7º
Silêncio da natureza, do amor próprio
Silêncio à vista da própria corrupção, da
própria incapacidade. Silêncio da alma que se compraz na sua baixeza. Silêncio
aos louvores, à estima. Silêncio diante dos desprezos, das preferências, das
murmurações; é o silêncio da doçura e da humildade. Silêncio da natureza diante
das alegrias ou dos prazeres. A flor se abre no silêncio e seu perfume louva em
silêncio ao criador: a alma interior deve fazer o mesmo. Silêncio da natureza
na pena ou na contradição. Silêncio nos jejuns, nas vigílias, nas fadigas, no
frio e no calor. Silêncio na saúde, na enfermidade, na privação de todas as
coisas: é o silêncio eloquente da verdadeira pobreza e da penitência; é o
silêncio tão amável da morte a todo o criado e humano. É o silêncio do eu
humano transformando-se no querer divino. Os estremecimentos da natureza não
poderiam turbar este silêncio, porque está acima da natureza.
8º
Silêncio do espírito
Fazer calar os pensamentos inúteis, os
pensamentos agradáveis e naturais; só estes danificam o silêncio do espírito, e
não o pensamento em si mesmo, que não pode deixar de existir. Nosso espírito
quer a verdade, e nós lhe damos a mentira! Agora bem, a verdade essencial é
Deus! Deus é o bastante à sua própria inteligência divina, e não basta à pobre
inteligência humana!
No que concerne a uma contemplação de Deus perene e imediata, não é possível na
debilidade da carne, a não ser que Deus conceda um puro dom de sua bondade; mas
o silêncio nos exercícios próprios do espírito consiste, em relação à fé, em
contentar-se com sua luz escura. Silêncio aos raciocínios sutis que debilitam a
vontade e dissecam o amor. Silêncio na intenção: pureza, simplicidade; silêncio
às buscas pessoais; na meditação, silêncio à curiosidade; na oração, silêncio
às próprias operações, que não fazem mais que entravar a obra de Deus. Silêncio
ao orgulho que se busca em tudo, sempre e em todas as partes; que quer o belo,
o bem, o sublime; é o silêncio da santa simplicidade, do desprendimento total,
da retidão. Um espírito que combate contra tais inimigos é semelhante a esses
anjos que vêem sem cessar a Face de Deus. Esta é a inteligência, sempre no silêncio,
que Deus eleva a si.
9º
Silêncio do juízo
Silêncio quanto às pessoas, silêncio quanto
às coisas. Não julgar, não deixar ver a própria opinião. Não ter opinião às
vezes, ou seja, ceder com simplicidade, sem nada se opor a ele por prudência ou
por caridade. É o silêncio da bem-aventurada e santa infância, é o silêncio dos
perfeitos, o silêncio dos anjos e dos arcanjos, quando seguem as ordens de
Deus. É o silêncio do Verbo encarnado!
10º
Silêncio da vontade
O silêncio aos mandamentos, o silêncio às
santas leis da regra, não é, por dizer assim, mais que o silêncio exterior da
própria vontade. O Senhor tem algo que ensinar-nos de mais profundo e de mais
difícil: o silêncio do escravo sob os golpes de seu amo. Mas, feliz escravo,
pois o Amo é Deus! Este silêncio é o da vítima sobre o altar, é o silêncio do
cordeiro que é despojado de sua pele, é o silêncio nas trevas, silêncio que
impede pedir a luz, ao menos a que alegra.
É o silêncio nas angústias do coração, nas
dores da alma; o silêncio de uma alma que se viu favorecida por seu Deus, e
que, sentindo-se rechaçada por Ele, não pronuncia nem sequer estas palavras:
Por que? Até quando? É o silêncio no abandono, o silêncio sob a severidade do
olhar de Deus, sob o peso de sua mão divina; o silêncio sem outra queixa que a
do amor. É o silêncio da crucifixão, é mais que o silêncio dos mártires, é o
silêncio da agonia de Jesus Cristo. Se este silêncio é seu divino silêncio e
nada é comparável à sua voz, nada resiste à sua oração, nada é mais digno de
Deus que esta classe de louvor na dor, que este fiat no sofrimento, que este
silêncio no trabalho da morte.
Enquanto esta vontade humilde e livre,
verdadeiro holocausto de amor, se despedaça e se destrói para a glória do nome
de Deus, Ele a transforma em sua vontade divina. Então o que falta para sua
perfeição? O que requer ainda para a união? O que falta para que Cristo seja
acabado nesta alma? Duas coisas: a primeira é o último suspiro do ser humano; a
segunda é uma doce atenção ao Bem Amado cujo beijo divino é a inefável
recompensa.
11º
Silêncio consigo mesmo
Não falar-se interiormente, não escutar-se,
não queixar-se nem consolar-se. Em uma palavra, calar-se consigo mesmo,
esquecer-se de si mesmo, deixar-se só, completamente só com Deus; fugir,
separar-se de si mesmo. Este é o silêncio mais difícil, e sem embargo é
essencial para unir-se a Deus tão perfeitamente como possa fazê-lo uma pobre
criatura que, com a graça, chega com freqüência até aqui, mas se detém neste
grau, porque não o compreende e o pratica menos ainda. É o silêncio do nada. É
mais heroico que o silêncio da morte.
12º
Silêncio com Deus
No começo Deus dizia à alma: "Fala pouco
às criaturas e muito comigo". Aqui lhe diz: "Não me fales mais".
O silêncio com Deus é aderir-se a Deus, apresentar-se e expor-se diante de
Deus, oferecer-se a Ele, aniquilar-se diante d’Ele, adorá-lo, amá-lo,
escutá-lo, ouvi-lo, descansar n’Ele. É o silêncio da eternidade, é a união da
alma com Deus.
Fonte:
Livre-tradução do Artigo "Los doce grados del silencio" de "Sor
Amada de Jesús" publicado em "Cuadernos de La Reja" número 2 do
Seminário Internacional Nossa Senhora Corredentora da FSSPX.
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