O
Papa Francisco celebrou no final da tarde desta quinta-feira, na Igreja de
Santo Inácio de Loyola, centro de Roma, uma Missa de Ação de Graças pela
Canonização do Pe. José de Anchieta. O decreto que elevou o Apóstolo do Brasil
à glória dos altares foi assinado pelo Pontífice no último dia 3 de abril. Com
uma significativa presença de fiéis e religiosos brasileiros residentes em
Roma, a celebração teve a participação também de autoridades civis e da Igreja
no Brasil. A seguir, a homilia do Santo Padre:
Queridos
irmãos e irmãs,
Nesta quinta-feira da Oitava da Páscoa, em
que a luz do Cristo Ressuscitado nos ilumina com tanta clareza, demos graças a
Deus também por São José de Anchieta, o apóstolo do Brasil, recentemente
canonizado. É uma ocasião de grande alegria espiritual. No Evangelho que
acabamos de ouvir os discípulos não conseguem acreditar tamanha a alegria.
Olhemos a cena: Jesus ressuscitou, os discípulos de Emaús contaram sua
experiência, e depois o próprio Senhor aparece no Cenáculo e lhe diz: "A
paz esteja convosco".
Vários sentimentos irrompem no coração dos
discípulos: medo, surpresa, dúvida e, finalmente, alegria. Uma alegria tão
grande que "que não conseguiam acreditar" – diz o Evangelista.
Estavam atônitos, pasmos, e Jesus, quase esboçando um sorriso, lhes pede algo
para comer e começa a explicar-lhes, aos poucos, a Escritura, abrindo o
entendimento deles para que possam compreendê-la. É o momento do estupor, do
encontro com Jesus Cristo, em que tanta alegria não parece ser verdade; mais
ainda, assumir o regozijo e a alegria naquele momento nos parece arriscado e
sentimos a tentação de refugiar-nos no ceticismo, no "não exagerar".
É um relativizar tanto a fé que acaba por distanciar-nos do encontro, da
carícia de Deus. É como se "destilássemos" a realidade do encontro no
alambique do medo, da segurança excessiva, do querer nós mesmos controlar o
encontro. Os discípulos tinham medo da alegria... e também nós.
A leitura dos Atos dos Apóstolos fala-nos de
um paralítico. Ouvimos somente a segunda parte da história, mas todos
conhecemos a transformação deste homem, entrevado desde o nascimento, prostrado
na porta do Templo a pedir esmola, sem jamais atravessar a soleira, e como seus
olhos se fixaram nos apóstolos, esperando que lhe dessem algo. Pedro e João não
podiam dar-lhe nada daquilo que ele buscava: nem ouro, nem prata. E ele, que
sempre permaneceu na porta, agora entra com seus pés, pulando e louvando a
Deus, celebrando suas maravilhas. E sua alegria é contagiosa. Isso é o que nos
diz hoje a Escritura: as pessoas estavam cheias de estupor, e maravilhadas
acorriam, e em meio àquela confusão, àquela admiração, Pedro anunciava a
mensagem.
Porque a alegria do encontro com Jesus
Cristo, aquela que nos dá tanto medo de assumir, é contagiosa e grita o anúncio;
porque "a Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração"; a
atração testemunhal que nasce da alegria aceita e depois transformada em
anúncio. É uma alegria fundada. É uma alegria apostólica, que se irradia, que
se expande. Pergunto-me: Sou capaz, como Pedro, de sentar-me ao lado do irmão e
explicar lentamente o dom da Palavra que recebi? Sou capaz de convocar ao meu
redor o entusiasmo daqueles que descobrem em nós o milagre de uma vida nova,
nascida do encontro com Cristo?
Também São José de Anchieta soube comunicar
aquilo que tinha experimentado com o Senhor, aquilo que tinha visto e ouvido
d'Ele; e essa foi e é a sua santidade. Não teve medo da alegria. São José de
Anchieta tem um hino belíssimo dedicado à Virgem Maria, a quem, inspirando-se no
cântico de Isaías 52, compara com o mensageiro que proclama a paz, que anuncia
a alegria da Boa Notícia. Que Ela, que naquele alvorecer do domingo insone pela
esperança, não teve medo da alegria, nos acompanhe em nosso peregrinar,
convidando todos a se levantarem, para entrar juntos na paz e na alegria que
Jesus, o Senhor Ressuscitado, nos promete.
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