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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Por que se celebra o nascimento de Jesus a 25 de Dezembro?


  Parece que os primeiros cristãos não celebravam os seus dias de nascimento. Celebravam o “dies natalis”, o dia da sua entrada na pátria definitiva, como participação na salvação operada por Jesus, ao vencer a morte com a sua paixão gloriosa (a sua morte corporal). Recordavam com precisão o dia da glorificação de Jesus, o 14/15 de Nisan, mas não a data do seu nascimento, de que nada nos dizem os dados evangélicos. Até ao século III não temos notícias sobre a data do nascimento de Jesus.

  Os primeiros testemunhos dos Padres e escritores eclesiásticos assinalam diversas datas. O primeiro testemunho indireto de que o nascimento de Cristo fosse a 25 de Dezembro oferece-o Sexto Júlio Africano no ano 221. A primeira referência direta à sua celebração é a do calendário litúrgico filocaliano do ano 354: VIII kal. Ian. natus Christus in Betleem Iudeae (“a 25 de Dezembro nasceu Cristo em Belém da Judeia”). A partir do século IV os testemunhos deste dia como datado nascimento de Cristo são comuns na tradição ocidental, enquanto que na tradição oriental prevalece a data de 6 de Janeiro. É possível que os cristãos vinculassem a redenção operada por Cristo com a sua concepção, e esta determinasse a data do nascimento.

  Uma explicação bastante difundida é a de que os cristãos optaram por esse dia porque, a partir do ano 274, se passou a celebrar em Roma a 25 de Dezembro o “dies natalis Solis invicti”, “o dia do nascimento do Sol invicto”, a vitória da luz sobre a noite mais longa do ano. Esta explicação apoia-se no fato da liturgia do Nascimento e os Padres da época estabelecerem um paralelismo entre o nascimento de Jesus Cristo e expressões bíblicas como «sol de justiça» (Ml 3, 20) e «luz do mundo» (Jo 1, 4ss). No entanto, não há provas de que fosse assim e parece difícil imaginar que os cristãos daquela época quisessem adaptar festas pagãs ao calendário litúrgico, especialmente porque até há bem pouco tempo tinham sofrido a perseguição. É possível, não obstante, que com o correr do tempo, a festa cristã fosse absorvendo a pagã. Outra explicação mais plausível faz depender a data do nascimento de Jesus da data da sua encarnação, que por sua vez se relacionava com a data da sua morte. Num tratado anônimo sobre solstícios e equinócios afirma-se que “Nosso Senhor foi concebido a 8 das kalendas de Abril no mês de Março (25 de Março), que é o dia da paixão do Senhor e o da sua concepção, pois foi concebido no mesmo dia em que morreu” (B. Botte, Les Origenesde la Noël et de l'Epiphanie, Louvain 1932, l. 230-33). 


  Na tradição oriental, apoiando-se noutro calendário, a paixão e a encarnação do Senhor celebram-se a 6 de Abril, data que coincide com a celebração do Nascimento a 6 de Janeiro. A relação entre paixão e encarnação é uma ideia que está em consonância com a mentalidade antiga e medieval, que admirava a perfeição do universo como um todo, onde as grandes intervenções de Deus estavam vinculadas entre si. Trata-se de uma concepção que também encontra as suas raízes no judaísmo, onde criação e salvação se relacionavam como mês de Nisan. A arte cristã refletiu esta mesma idéia ao longo da história ao pintar, na Anunciação da Virgem, o Menino Jesus descendo do céu com uma cruz. Assim, é possível que os cristãos vinculassem a redenção operada por Cristo com a sua concepção, e esta determinasse a data do nascimento. “O mais decisivo foi a relação existente entre a criação e a cruz, entre a criação e a concepção de Cristo” (J. Ratzinger).

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