Depois de agradecer a Deus
pelo ano que está terminando, pelos eventos vividos e por todo o bem que Ele
quis generosamente realizar através do serviço da Santa Sé, o Papa Francisco
pediu perdão a Deus pelas faltas cometidas “em pensamentos, palavras, obras e
omissões”. O Pontífice fez então um elenco das doenças iniciando pela doença do
sentir-se “imortal”, “imune” ou até mesmo “indispensável”, descuidando dos
necessários e habituais controles.
Uma
Cúria que não faz “autocrítica”, que não se atualiza – disse o Papa – que não
procura se melhorar é um corpo doente. Uma visita aos cemitérios nos poderia
ajudar a ver os nomes de tantas pessoas, que talvez pensassem serem imortais,
imunes e indispensáveis! É a doença do rico insensato do Evangelho que pensava
viver eternamente, e também daqueles que se transformam em padrões e se sentem
superiores a todos e não ao serviço de todos. Disso deriva a patologia do
poder, do “complexo dos Eleitos”.
Em seguida o Papa falou de outra doença, a
doença do “martalismo” (que vem de Marta), da excessiva laboriosidade: ou seja
daqueles que se afundam no trabalho, descuidando, inevitavelmente, “a parte
melhor”: sentar-se aos pés de Cristo. O tempo de repouso, para quem terminou a
sua missão, – aconselhou o Papa – é necessário, devido e deve ser vivido
seriamente.
Há também a doença da “petrificação” mental e
espiritual: ou seja daqueles que possuem um coração de pedra e uma “pescoço
duro”; daqueles que, ao longo da estrada perdem a serenidade interior, a
vivacidade e a audácia e se escondem nos papéis tornando-se “maquinas de
documentos” e não “homens de Deus”. É a doença daqueles que perdem “os
sentimentos de Jesus”, porque os seus corações, com o passar do tempo, se endurecem
se tornam incapaz de amar de modo incondicional o Pai e o próximo.
Tem também a doença do excessivo planejamento
e do funcionalismo. Quando o apóstolo planeja tudo minuciosamente e acredita
que está fazendo um perfeito planejamento das coisas, de fato progridem,
tornando-se assim um contabilista ou contador. Preparar bem é necessário, mas
sem cair na tentação de querer fechar e pilotar a liberdade do Espírito Santo
que é sempre maior e mais generosa de qualquer humano planejamento. Cai-se
nesta doença porque “é sempre mais fácil e cômodo apoiar-se nas próprias
posições estáticas e imutáveis”.
Outra doença – destacou o Papa Francisco – é
a doença da má coordenação: quando os membros perdem a comunhão entre eles e o
corpo perde a sua harmoniosa funcionalidade e temperança, tornando-se uma
orquestra que produz rumor porque os seus membros não colaboram e não vivem o
espírito de comunhão e de grupo. Quando os pés dizem ao braço “não tenho
necessidade de você”, ou a mão à cabeça “eu comando”, causando assim problemas
e escândalo.
Há também a doença do Alzheimer espiritual:
ou seja, esquecer a “história da Salvação”, da história pessoal com o Senhor,
do “primeiro amor”. Trata-se de um declínio progressivo das faculdades
espirituais que em certo intervalo de tempo causa graves deficiências à pessoa
tornando-a incapaz de realizar atividades autônomas, vivendo em um estado de
absoluta dependência de seus horizontes frequentemente imaginários.
A doença da rivalidade e da vanglória: quando
a aparência, as cores das vestes e as insígnias de honra tornam-se o principal
objetivo de vida, esquecendo-se das palavras de São Paulo: “Nada façais por
contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros
superiores a si mesmo”. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas
cada um também para o que é dos outros. É a doença que nos leva a sermos homens
e mulheres falsos e viver um falso "misticismo” e um falso “quietismo”.
A doença da esquizofrenia existencial: é a
doença de quem vive uma vida dupla, fruto da hipocrisia típica do medíocre e do
progressivo vazio espiritual que láureas ou títulos acadêmicos não podem
preencher. Uma doença, que atinge frequentemente aqueles que, abandonando o
serviço pastoral, limitam-se aos afazeres burocráticos, perdendo assim o
contato com a realidade, com as pessoas reais. Criam assim um mundo paralelo,
onde colocam de lado tudo o que ensinam de modo severo aos outros e iniciam a
viver uma vida oculta e muitas vezes dissoluta. A conversão é urgente e
indispensável para esta doença muito grave.
A doença das fofocas, das conversas fiadas e
mexericos: desta doença já falei muitas vezes, mas nunca o suficiente: é uma
doença grave que começa simplesmente, talvez por causa de uma conversa fiada e
toma conta da pessoa tornando-a "semeadora de discórdia" (como
Satanás), e em muitos casos "assassino a sangue frio" da fama dos
próprios colegas e coirmãos. É a doença de pessoas covardes que não tendo a
coragem de falar diretamente falam pelas costas. São Paulo nos adverte:
"Fazei todas as coisas sem murmurações, para serem irrepreensíveis e
puros”. Irmãos, vamos tomar cuidado com o terrorismo das fofocas!
A doença de divinizar os chefes: é a doença
dos que estão cortejando os Superiores, na esperança de obter a sua
benevolência. São vítimas do carreirismo e do oportunismo, honram as pessoas e
não Deus (cfr Mt 23: 8-12.). São pessoas que vivem o serviço pensando apenas no
que elas desejam obter e não o que elas devem dar. Pessoas mesquinhas,
infelizes e inspiradas somente pelo próprio fatal egoísmo. Esta doença também
pode afetar os Superiores quando cortejando alguns de seus funcionários para
obter a sua submissão, lealdade e dependência psicológica, mas o resultado
final é uma verdadeira cumplicidade.
A doença da indiferença para com os outros:
quando cada um pensa só em si mesmo e perde a sinceridade e o calor das
relações humanas. Quando o mais experiente não coloca o seu conhecimento ao
serviço dos colegas menos experientes. Quando se toma conhecimento de algo e
você mantém só para si, em vez de compartilhá-lo com outras pessoas de forma
positiva. Quando, por ciúmes ou dolo, sente alegria em ver o outro cair em vez
de levantá-lo e incentivá-lo.
A doença de rosto de funeral: ou seja, das
pessoas rudes e carrancudas, que consideram que para ser sérias é necessário
pintar o rosto de melancolia, de severidade e tratar os outros - especialmente
aquelas consideradas inferiores - com rigidez, dureza e arrogância. Na
realidade, a severidade teatral e o pessimismo estéril são muitas vezes sintomas
de medo e insegurança sobre si mesmo. O apóstolo deve se esforçar para ser uma
pessoa educada, serena, entusiasmada e alegre, que transmite alegria onde quer
que esteja. Um coração cheio de Deus é um coração feliz que irradia alegria e
contagia todos os que estão ao seu redor. Portanto, não vamos perder esse
espírito alegre, cheio de humor, e até mesmo auto-irônico, que nos torna
pessoas amáveis, mesmo em situações difíceis.
A doença do acumular: quando o apóstolo
procura preencher um vazio existencial em seu coração acumulando bens
materiais, não por necessidade, mas apenas para se sentir seguro. Na verdade,
nada de material poderemos levar conosco, porque "a mortalha não tem
bolsos" e todos os nossos tesouros terrenos - mesmo se são presentes -
nunca vão preencher esse vazio. Para essas pessoas, o Senhor repete: “Como
dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és
um infeliz, e miserável, e pobre, e cego, e nu; sê pois zeloso, e
arrepende-te”. O acúmulo somente pesa e atrasa o caminho inexorável!
A doença dos círculos fechados: onde
pertencer a um pequeno grupo torna-se mais forte do que pertencer ao Corpo e,
em algumas situações, ao próprio Cristo. Também esta doença começa sempre com
boas intenções, mas com o passar do tempo escraviza os membros tornando-se
"um câncer" que ameaça a harmonia do Corpo e causa tanto mal -
escândalos - especialmente aos nossos irmãos menores. A auto-destruição ou
"fogo amigo" de soldados companheiros é o perigo mais insidioso. É o
mal que atinge a partir de dentro e, como disse Cristo: “Todo o reino, dividido
contra si mesmo, será assolado”.
E a última: a doença do lucro mundano, dos
exibicionismos: quando o apóstolo transforma o seu serviço em poder, e o seu
poder em uma mercadoria para obter lucros mundanos ou mais poderes. É a doença
das pessoas que procuram insaciavelmente multiplicar poderes e para este fim
são capazes de caluniar, de difamar e desacreditar os outros, até mesmo nos
jornais e revistas. Naturalmente, para se exibir e se demonstrar mais capaz do
que os outros. Também esta doença faz muito mal ao Corpo, porque leva as
pessoas a justificarem o uso de todos os meios para alcançar tal objetivo,
muitas vezes em nome da justiça e da transparência!
Irmãos, - concluiu no Papa - tais doenças e
tais tentações são, naturalmente, um perigo para cada cristão e para cada
cúria, comunidade, congregação, paróquia, movimento eclesial... etc. e podem
afetar seja o indivíduo seja a comunidade. É preciso esclarecer que somente o
Espírito Santo - a alma do Corpo Místico de Cristo, como afirma o Credo Niceno
Constantinopolitano: "Creio ... no Espírito Santo, Senhor que dá a
vida" – pode curar todas as doenças. É o Espírito Santo que sustenta todos
os esforços sinceros de purificação e toda boa vontade de conversão. É Ele que
nos fazer entender que cada membro participa da santificação do corpo e do seu
enfraquecimento. Ele é o promotor da harmonia. A cura é também o resultado da
consciência da doença e da decisão pessoal e comunitária de curar-se, sobretudo
com paciência e perseverança.
Fonte: Rádio Vaticana
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Você pode deixar seu comentário ou sua pergunta. O respeito e a reverência serão sempre bem vindas.