Eis que chegou para nós,
irmãos muito caros, o tempo em que devemos “cantar o amor e a justiça; para ti,
Senhor” (Sl 100,1). É o advento do Senhor, a vinda do Mestre
todo-poderoso, d'Aquele que é, que era e que há-de vir (Ap 1,8). Mas como
e onde há-de vir; como e onde vem? Não disse Ele: “Porventura não sou Eu que
encho o céu e a terra?” (Jr 23,24) Como virá então ao céu e à terra Aquele
que enche o céu e a terra? Escuta o Evangelho: “Ele estava no mundo e por Ele o
mundo veio à existência, mas o mundo não O reconheceu”. (Jo 1,10). Ele
estava, pois, simultaneamente presente e ausente; presente pois estava no
mundo; ausente porque o mundo não O conheceu. [...] Como não estaria distante
Aquele que não era reconhecido, em Quem não se acreditava, que não era
venerado, que não era amado? [...]
Ele vem, pois, para conhecermos Aquele que
não foi reconhecido; para acreditarmos n'Aquele em Quem não se acreditava; para
venerarmos Aquele que não foi venerado; para amarmos Aquele que não era amado.
Aquele que estava presente pela Sua natureza vem na Sua misericórdia. [...]
Pensai um pouco em Deus e vede o que representa para Ele abdicar de tão grande
poderio, como Se humilha tão grande poder, como Se fragiliza tão grande força,
como Se torna insensata tão grande sabedoria. Será por dever de justiça para
com o homem? Certamente que não! [...]
Na verdade, Senhor, não foi minha justiça,
mas a Tua misericórdia, que Te guiou; não foi a Tua indigência, mas a minha
necessidade. Efetivamente, Tu disseste: “a Sua fidelidade é eterna como o céu”
(Sl 88,3). E assim é, porque a miséria abundava sobre a terra. Eis porque “cantarei,
Senhor, a misericórdia” que manifestaste a quando da Tua vinda. [...] Quando Te
mostraste humilde na Tua humanidade, poderoso nos Teus milagres, forte contra a
tirania dos demônios, indulgente no acolhimento dos pecadores, tudo isso
proveio da Tua profunda bondade. Eis porque «cantarei, Senhor, a misericórdia»
que manifestaste a quando da Tua primeira vinda. E merecidamente, pois “Senhor,
a terra está cheia da Tua bondade” (Sl 118,64).
Fonte: Santo Elredo de
Rievaulx, monge cisterciense in “Sermão para o Advento”
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