Faus
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