A finalidade do Advento é
preparar os fiéis para o grande acontecimento do Nascimento do Salvador. Liturgicamente,
além da memória do nascimento histórico de Jesus Cristo, o Advento significa
outra dúplice vinda d’Ele: seu nascimento em nossas almas mediante a graça e
sua vinda na consumação dos tempos para julgar toda a humanidade. Assim
considerado, o Advento representa os tempos pré-messiânicos, durante os quais o
povo de Deus esperava a sua libertação pelo Redentor vindouro; representa a
misteriosa ação da graça que forma a nossa alma à imagem e semelhança de
Cristo, inserindo-nos vitalmente n’Ele, como os membros do mesmo corpo à
cabeça; e representa, finalmente, os séculos que devem passar até quando o
Cristo virá em todo Seu poder para julgar os vivos e os mortos.
Os sentimentos que devem inspirar nossa
piedade durante o Advento são:
1° Penitência, porque,
segundo a pregação de João Batista, é necessário neste tempo sagrado que
produzamos “frutos de verdadeira penitência (...) toda árvore que não produzir
bons frutos será cortada e lançada ao fogo”[1].
2° Recolhimento
interior, porque há “uma voz que clama no deserto: preparai o caminho do
Senhor”[2]: oras, para ouvir os acentos salutares
desta voz, é necessário que, voltados à séria consideração de nossa vida,
fechemos o ouvido ao barulho do mundo e, no silêncio da erudição, nas
solenidades do culto, recolhamos os frutos do Espírito que nos fala das profundezas
da alma;
3° Desejo ardente do
Senhor, porque Ele é o “Sol nascente que resplandecerá do alto para (...)
iluminar os que estão nas trevas, na sombra da morte, e guiar nossos passos no
caminho da paz”[3].
A Igreja nos dá o exemplo: em sua liturgia se
ouve um brado contínuo, intenso e crescente que invoca o Cristo, a Sabedoria do
Altíssimo, que deve vir para ensinar o caminho da santidade; o Líder de Israel,
que deve vir para libertar o seu povo; o Filho de Jessé, que deve abrir o
cárcere tenebroso do pecado; o Rei das gentes, que deve fundar o Reino
universal da caridade; o Emanuel, o Deus conosco, que deve vir a habitar com
seus irmãos para elevá-los à dignidade de filhinhos de Deus, com a efusão de
seu amor.
Fonte: Abade Emanuele
Caronti O.S.B. in “O Messale festivo per i fedeli”, ed. L.I.C.E., Torino
1932, pp. 73-74.
[1] NdTª:
Mateus, 3,8 e 10.
[2] NdTª:
Mateus, 3,3.
[3] NdTª:
Lucas, 1,78-79.
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