O
Colégio Cardinalício ganhou neste sábado 19 novos membros e o Brasil, mais um
Cardeal: Dom Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro. O Consistório
realizou-se na Basílica Vaticana, numa cerimônia rica não só de tradições e
símbolos, mas também de uma surpresa inédita: a presença durante toda a
celebração do predecessor de Francisco, Bento XVI. Depois da procissão de
entrada, os dois Pontífices se abraçaram. O primeiro dos novos purpurados,
Pietro Parolin, Secretário de Estado, dirigiu em nome de todos os outros
cardeais a saudação ao Pontífice.
Diante dos novos e antigos membros do Colégio
Cardinalício, de autoridades, delegações oficiais e inúmeros fiéis, o Pontífice
inspirou toda a sua homilia no Evangelho de S. Marcos. Comentando a frase
“Jesus ia à frente deles”, o Papa afirmou que também neste momento Jesus
caminha diante de nós, Ele nos precede e nos abre o caminho. “Isto é uma coisa
que impressiona nos Evangelhos: Jesus caminha muito e instrui os seus
discípulos ao longo do caminho. Isto é importante. Jesus não veio para ensinar
uma filosofia, uma ideologia... mas um "caminho", uma estrada que se deve
percorrer com Ele.” A estrada, acrescentou, se aprende percorrendo-a, caminhando. “Esta é a nossa
alegria: caminhar com Jesus.”
Mas isso não é fácil, não é cômodo, advertiu
o Pontífice, pois a estrada que Jesus escolhe é a da cruz. Ao contrário dos
discípulos de então, “nós sabemos que Jesus venceu e não deveríamos ter medo da
cruz, ou melhor, na cruz depositamos a nossa esperança. E, contudo, sendo
também nós humanos, pecadores, estamos sujeitos à tentação de pensar à maneira
dos homens e não de Deus”. E quando se pensa de maneira mundana, prosseguiu o
Papa, há indignação. “Se prevalece a mentalidade do mundo, sobrevêm as
rivalidades, as invejas, as facções... Por isso, a Palavra que hoje o Senhor
nos dirige é tão “saudável! Nos purifica interiormente, ilumina as nossas
consciências e nos ajuda a nos sintonizar plenamente com Jesus, e a fazê-lo
juntos, no momento em que o Colégio de Cardeais aumenta com o ingresso de novos
membros”.
Outro gesto de Jesus é chamar os discípulos a
Si. “Deixemo-nos ‘con-vocar’ por Ele”, disse o Papa dirigindo-se aos novos
cardeais e acrescentando que a Igreja necessita deles, de sua colaboração, de
sua coragem para anunciar o Evangelho, de sua oração e compaixão, “sobretudo
neste momento de dor e de sofrimento em tantos países do mundo”. Francisco
expressou solidariedade às comunidades eclesiais e a todos os cristãos que
sofrem discriminações e perseguições. “A Igreja necessita de nossa oração por
eles, para que sejam fortes na fé e saibam reagir ao mal com o bem. E esta
nossa oração estende-se a todo o homem e mulher que sofre injustiça por causa
das suas convicções religiosas”.
Por fim, uma menção à paz e um convite à
união: “A Igreja precisa de nós também como homens de paz, precisa que façamos
a paz com as nossas obras, os nossos desejos, as nossas orações. Fazer a paz.
Artesão da paz. Por isso invocamos a paz e a reconciliação para os povos que,
nestes tempos, vivem provados pela violência e a guerra. Caminhemos juntos
atrás do Senhor e deixemo-nos cada vez mais convocar por Ele, no meio do povo
fiel, da Santa Mãe Igreja”.
Na sequência, houve um dos momentos mais
característicos da cerimônia: o Santo Padre nomeou os Cardeais e anunciou a
Ordem Presbiteral ou Diaconal que lhes foi atribuída. Os novos purpurados juraram
fidelidade e obediência ao Santo Padre e aos seus sucessores, com a fórmula:
“Prometo e juro permanecer, a partir de agora e para sempre enquanto tiver
vida, fiel a Cristo e ao seu Evangelho, constantemente obediente à Santa
Apostólica Igreja Romana”, diz um trecho. No momento da imposição do barrete, o
Santo Padre lembrou aos cardeais que se trata de um símbolo de compromisso, de
“estar prontos a agir com fortaleza, até à efusão do sangue, pelo aumento da fé
cristã, pela paz e a tranquilidade do povo de Deus e para a liberdade e a
propagação da Santa Igreja Romana”.
Cada cardeal, de acordo com a ordem da
criação, se ajoelhou diante do Pontífice para receber o solidéu e o barrete
vermelhos. Por sua vez, a entrega do anel foi acompanhada pelas palavras:
“Recebe o anel das mãos de Pedro e saiba que, com o amor do Príncipe dos
Apóstolos, se reforça o teu amor para com a Igreja”. O Santo Padre atribuiu a
cada cardeal uma igreja em Roma, como um sinal de participação no cuidado
pastoral do Papa na cidade. Ele entregou a bula de criação cardinalícia e o título
correspondente a cada um, antes de trocar com o novo cardeal um abraço de paz.
Ao Cardeal Orani foi atribuída a Igreja Santa Maria Mãe da Providência, no
bairro de Monteverde. A celebração se encerrou com o Pai-Nosso e a bênção
apostólica, seguida da antífona mariana.
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